Três dicas para não ser um Coronamacho

Como se já não bastassem as restrições impostas pelos tempos de isolamento social, algumas mães, esposas e filhas agora tem passado pela provação de conviver com um outro tipo de vírus: o Coronamacho.

Roberta Manreza Publicado em 08/04/2020, às 00h00 - Atualizado às 10h27

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8 de abril de 2020


Por Claudio Henrique dos Santos, jornalista, escritor e palestrante

Como se já não bastassem as restrições impostas pelos tempos de isolamento social, algumas mães, esposas e filhas agora tem passado pela provação de conviver com um outro tipo de vírus: o Coronamacho. Suas cepas mais perigosas já começam a mostrar a que vieram, provocando um aumento de até 50% nas estatísticas de violência doméstica. Os tipos mais amenos, infelizmente, também provocam estragos que deixam marcas em todos os relacionamentos.

O Coronamacho é aquele cara teimoso, que tem solução para tudo, sempre tem a última palavra. Acha uma bobagem procurar médico para qualquer coisa, acha que fazer terapia éuma frescura. É o que se orgulha em repetir que “homem não chora”. Em resumo, acham-se superiores a tudo, principalmente em relação ao sexo oposto.

Alguns são famosos, aparecem o tempo todo na televisão desdenhando de uma “gripezinha”.A maioria deles são anônimos, mas só quem precisa lidar com um tipo assim sabe como não é fácil. Nestes tempos de isolamento, as relações se esgarçam, tudo fica ainda mais difícil.

Todos nós temos um Coronamacho dentro de nós. Com um pouco de atenção e disciplina dá para deixá-lo dormente dentro da gente. Mas alguns já manifestam a doença e ainda não sabem disso. Aí vão contaminando os outros ao redor, o ambiente. Trancados em casa, eles sofrem ainda mais. Não fazem a menor ideia do que o filho come, de onde está a lata de óleo, de como faz para ligar a máquina de lavar. E ainda tem que conviver com a mulher e as filhas“falando o tempo inteiro”. Não faltam piadinhas a respeito disso.

Se você é ou está no caminho para se tornar um Coronamacho, as notícias são boas. Já existe remédio. Os efeitos são rápidos, eficazes e começam a ser sentidos logo nos primeiros dias. Basta prestar atenção nas suas atitudes e estar aberto às mudanças.

O isolamento social exige novas atitudes, talvez seja a hora de começar a colocar em prática algumas delas. A relação de ações é enorme, mas se você levar em conta essas três dicas, garanto que a dor será menor e a cura estará muito mais próxima do que você imagina. E melhor: todos que estão à sua volta (e você mesmo) vão ganhar muito com isso.

1. Não existe uma distribuição de papéis pré-definidos dentro de casa. “Homem faz isso, mulher faz aquilo”. Se você ainda pensa assim, acorde. O mundo mudou, quem sabe um Coronavírus ajude você a perceber isso. Cuidar da casa onde moramos e dos nossos filhos é obrigação de todos nós. Saia do sofá. Aproveite o isolamento para aprender a cozinhar, lavar uma roupa e uma louça bem lavada.

Aproxime-se dos seus filhos. Dê banho nos pequenos, leia uma estória na hora de dormir. Procure saber que música os maiores ouvem, quem eles seguem no Youtube, quem é o“crush” na escola. Seja um pai presente. Cuidar do teto onde moramos e de quem está à nossa volta é uma obrigação de todos – e não uma questão de gênero.

2. As mulheres da casa não são uma propriedade do homem. Sua esposa e suas filhas não estão ali simplesmente para servi-lo, atender suas vontades. Por isso, você não tem direito de tratá-las como violência ou agressividade. Respeito é a base de todos os relacionamentos.

E se você é um cara legal, mas conhece alguém violento com alguma mulher, lembre-se que aexpressão “em briga de marido e mulher não se mete a colher” é tão arcaica quanto a estrutura de sociedade que a criou. Não se faça de surdo, estenda a mão para quem precisa de ajuda, ligue para a polícia, para o 180 (Central de Atendimento à Mulher). Enfim, tome alguma atitude.

3. A ideia de que o homem deve ser o provedor a qualquer custo, também não serve mais. A mulher moderna estuda, trabalha, tem uma carreira, anda pelas próprias pernas.Quando ela quer “casar” é para ter um parceiro, não um patrão. Mulheres que procuram um provedor estão em extinção. Ainda bem. E mesmo aquelas que optam por cuidar da casa e dos filhos, devem ser encaradas como parceiras de vida e da administração financeira.

Se você é daqueles que gosta de exercer seu poder financeiro para submeter alguém às suas vontades, lembre que você não terá uma companheira feliz ao seu lado. E mesmo que seja egoísta a ponto de não se importar com isso, um dia você acorda falando sozinho. Pode esperar.

Não vão faltar oportunidades de transformação para aqueles que chegarem vivos ao final da pandemia – e serão muitos de nós, a grande maioria. O distanciamento social e o isolamento dentro de nossas casas nos convidam a uma série de reflexões – e mudanças. Que eles sirvam não apenas para conter a curva de crescimento da Covid-19 como também para diminuir as atitudes machistas na sociedade e nos nossos lares.