Sem perceber, as crianças transmitem o que sentem para os desenhos. Neuropsicopedagoga clínica explica sobre a interpretação, que pode identificar até abusos
Sabrina Legramandi* Publicado em 24/09/2021, às 08h01
Uma casa, um sol e uma árvore: já parou para pensar no que isso quer dizer? A interpretação, baseada em pesquisas de fundamentação científica, revela que um simples desenho de uma criança pode informar sobre várias coisas: atrasos no desenvolvimento motor, bloqueios emocionais, depressão e algum tipo de violência.
Ester Assis, neuropsicopedagoga clínica e professora universitária de neuroeducação, explica que cada elemento do desenho de uma criança e a junção dos mesmos permite que a interpretação seja feita, até mesmo, pelos pais e educadores. Porém, sempre é necessário partir das pesquisas e da fundamentação já existentes.
Essa interpretação não é um teste. É uma descoberta do ‘ser criança’. ” (Ester Assis)
Mas a neuropsicopedagoga ressalta: “Interpretar é uma coisa, tratamento é outra”. Caso haja suspeita de algum problema, o pai, mãe ou educador possui o dever de acionar profissionais qualificados que podem montar uma cadeia multidisciplinar.
Um professor que percebe um problema através de um desenho de seu aluno, por exemplo, leva o problema ao psicopedagogo. Este informa para a família que é necessário procurar um psicólogo infantil. Se o psicólogo percebe uma dificuldade de aprendizagem, por exemplo, direciona a criança a um psicopedagogo e neuropsicopedagogo. “Assim, a criança tem a assistência que necessita para vencer as suas dificuldades”, afirma Ester.
A profissional explica que os elementos utilizados para a interpretação de desenhos são os traços, as cores, os tamanhos, as formas geométricas, o espaço, a lateralidade, as figuras humanas, a casa, a árvore, o sol, a lua, as estrelas, as flores, os animais, os meios de transporte, dentre outros.
Cada elemento tem o seu significado, desde os primeiros ‘rabiscos’, que chamamos de garatujas.” (Ester Assis)
Para mostrar como a interpretação é feita, ela dá o exemplo das cores. O vermelho pode indicar exuberância, hostilidade, agressividade, violência e tendências de irritabilidade. Se o desenho for tomado pela cor violeta, a criança pode estar sentindo uma pressão excessiva por parte dos pais, relacionada ao crescimento ou a responsabilidades. Isso indica medo de ser uma decepção aos responsáveis.
Porém, Ester ressalta que não é apenas a cor que vai permitir que se tenha a interpretação completa do momento vivenciado. Para facilitar o processo, a neuropsicopedagoga desenvolveu a “técnica de três elementos”, que envolve os componentes mais comuns dos desenhos: a casa, a árvore e o sol.
A casa tem um grande significado: é o lugar onde a criança estuda, brinca, desenvolve vínculos afetivos, se alimenta e dorme. “A casa é a maneira que temos para identificar o modo como a criança vive em seu próprio espaço”, explica Ester. Cada elemento da casa tem o seu significado: tamanhos, portas, janelas, telhados, cores, chaminés, com ou sem fumaça.
A profissional explica que o sol representa a influência, materna ou paterna, sobre a criança. Quanto maiores os raios, maior a influência. Porém, Ester lembra que influência difere de vínculo. “Você pode não ter vínculo afetivo, mas pode ser influenciado”, diz. O excesso de raios solares pode indicar um “comando da situação” ou, às vezes, uma violência verbal e física.
Por fim, a árvore traz três elementos que demandam atenção: o tronco, a raiz e a copa. “A maior representatividade em um desenho é a árvore”, afirma a neuropsicopedagoga. Esse elemento é o que representa como a criança se identifica no cenário do desenho.
*Sabrina Legramandi é repórter do Papo de Mãe
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