Em uma declaração de política atualizada sobre castigos corporais, a Academia Americana de Pediatria aponta para evidências crescentes que apoiam seu chamado para proibir a disciplina física. As novas diretrizes, publicadas no Pediatrics, também abordam os danos associados à punição verbal, como vergonha ou humilhação.
Roberta Manreza Publicado em 27/10/2019, às 00h00
Por Dr. Moises Chencinski*, pediatra e homeopata
Em uma declaração de política atualizada sobre castigos corporais, a Academia Americana de Pediatria aponta para evidências crescentes que apoiam seu chamado para proibir a disciplina física
A punição corporal – ou o uso da surra – como uma ferramenta disciplinar, aumenta o nível de agressão em crianças pequenas, a longo prazo, e é ineficaz no ensino da responsabilidade e do autocontrole da criança. De fato, novas evidências sugerem que os castigos físicos podem causar danos às crianças, afetando o desenvolvimento normal do cérebro. Outros métodos que as ensinem a reconhecer seus erros são mais seguros e eficazes.
A Academia Americana de Pediatria (AAP) reforça o seu apelo para proibir a punição corporal publicando uma declaração de política atualizada sobre o tema,“Disciplina Eficaz para Criar Crianças Saudáveis”, que foi apresentada durante a Conferência Nacional da Academia Americana de Pediatria-2018.
As novas diretrizes, publicadas no Pediatrics, também abordam os danos associados à punição verbal, como vergonha ou humilhação. A AAP apoia a educação dos pais sobre estratégias de disciplina mais eficazes que ensinem o comportamento apropriado e protejam a criança e outras pessoas de danos.
Segundo os autores do documento, “a boa notícia é que menos pais, hoje, apoiam o uso da surra do que no passado”. No entanto, castigos corporais continuam sendo legais em muitos estados americanos, apesar das evidências de que isso prejudica as crianças – não apenas física e mentalmente, mas em como elas se saem na escola e em como elas interagem com outras crianças.
Função dos castigos
“A punição corporal e o abuso verbal severo podem fazer com que a criança tenha medo, a curto prazo, mas não melhora o ‘mau comportamento’, a longo prazo, e pode levar a mais agressividade. Um estudo da entidade americana com crianças pequenas que foram espancadas mais de duas vezes por mês, aos 3 anos de idade, revelou que as crianças se tornaram mais agressivas aos 5 anos de idade. Essas mesmas crianças, com 9 anos, ainda exibiam comportamentos negativos e escores de vocabulário mais baixos”, afirma o pediatra e homeopata Moises Chencinski (CRM-SP 36.349).
A pesquisa mostrou ainda que espancar uma criança, gritar com ela ou envergonhá-la pode elevar os hormônios do estresse e levar a mudanças na arquitetura do cérebro. O abuso verbal severo também está ligado a problemas de saúde mental em pré-adolescentes e adolescentes.
Os especialistas da APP esperam ajudar as famílias a elaborar planos disciplinares mais eficazes que ajudem as crianças a manter um comportamento calmo e controlado. A orientação da entidade médica é “começar com a premissa de recompensar o comportamento positivo. Os pais podem estabelecer regras e expectativas de conduta com antecedência. A chave é ser consistente e seguir com eles”.
Pediatras podem orientar as famílias
A AAP recomenda que os pediatras usem sua influência, durante as consultas médicas, para ajudar os pais a traçarem estratégias adequadas de disciplina, levando em conta a idade das crianças. Os profissionais também podem encaminhar as famílias aos serviços especializados para obter ajuda mais intensiva ou direcionada.
O novo documento fornece recursos educacionais onde médicos e pais podem aprender formas saudáveis de disciplina, como definição de limites, redirecionamento e definição de expectativas. A AAP também se opõe à punição corporal nas escolas, tema já abordado em uma declaraçãopublicada em 2000.
“Não há nenhum benefício nos castigos físicos e nos abusos verbais. Sabemos que as crianças crescem e se desenvolvem melhor com modelos positivos de papéis e com o estabelecimento de limites saudáveis. Todos podemos fazer melhor: pais e pediatras”, defende Chencisnki.