Se queremos mudar esse jogo, precisamos disseminar a ideia da igualdade de direitos e oportunidades em todos os lugares, começando pela nossa casa e a educação dos nossos filhos.
Roberta Manreza Publicado em 05/08/2019, às 00h00 - Atualizado às 18h38
Por Claudio Henrique dos Santos*, escritor
Sou pai de uma menina, filha única. E à medida em que ela cresce e vai ficando mais independente, aumenta minha preocupação ao ver o nível crescente de violência contra as mulheres – uma epidemia que parece ter tomado conta de todo o planeta, mesmo nos países ditos mais desenvolvidos.
Como uma pessoa atenta a tudo o que acontece à minha volta acredito que ainda estamos reproduzindo os mesmos padrões com os quais fomos educados: uma cultura machista, que apresenta os homens como seres superiores às mulheres. Podemos entrar em qualquer lugar sem pedir licença e podemos ter o que quisermos. Reproduzir este modelo somente nos leva a perpetuar a desigualdade de gênero. E a violência contra a mulher é a maior e mais cruel expressão desse fenômeno.
Uma boa parcela das organizações e da sociedade está engajada no tema da equidade de gênero. Muitos governos em todo o planeta têm adotado políticas públicas que atenuam a desigualdade e as empresas que abraçaram a diversidade e a inclusão têm feito a sua parte. Mas como indivíduos, o que podemos fazer?
Se queremos mudar esse jogo, precisamos disseminar a ideia da igualdade de direitos e oportunidades em todos os lugares, começando pela nossa casa e a educação dos nossos filhos. Para que um homem venha a respeitar uma mulher no futuro, faz-se necessário que ele exerça esse respeito desde criança. E nós, como pais e educadores, temos que assumir a responsabilidade de fazer este trabalho.
#1. Homem também chora
Esse é o tipo de atitude que leva os meninos a crer que somos mais fortes e corajosos do que as mulheres. Todos nós, homens e mulheres, temos sentimentos. Escondê-los não é a melhor saída para enfrentar a dor. Assim como os adultos, meninos ficam tristes, magoados, se machucam. Precisamos ensinar aos meninos que eles podem pedir ajuda quando sentirem-se acuados. E que compartilhar os sentimentos também é um ato de coragem.
#2. Não existe brinquedo apenas de menino.
Da mesma forma que as meninas hoje gostam de bola, carrinhos, videogames e jogos de montar, por que o seu filho não poderia se interessar por uma boneca, um jogo de panelas ou um bichinho de pelúcia? Homens não cozinham, não cuidam dos filhos? Além disso, brincar com qualquer tipo de brinquedo também ajuda na socialização, afinal ele pode divertir-se com 100% das crianças e não apenas com os outros meninos.
#3. Azul e rosa são cores de todo mundo
O mesmo raciocínio anterior vale para as cores. Quem inventou esse negócio que azul é de menino e rosa de menina? Tem alguma lei dizendo isso? Cores são apenas cores. Eu uso roupa da cor que eu mais gosto. Por que isso não valeria também para o meu filho? Minha filha, por exemplo, não usa rosa, nem vestido. Ela escolhe o que gosta de vestir. E nós respeitamos isso.
#4. Homem não precisa brigar, lutar ou falar mais alto
Um menino deve saber respeitar sua integridade física e a de quem está a sua volta. Estimular brigas, jogos de lutas, apenas torna “normal” um homem praticar um ato de violência. Quando morei nos Estados Unidos eu ouvi muito a frase “boys will be boys” (numa tradução aberta, “meninos serão sempre meninos”). Acreditar nisso é reproduzir a ideia de que a violência é algo natural nos homens e que não pode ser controlada. É natural sentir raiva, mas existem outras maneiras de extravasá-la. Nada justifica a violência.
#5. Nunca toque outra criança sem consentimento
É muito importante ensinar regras de convivência para os meninos. Eles devem entender que é preciso sempre pedir permissão para tocar outra criança. Posso pegar na sua mão? Posso te dar um abraço? E outro ponto a ser enfatizado: eles devem aprender a ouvir não. Vale para esta situação de tocar alguém, mas vale para toda a vida, em todas as situações. Nem sempre fazemos tudo o que queremos. As frustrações fazem parte da vida. Saber aceitar um não também faz parte do jogo.
#6. Respeite as meninas do jeito que elas são
Algumas meninas podem ser mais frágeis, mas os meninos devem aprender que elas não precisam de proteção, mas de respeito. A aparência das meninas também não é algo que precisa ser julgado. Assim como os meninos, algumas são altas, outras baixas. Elas podem ser elegantes ou desajeitadas, gordas ou magras. Também vale a pena ensiná-los que meninas não são apenas objetos para contemplação masculina, que julgamos apenas pela beleza estética. Elas podem ser espertas, inteligentes, corajosas, companheiras, divertidas, como qualquer menino. E que a aparência delas realmente não é o que importa.
Estas são algumas reflexões sobre conceitos que podemos transmitir aos nossos meninos, visando uma educação mais igualitária e livre de preconceitos. Isso pode ser feito de uma maneira natural, sem imposições, com muita conversa – o que, aliás, é a base de qualquer relação. A maneira como nos portamos, como adultos, já é um grande exemplo para nossos filhos. Pense bem nisso.
*Claudio Henrique dos Santos é jornalista, escritor e palestrante, autor do livro “Macho do Século 21”