6 de fevereiro de 2012
Olá a todos!
No programa de ontem falamos sobre a importância da saúde da voz e sobre os principais problemas que podem acometer a fala de nossos filhos.
Língua presa, língua solta, troca de fonemas, rouquidão, calos vocais, gagueira e mais uma série de outros transtornos merecem a nossa atenção. Quanto mais cedo identificado o problema, maiores as chances de cura.
E como pudemos constatar no programa, seja qual for o distúrbio, existe tratamento. Basta procurarmos ajuda e não esperarmos que o “tempo” o corrija. As crianças em idade escolar podem ter muitas dificuldades de relacionamento e aprendizado por conta dos distúrbios da fala e, não raras as vezes, necessitarem de um acompanhamento psicológico, além do fonoaudiológico.
O primeiro profissional a ser consultado deve ser o pediatra da criança. Ele saberá orientar os pais sobre qual o profissional deve ser procurado. Pode ser que, num primeiro momento, a criança passe por uma avaliação com o otorrinolaringologista e, depois, siga para o fonoaudiólogo, mas tudo isso vai depender de cada caso.
A
Dra Leny Kyrillos, fonoaudióloga especialista em voz, que esteve presente em nosso programa, preparou este esquema básico sobre o desenvolvimento da comunicação infantil. A partir dele é possível termos uma noção do desenvolvimento da linguagem na criança. Vale lembrar que, ao longo da semana, continuaremos a debater o tema aqui no blog e vocês terão acesso a mais informações sobre os problemas, cuidados e tratamentos dos transtornos da voz e da fala.
DESENVOLVIMENTO DA COMUNICAÇÃOPor Leny Kyrillos*
Áreas consideradas: Fala – articulação; Linguagem; Audição; Fluência; Voz; Motricidade oral e funções; Código gráfico
Fatores facilitadores: exposição à linguagem e à fala (modelo); interação com o meio (construção do vocabulário); condições orgânicas favoráveis (inteligência, integridade sensório-motora e neurológica); motivação interna (desejo e necessidade de se comunicar)
Fala – articulação:a aquisição dos fonemas ocorre: do mais fácil para o mais difícil, do mais visível para o mais oculto.
Idades:
18meses – b,m,p
2anos – t,d,n
2a6m – k,g,nh
3anos – f,v,s,z
3a6m – ch,j
4anos – l,lh,r,rr,arquifonemas e grupos consonantais
5anos – aquisição completa
Linguagem: – conceito mais amplo
– capacidade de se comunicar, de compreender e ser compreendido
– media a constituição do indivíduo, a formação de seu pensamento
– primeira manifestação: choro, diferenciado para cada situação
Idades:
2m – identificação da voz materna e lalação (vogal /a/ e sons guturais)
5m – balbucio
7m – balbucio intencional, comunicativo
10 a 14m – primeiras palavras
18m – 10 a 20 palavras inteligíveis
2
anos – 200 palavras isoladas
2a6m – frases simples
3 anos – frases completas e 80% do vocabulário já compreensível
4 anos – linguagem plenamente desenvolvida
Obs: é mais importante o domínio e a propriedade dos conceitos, que o número de palavras.Audição: – fundamental para o desenvolvimento da fala
– pequenas perdas auditivas, na maioria das vezes por otites, quando não identificadas e tratadas, podem comprometer a aquisição dos fonemas
Idades:
até os 6m – etapa proprioceptiva – nenhuma interferência da pista auditiva.
A partir dos 6m – etapa proprioceptiva-auditiva – percepção auditiva passa a regular a comunicação (grande importância do meio).
Obs: aqui, a criança com surdez profunda pára de emitir sons.
8m – início e aperfeiçoamento gradativo da localização sonora.
Voz: – presente desde o nascimento, acompanha o desenvolvimento do indivíduo
– reflete a personalidade, o estado interior, o meio sócio-cultural
– há várias possibilidades de ajustes motores para a produção da voz: às vezes a criança seleciona um ajuste forçado, e a lesão mais comum é o nódulo vocal (alteração do comportamento vocal)
– na primeira infância: incidência de alterações congênitas que afetam a voz (laringocele, laringomalácia, sulco vocal, cistos, síndromes genéticas)
– disfonia não é normal: é um sintoma que deve ser investigado!
Motricidade oral e funções: – o desenvolvimento da musculatura oral e peri-oral inicia-se com a amamentação
– falta de treino adequado, devido a problemas na alimentação, hábitos inadequados (chupeta, dedo) e dificuldade de respiração nasal comprometem este desenvolvimento e geram hipotonia
– as funções relacionadas a esses órgãos ficam alteradas: respiração, sucção, mastigação e deglutição
Fluência:
– desenvolve-se plenamente a partir dos 2 anos e meio de idade
– por volta dos dois anos, há um período de “gagueira fisiológica”, reflexo da insegurança da criança em relação ao código: a atitude positiva da família é fundamental; ouvir com paciência, sem chamar a atenção da criança, sem criticar ou tentar adivinhar. A expectativa é que se resolva até os 2a6m.
Código Gráfico: – a criança só deve ser exposta ao código gráfico quando já tiver passado por todas as fases anteriores (conceito de prontidão)
– num primeiro momento, são comuns as trocas visuais (s-ç-ss-sc,j-g,x-ch) e o espelhamento
– trocas auditivas(p-b,t-d,c-g,s-z,f-v,ch-j) precisam ser identificadas e tratadas o mais cedo possível
– estímulo inicial à elaboração, ao conteúdo gráfico, e não à forma
– leitura silabada é comum até o final da segunda série, mas a compreensão deve estar presente
Obs: na escola, é interessante observar se alguma criança destoa do desenvolvimento do grupo, porém cada um só deve ser comparado com ele próprio, no decorrer do tempo. O professor pode e deve auxiliar as crianças e passarem por essas fases, atuando como um facilitador deste processo, e reconhecendo precocemente prováveis distúrbios.Fonte: BOONE & PLANTE, 1994
*Dra Leny Kyrillos é fonoaudióloga especialista em voz. Participou como especialista convidada do programa Papo de Mãe sobre “fala e voz” exibido no dia 05.02.2012.