Professores da rede pública de SP aprendem a identificar distúrbios psicológicos

Roberta Manreza Publicado em 07/01/2015, às 00h00 - Atualizado às 09h32

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7 de janeiro de 2015


Camila Boehm – Agência Brasil  Edição: Valéria Aguiar

Foto: Arquivo Papo de Mãe

Professores da rede pública estadual paulista aprendem a detectar sinais de distúrbios psicológicos nos alunos, como depressão, déficit de atenção, transtorno bipolar, por meio de um curso promovido pela Secretaria da Educação em parceria com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O projeto Cuca Legal já chegou às escolas da capital, de Ribeirão Preto, Santos, Sorocaba e Taboão da Serra.

A proposta da secretaria é expandir a capacitação para todo o estado. Neste ano, 318 professores concluíram o curso, que é ministrado por psiquiatras, neurologistas e pedagogos. Em 2013, já haviam 90 capacitados.

O objetivo é que os profissionais saibam como abordar os estudantes, ofereçam ajuda e indiquem o tratamento na rede de saúde. O curso é destinado ao professor como mediador, um educador que já atua na identificação de vulnerabilidades no ambiente escolar e ainda desenvolve ações de prevenção e mediação de conflitos, como bullying e indisciplina.

Segundo o coordenador do Sistema de Proteção Escolar da secretaria, Felippe Angeli, a ideia é trabalhar a saúde a partir de uma visão integral, incluindo orientação física e psíquica, e também retirar o estigma, muitas vezes associado a distúrbios psicológicos. “Estamos formando esses professores para que conheçam um pouco melhor a saúde mental e, caso identifiquem algum sinal que possa ocasionar problema, eles serão  encaminhados para o serviço de saúde competente”, disse.

Em uma das etapas, por exemplo, os professores são estimulados a olhar com cuidado os alunos extremamente quietos. Os estudantes mais agitados costumam chamar a atenção facilmente, porém aqueles que falam pouco também podem ter algum conflito que não conseguem compartilhar.

“O papel do professor não é, e não pode ser, o de fazer diagnóstico de doença. Mas contribuímos para que ele atue como ponte para o bem-estar do jovem”, completa Angeli. O projeto está associado a uma pesquisa acadêmica, na Unifesp, que investiga as melhores formas de trabalhar a questão com profissionais que não têm formação na área de saúde.

O idealizador do projeto Cuca Legal, o psiquiatra Rodrigo Bressan, afirmou que entre 14% e 20% das crianças têm algum diagnóstico psiquiátrico identificável, que geralmente tem pequena gravidade, mas já seria o suficiente para atrapalhar o desenvolvimento do aluno. “Então é fundamental que se identifique os problemas para que se possa tratar precocemente e prevenir consequências mais graves”, disse.

Para o psiquiatra, as consequências incluem queda no rendimento escolar, acompanhada do sentimento de ser mau aluno; chance de sofrer bullying e ainda problemas de sociabilidade, em que o jovem fica sem amigos e limitado do ponto de vista social.

Se identificada tardiamente, “a doença tem maior chance de tornar-se crônica e persistir na idade adulta, além de tornar-se refratária [que não responde ao tratamento] com medicação ou terapia.  A intervenção precoce evita o uso de medicações”, acrescenta.

“A orientação e sensibilização dos professores é fundamental”, conta Bressan. O projeto, ao longo dos dois últimos anos, demonstrou que os profissionais da educação podem aprender sobre a saúde mental, detectando sintomas e o encaminhamento para o serviço de saúde competente.

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