Sexto sentido materno

Roberta Manreza Publicado em 29/03/2016, às 00h00 - Atualizado em 04/08/2016, às 17h12

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29 de março de 2016


Por Carolina Ambrogini*, ginecologista, obstetra e sexóloga

Ao engravidar, colocamos em prática nossa função biológica mais importante como fêmeas. É a natureza agindo em nosso corpo. Talvez, por isso, todos os nossos sentidos fiquem mais aguçados com a maternidade. Precisamos de olhos treinados para avistar, prontamente, nossa criança entre outras mil que brincam no parque; de ouvidos afiados para saber que tipo de choro nos chama; de tato rápido para evitar a queda; de paladar que se adapte ao sabor do que é saudável. Até o olfato, nosso sentido mais primitivo, é capaz de sentir e reconhecer o cheiro único e mais gostoso do universo: o da nossa cria.

Nós nos tornamos verdadeiras felinas, capazes de tudo para o bem-estar dos filhotes. E desenvolvemos um sexto sentido: a intuição, que pode ser explicada pela ciência como uma integração dos cinco sentidos e a mente racional.

No cérebro, o hemisfério direito é responsável pelas emoções e o esquerdo, pelo racional. Porém, existe uma estrutura cerebral chamada de corpo caloso, onde ocorrem as trocas de informações desses dois hemisférios. Por meio de estudos com ressonância magnética, os cientistas observaram que as mulheres têm maior número de transmissões no corpo caloso, favorecendo o cruzamento de informações emocionais e racionais. O resultado seria a capacidade de ter fortes sensações direcionadas a determinados assuntos ou pessoas, que normalmente se confirmam, provando que o cérebro captou mensagens subliminares que passam despercebidas racionalmente e vêmcomo intuições. As mulheres apresentariam essa habilidade mais pronunciada porque são capazes de entrar em contato com o lado emocional do cérebro mais facilmente, desde a infância.Dessa forma, têm uma sensibilidade maior a essas percepções.

Com a maternidade, além dos cinco sentidos se tornarem proeminentes, o sexto nos torna aptas a perceber algo a mais, principalmente em relação aos nossos filhos. Mesmo que a ciência não explicasse, você saberia que ele existe ao senti-lo pela primeira vez.

Parece divino e extraordinário sermos capazes de pressentir uma situação, mesmo a distância. Muitas vezes, só o tom da voz ou a expressão do nosso filho é o bastante para sabermos como andam as coisas. Ao nos tornarmos mães, também entramos em contato com nossas emoções mais profundas e, desse mergulho, vem uma sensibilidade maior, algo mágico, mesmo.

Só tenha cuidado para não confundir o sexto sentido como medo irracional de que tragédias aconteçam. Isso não é intuição, é neurose, OK? Geralmente, quem tem muito medo e tendência à superproteção é bastante ansioso. E a ansiedade não traz a calma necessária para a intuição surgir, pelo contrário,embaralha as informações. Algumas técnicas de meditação e ioga ajudam na percepção das intuições, pois fazem com que nos voltemos para dentro. Outra opção é a natação, que traz um isolamento dentro da água, ajudando a colocar os pensamentos em ordem. Ter momentos de calma no seu dia também é fundamental. Tire um tempinho para um café, relaxe, feche os olhos, respire, escute-se.

Você é cética, não acredita em sexto sentido materno? Preste atenção na próxima vez que enfrentar um perrengue ou passar por um momento de grande alegria para ver se a sua mãe não te liga!

*Dra. Carolina Ambrogini é ginecologista, obstetra, sexóloga e mãe de 2 filhos. Coordena o Projeto Afrodite, da Universidade Federal de São Paulo e é colaboradora do Portal Papo de Mãe. 

**Este texto foi publicado na Revista Crescer e autorizado pela autora para divulgação.

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