Roberta Manreza Publicado em 09/11/2015, às 00h00 - Atualizado às 09h39
Professor conta como briga entre alunas na rede social deu origem a um projeto sobre uso consciente do ambiente online
por Pedro Satiro – Porvir
“Eu vivo me aventurando fora da minha área. Sou formado em matemática e há dois anos fui designado para assumir a função de orientador de informática educativa. No começo de 2014, ao entrar na sala de aula de uma turma de 9ª ano, notei que os alunos estavam agitados, comentando sobre uma briga entre duas meninas do 4ª ano. Eles olhavam para os celulares e acompanhavam uma discussão online, onde as jovens trocavam ofensas públicas pela rede social. Eu tentei intervir, mas eles estavam muito eufóricos.
Aproveitei o momento para conversar com os alunos sobre o assunto e eles me contaram que esse tipo de situação era mais comum do que eu pensava. Após um período de discussão, chegamos à conclusão que muitos problemas de convivência escolar começavam na internet. Sabemos que muitas vezes os meninos usam as redes sociais sem ter a idade mínima exigida e os pais não acompanham isso.
Tivemos uma discussão muito rica na sala de aula e pensei que o tema poderia servir de gancho para os alunos desenvolverem o Trabalho Colaborativo de Autoria, uma atividade obrigatória para todos que concluem o ensino fundamental na rede pública de São Paulo. Eles ficaram empolgados e sugeriram que elaborássemos dicas para os alunos mais novos sobre o bom uso da internet.
Iniciamos o projeto, chamado Problemas do Território Virtu@l, com discussões na plataforma Edmodo. Publiquei algumas perguntas e eles começaram a comentar com discussões e pesquisas sobre o assunto. Por exemplo, o que pode existir de tão perigoso nas redes sociais para haver uma restrição de idade? Eu queria que eles refletissem sobre isso e percebessem outras questões além do cyberbullying.
Na sequência, publiquei um questionamento sobre o papel da família, da escola e da comunidade na orientação de crianças e jovens para o uso consciente da Internet em que eles começaram a sugerir diversas intervenções que poderiam ser feitas. Por fim, discutimos a importância do Dia da Internet e do Helpline (serviço de ajuda contra crimes e violações dos direitos humanos na rede). Após a leitura de tudo o que foi postado no ambiente colaborativo, tiramos as nossas primeiras conclusões e definimos as direções necessárias para a próxima etapa.
A gente tentou criar espaços onde os alunos poderiam explorar suas ideias iniciais a partir de discussões em fóruns. Tínhamos o papel de orientar e provocar. Organizamos os jovens em grupos de trabalho e eles começaram a sugerir ações sobre o tema com base nas suas próprias habilidades. Foram cartazes, palestras, teatros, paródias, histórias, músicas, roteiros de curtas e animações interativas, planejamento de gincana e jogos. Isso fez com que escola ganhasse um movimento de liberdade para criar. Foi uma aula além da aula.
Todos os trabalhos foram apresentados na escola durante a Semana da Criança, em outubro do ano passado. Os alunos interagiram e convidaram turmas de outros anos para participarem da atividade. Essa troca de informações entre alunos de diferentes idades foi interessante. Em um primeiro momento, os jovens estavam inseguros, mas depois que eles começaram já estavam mais soltos e com desenvoltura para falar sobre isso. Afinal, esse é o mundo que eles dominam e vivenciam todos os dias. É muito melhor eles falarem sobre internet para os outros colegas do que um professor.
Também fizemos apresentações do projeto para a comunidade no Dia da Família na Escola. Aproveitamos esse momento para falar com os pais sobre o assunto e orientar sobre o uso seguro da internet.
Esse projeto me fez perceber que só é possível ter bons resultados na escola quando se trabalha em parceria. Contei com o apoio de muitos colegas, mas o maior ganho foi ter a participação dos alunos. O mais interessante foi que, conforme os alunos interviam, o projeto foi tomando caminhos diferentes durante o ano. Se tivesse que definir a fórmula dessa prática, diria que ela foi baseada em pesquisa, parceria e tecnologia. Temos um grande desafio de estimular o trabalho coletivo e a criatividade com o uso da tecnologia”.
Confira o link para a descrição detalhada do desenvolvimento do projeto aqui.
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Dica: No próximo domingo (15/11), assista ao Papo de Mãe sobre Escola Emocional – como a escola pode ajudar a trabalhar as emoções dos alunos.
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