Síndrome do Ovário Policístico e mulheres em idade reprodutiva

A Síndrome do Ovário Policístico afeta entre 5% a 10% mulheres no mundo em idade reprodutiva. Os riscos, tratamentos e gravidez para quem tem essa doença.

Roberta Manreza Publicado em 03/09/2018, às 00h00 - Atualizado às 10h38

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3 de setembro de 2018


Por Dra. Carla Iaconelli, ginecologista e especialista em reprodução humana

SOP afeta entre 5% a 10% mulheres no mundo em idade reprodutiva

O diagnóstico da Síndrome do Ovário Policístico (SOP) é realizado quando a paciente apresenta ao menos duas destas três características:

1-   Ciclos menstruais irregulares. A paciente com SOP não ovula todos os meses, portanto apresenta anovulação crônica, o que faz com apresente sangramentos com intervalos maiores de 45 dias.

2-   Aumento dos níveis de hormônio masculino ou sinais de hiperandrogenismo, como hirsutismo (aumento dos pelos do corpo e do rosto).

3-   Ovários de padrão micropolicístico na ultrassonografia: É importante ressaltar que se a paciente tem ovários com policísticos, não significa que tenha síndrome. Muitas pacientes ao realizarem uma ultrassonografia ficam assustadas com o resultado, mas apenas será diagnosticada portadora da síndrome se houver mais um dos 03 itens listados acima. Ultrassom em 3D de paciente com ovários micro policísticos.

Com três perguntas, Dra. Carla Iaconelli, ginecologista e especialista em reprodução humana, responde com objetividade os riscos, tratamentos e gravidez para quem tem essa doença. Confira:

1-   Quais são os riscos de ter SOP?

O ciclo menstrual precisa ter as duas fases. A primeira onde o hormônio predominante é o estrogênio e a segunda fase, que se inicia após a ovulação, com a progesterona como hormônio principal. A anovulação (falta de ovulação) pode resultar em exposição contínua do endométrio (camada interna do útero) ao hormônio ovariano da primeira fase do ciclo (antes da ovulação), que é o estrogênio. O estrogênio pode causar aumento excessivo da espessura da camada endometrial, o que pode levar a paciente ter sangramento anormal e até aumento de chance de câncer de endométrio.

A paciente com SOP tem maior probabilidade de ter síndrome metabólica, que é caracterizada por obesidade, aumento da circunferência abdominal, aumento do colesterol, hipertensão arterial, resistência a insulina e diabetes mellitus. E também o risco de doença cardíaca.

Obesidade está presente em 50% das pacientes com SOP. Dieta, exercícios físicos e perda de peso aumentam a frequência de ciclos ovulatórios, aumentam a probabilidade de gravidez, reduzem o risco de diabetes e reduzem os níveis de hormônios masculinos.

2-   Tenho SOP e quero engravidar, como é o tratamento?

Avaliação médica, nutricional, exercícios físicos e hábitos saudáveis são essenciais ao tratamento. Se a paciente estiver acima do peso, deve primeiro emagrecer. A perda de peso pode trazer com ela a volta dos ciclos ovulatórios e da fertilidade.

Se estiverem tentando há mais de um ano, sem resultado, é importante consultar um especialista em medicina reprodutiva para avaliar o casal. Não é recomendado tomar nenhum remédio para induzir a ovulação sem indicação e acompanhamento médico e ultrassonografico.

A indução de ovulação pode ser feita com medicamentos de uso via oral como o citrato de clomifeno. Muitas pacientes não respondem a esta medicação e podem ter que tomar gonadotrofinal, de uso injetável sub-cutaneo. Porém as gonadotrofinas estão associadas o maior risco de gestação múltipla e síndrome de hiperestímulo ovariano.

A Fertilizacão in Vitro pode ser uma opção para essas pacientes, pois há maior controle sobre o número de embriões a serem transferidos, prevenindo a ocorrência de gestação múltipla.

3-   Como é o tratamento de pacientes com SOP que não querem engravidar?

O tratamento de SOP deve ser individualizado, sempre com acompanhamento médico regular. Avaliação nutricional, exercícios físicos e hábitos saudáveis são essenciais ao tratamento.
Para pacientes que não desejam engravidar, o tratamento hormonal com pílulas anticoncepcionais são uma boa opção, reduz o hirsutismo e a acne, mantém o ciclo menstrual regular, previne câncer de endométrio, e gestação.

O médico pode associar os anticoncepcionais com medicamentos anti-androgênicos como a espironolactona para melhorar o hirsutismo. Também podem fazer uso de procedimentos estéticos como laser para eliminação dos pelos em excesso.
Medicamentos que melhoram a resistência à insulina como a metformina, podem ajudar algumas pacientes a terem ciclos ovulatórios e talvez ajude a prevenir o desenvolvimento de diabetes e síndrome metabólica.