Quando e como os pais podem voltar a estudar?

Roberta Manreza Publicado em 19/01/2016, às 00h00

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19 de janeiro de 2016


Com o aumento da escolarização no Brasil, é muito provável que os filhos avancem mais nos estudos que os pais. Saiba como incentivá-los e até como aprender com eles

Foto: Aline Casassa

Os pequenos dão “um banho” quando o assunto é falar em inglês? Quando eles mostram o que estão aprendendo em Matemática parece grego para você? Pois saiba que entre o período em que você estava nos bancos da escola e o ensino nos dias de hoje, muuuuita coisa mudou. Novas metodologias para ensinar cada disciplina surgiram. E mais: em um mundo mais globalizado e com tecnologias como a internet não há como negar que as crianças têm um acesso muito maior a todo tipo de informação.

Além disso, há outro fator muito importante e comprovado pelas estatísticas: a cada nova geração o nível de escolarização dos brasileiros tem aumentando. Para ter uma ideia, os dados mais recentes da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio (PNAD) do IBGE mostram que a taxa de escolarização da população com idade entre 7 e 22 anos aumentou de 62,4% em 1992 para 75,2% em 2009. Isso significa que os filhos estão indo mais longe e tendo melhores chances de estudo que seus pais. Diante dessa realidade, fica a pergunta: como apoiar as crianças nos estudos quando se tem dificuldades em relação ao conteúdo que está sendo ensinado? Ou, em alguns casos, como dar a eles o exemplo de que é importante e vale a pena estudar quando não se teve oportunidade de frequentar por muito tempo a escola?

“Não há dúvidas de que os pais são um modelo de vida para os filhos. Mas há muitas maneiras de eles incentivarem as crianças nos estudos, mesmo que sua experiência de vida tenha sido diferente”, afirma a psicopedagoga Ana Cassia Maturano, profissional formada pela Universidade de São Paulo (USP) e especializada em problemas de aprendizagem. Um dos caminhos pode ser – por que não? – voltar a estudar. Afinal, várias pesquisas mostram que quanto mais escolarizados forem os pais, mais serão os filhos. “Já ouvi casos até de avós que voltaram a estudar na terceira idade para estimular filhos e netos que já não estavam motivados a ir à escola. Creio que esse é um grande incentivo, especialmente quando se trata de jovens na fase da adolescência”, diz a socióloga Helena Singer, diretora da Associação Cidade Escola Aprendiz, organização que desenvolve programas e projetos em diversas áreas do país com foco em educação integral.

Veja as dicas dos especialistas:

1. Entenda que estudar vale para a vida inteira –“Já estou velho para isso”. “Voltar a estudar na minha idade? Para quê?” Quem pensa assim está muito enganado. “Aprender é algo que não tem fim. Em qualquer momento da vida podemos estudar e aprender coisas novas. É algo que não depende da idade”, explica a psicopedagoga Ana Cassia Maturano. E o aprendizado tem inúmeras finalidades: aumentar sua bagagem cultural, melhorar suas oportunidades profissionais e até mesmo realizar um sonho antigo. Esse foi o caso de Chames Sales Rolim, uma senhora de 97 anos que chamou a atenção no noticiário no ao formar-se em Direito em Minas Gerais. Que melhor exemplo ela poderia dar para seus 9 filhos, 28 netos e 16 bisnetos?

2. Programe a volta à escola – Há circunstâncias e momentos em nossas vidas que podem nos afastar da escola. Mas sempre dá para programar o retorno. Pais que não puderam concluir o ensino fundamental ou ensino médio, por exemplo, podem procurar escolas que possuam classes de Educação Para Jovens e Adultos (EJA). Geralmente são cursos noturnos e que permitem conciliar trabalho e estudo.  Dificuldades financeiras, a chegada dos filhos ou outros fatores também podem postergar os estudos. “Quando tive meus filhos, coloquei o pé no breque nos estudos. Quando eles já estavam maiorzinhos, voltei a estudar. Um dia encontrei uma professora na rua e vi que meu filho ficou maravilhado de saber que eu também estudava e também tinha uma mestra. Com certeza, foi um exemplo para ele”, explica a psicopedagoga Ana Cassia Maturano.

3. Estude e aprenda junto com seu filho – Mesmo que você não domine o conteúdo que o seu filho está estudando, você pode incentivá-lo nos estudos ao se interessar pelo que ele está aprendendo. E nesse processo você pode recordar o que aprendeu no passado ou mesmo aprender coisas novas. “Qualquer que seja a bagagem de conhecimentos dos pais, eles sempre podem ajudar a criar um clima favorável para os estudos em casa. Podem e devem valorizar o esforço do filho de estudar”, diz a socióloga Helena Singer, diretora da Associação Cidade Escola Aprendiz. E isso não vale apenas para a lição de casa ou assuntos da escola. É uma postura que pode ser ampliada para outros temas sobre os quais seu filho manifestar interesse em saber. Por exemplo: se ele pergunta por que o céu é azul e você não sabe responder, proponha que vocês façam uma pesquisa juntos para descobrir a resposta.

4. Estudar não é só frequentar colégio ou faculdade – Voltar a estudar não significa apenas se matricular em um colégio ou em uma faculdade. Há muitas outras formas de realizar isso. “Ler livros pode ser uma forma de estudar e aprender. Os pais também podem procurar cursos de curta duração que sejam dados na região onde moram. Não é raro encontrar opções gratuitas, oferecidas pelas prefeituras. Muita gente tem a ideia de que voltar a estudar depende apenas de ter tempo e dinheiro. Mas há outros meios de adquirir e reciclar conhecimentos”, explica a psicopedagoga Ana Cassia Maturano.

5. Valorize seus conhecimentos e os divida com seus filhos – Os pais podem não possuir diplomas ou não ter tido oportunidades de estudo como as que os filhos têm hoje. Mas isso não quer dizer que eles não tenham conhecimentos valiosos ou experiências de vida importantes que possam ser divididas com seus filhos. Para a socióloga Helena Singer, diretora da Associação Cidade Escola Aprendiz, é preciso valorizar os conhecimentos que esses pais têm. “Vemos isso hoje com a crise ambiental que estamos vivendo, por exemplo. Os mais antigos, especialmente de famílias que vêm do campo, podem ter conhecimentos não acadêmicos muito importantes sobre o uso responsável da terra e da água. É o tipo de conhecimento e ensinamento que deveria ser dividido com os filhos. As escolas deveriam propiciar essa troca de conhecimentos e valorizar os saberes das antigas gerações”, afirma Helena. Em casa, os pais podem propor aos filhos que pesquisem e conversem sobre a história da família, sobre os conhecimentos e habilidades das antigas gerações.

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