Punição corporal afeta o desenvolvimento das crianças

Roberta Manreza Publicado em 25/02/2015, às 00h00 - Atualizado às 15h15

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25 de fevereiro de 2015


EBC – Fonte: Enciclopédia sobre o Desenvolvimento da Primeira Infância

Uma grande proporção de pais utiliza a punição corporal para tentar administrar o comportamento de seus filhos, mas existem poucas evidências de que isso resulte em um comportamento melhor (com exceção da obtenção de uma obediência imediata). Além disso, existe um grande número de evidências que indica que a punição corporal tem a consequência involuntária de aumentar futuros problemas comportamentais das crianças, em vez de diminuí-los.

Em um estudo sobre o uso de punição corporal por parte dos pais com crianças com idade entre 2 a 4 anos, feito com 30.470 famílias de 24 países em desenvolvimento, 63% dos cuidadores primários relataram que alguém em seu lar tinha punido fisicamente seu filho no último mês. Em todos esses 24 países, 29% dos cuidadores relataram que acreditavam ser necessário usar punição corporal para educar adequadamente uma criança. Em outro estudo com 1.417 famílias com crianças entre 7 a 9 anos de idade realizada em 9 países, mais da metade das crianças tinha sido punida fisicamente no último mês. Mesmo com essa amostra de crianças mais velhas, 17% dos pais em todos os países acreditavam que era necessário utilizar punição corporal para educar seus filhos.

Uma grande parte das pesquisas sugere que o fato de sofrer punições corporais está relacionado a uma variedade de futuros problemas de adequação.

Em uma metanálise de 88 estudos, observou-se que a experiência de punição corporal durante a infância está relacionada a mais problemas de agressão na idade adulta, problemas criminais e de comportamento antissocial e de saúde mental, e posterior abuso de um dos cônjuges ou em seus próprios filhos. Na metanálise, o único resultado positivo previsto na criança devido à punição corporal foi a imediata obediência da criança.

A punição corporal também predispõe a uma série de problemas cognitivos, incluindo índices mais baixos de QI. Entretanto, esses resultados continuam sendo controversos, com alguns pesquisadores argumentando que o vínculo entre punição corporal e problemas de adequação infantil resultam não porque a punição corporal causa mais resultados problemáticos à criança, mas porque a maior incidência de problemas comportamentais da criança dão margem ao surgimento de todos os tipos de disciplina, incluindo punição corporal por parte de seus pais.

A American Academy of Pediatrics (Academia Americana de Pediatria) emitiu uma declaração política afirmando que o uso da punição corporal apresenta uma “eficácia limitada e tem efeitos colaterais potencialmente nocivos”, e recomenda que “os pais sejam estimulados e assistidos no desenvolvimento de métodos que não o espancamento para administrar comportamentos indesejados.” Além da atuação em nível dos pais individualmente, as Nações Unidas, a Organização Mundial da Saúde e outros órgãos internacionais têm feito campanhas para que os países proíbam o uso de punição corporal em todos os contextos.

No Brasil, a Lei Menino Bernardo, aprovada em junho de 2014, proíbe o uso de castigos físicos e de tratamento cruel ou degradante como formas de correção, disciplina e educação de crianças e adolescentes.

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