Roberta Manreza Publicado em 20/10/2016, às 00h00
Por Armando Ribeiro das Neves Neto, psicólogo
Tocar é um gesto de amor! Segurar uma criança no colo, ajudar um idoso a se levantar, dar um abraço num amigo. Por que é tão importante ter este contato físico? O que isso gera para o nosso bem-estar?
O contato físico (com afeto e respeito ao outro) é um poderoso estimulante para o desenvolvimento neuropsicológico e imunitário das crianças pequenas aos mais idosos, porque o afago induz em nosso cérebro a liberação de importantes neurohormônios (ex. serotonina, ocitocina e dopamina, por exemplo) capazes de estimular o nosso bem-estar e qualidade de vida. Estudos conduzidos pelo Instituto de Pesquisas do Toque na Universidade de Miami (EUA) descobriram que o toque em bebês prematuros pode auxiliar no seu desenvolvimento saudável e em idosos pode aliviar sintomas depressivos e diminuir o uso de medicamentos para a dor crônica.
A falta de contato físico pode implicar na diminuição do sentimento de aceitação e pertencimento a um grupo social (ou familiar), estimulando a produção dos hormônios do estresse (ex. cortisol e adrenalina). Mas não é de qualquer contato físico de que precisamos, novas pesquisas sustentam a afirmação de que a qualidade e a intenção do contato físico é tão importante quanto o ato em si mesmo. Um contato forçado pode até agravar sintomas físicos e emocionais (ex. irritabilidade, angústia, tristeza, medo, fobias e etc.).
O contato físico é tão saudável entre pessoas e mesmo quando ocorre com os animais de estimação. Abraçar o seu cachorro pode ser um antidoto natural para as tensões do dia-a-dia, tanto para o ser humano quanto para o ser cão. O que não pode é ser um contato forçado ou desinteressado, o contato físico é tão poderoso que encontrar a dose ideal para cada um é o segredo para o bom uso deste comportamento.
O toque, por exemplo, é importante como uma estratégia para humanizar o atendimento médico. O contato físico (com respeito e afetuosidade) é essencial em um sistema médico cada vez mais distante da relação médico-paciente ideal e com menos tempo na duração das consultas, mas é preciso salientar que não é qualquer tipo de toque, pois para alguns pode sinalizar acolhimento e proteção, enquanto para outros ameaça e invasão da intimidade. O melhor caminho é desenvolver a empatia que poderá ajudar na escolha do toque ideal para cada um.
Crianças abandonadas em orfanatos após a segunda guerra mundial, que não tinham a possibilidade de serem tocadas por cuidadores, desenvolveram a depressão anaclítica (privação afetiva), ou seja, atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, infecções recorrentes e problemas graves de saúde física e emocional. Atualmente, chamamos de “hospitalismo” a privação afetiva grave que pode ser decorrente de grandes períodos de internação em hospitais que não garantem um contato de qualidade com as mães, pais e demais cuidadores.
O abraçar o outro de forma forte também gera acolhimento, segurança. Um abraço acolhedor pode liberar ocitocina, dopamina e serotonina. Algumas pesquisas já demonstraram que o contato físico de qualidade pode: relaxar os músculos, aliviar a dor, melhorar a circulação, aliviar a cefaleia, reduzir a ansiedade e o stress, aumentar a energia e disposição, melhorar a concentração e etc.
O abraço é um ato de amor, mas precisa ser consentido e respeitar os limites e desejos de cada um para não virar uma forma de relação abusiva.
*Armando Ribeiro das Neves Neto é psicólogo, palestrante e especialista em Gestão do Estresse, Bem Estar e Qualidade de Vida. Participou como especialista convidado nos Papos sobre depressão, Vestibular e 18 anos dos filhos.
**Texto modificado da entrevista concedida à jornalista Francine Moreno.
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Assista ao Papo de Mãe sobre Depressão, que contou com a presença do psicólogo Armando Ribeiro
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