Uma tosse que não passa…

Roberta Manreza Publicado em 25/08/2017, às 00h00

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25 de agosto de 2017


Por  Dr. Moises Chencinski, pediatra e homeopata  

Métodos antiquados ainda merecem uma chance: os pais podem tentar acalmar o filho que tosse com a leitura do livro favorito, um cobertor aconchegante e uma tigela de canja de galinha

“O amor e a tosse não podem ser escondidos”, escreveu o poeta metafísico inglês George Herbert há 400 anos. Pode ser difícil para os pais conviver com uma criança que tosse continuamente – às vezes, talvez seja mais difícil para os pais do que para a criança.

“Não há algo que eu possa dar a ele/ela que faça essa tosse desaparecer?”, questionam nos consultórios pediátricos. Embora seja profundamente frustrante para os pais que querem soluções rápidas, a melhor resposta sempre é que a tosse desapareça por conta própria.

“A tosse é uma das razões mais comuns para que adultos e crianças busquem cuidados médicos e, como pediatra, parte do meu trabalho é me preocupar com o que significa uma tosse. Ela é a resposta reflexa das vias aéreas a qualquer coisa irritante, uma defesa útil que pode ajudar uma criança a se livrar de tudo, desde poluentes até micróbios. E a grande maioria das crianças que sofre de tosse, após resfriados ou outras infecções virais, não precisa de nenhum tratamento além de  paciência e talvez – se tiverem mais de um ano de idade – uma colher de mel de vez em quando. Nós não oferecemos mel aos bebês com menos de um ano por risco do botulismo infantil, uma doença rara, mas potencialmente fatal”, afirma o pediatra e homeopata Moises Chencinski (CRM-SP 36.349).

Nos últimos anos, os pediatras tiveram que argumentar muito contra os benefícios duvidosos de medicamentos contra a tosse, sem receita médica, para crianças pequenas. Mas nem todas as tosses persistentes são iguais, e às vezes, precisam de mais exames ou de mais medicamentos.

Quando não parece estar melhorando, vale a pena prestar atenção ao padrão e ao caráter da tosse em si. Anne Chang é uma pneumologista pediátrica na Austrália, chefe da divisão de Saúde Infantil da Escola de Pesquisa de Saúde de Menzies, em Darwin. Sua pesquisa incluiu extensas revisões de tosse crônica em crianças e o desenvolvimento de protocolos clínicos para avaliar e tratar a tosse que dura mais de quatro semanas.

“A causa mais comum de tosse onde os pais procuram atendimento médico é a  aguda, relacionada a infecções respiratórias superiores, segundo Chang. A maioria se resolve em sete dias, mas em algumas crianças ela pode persistir por várias semanas. Na maioria dos casos, dizemos aos pais que não se preocupem se a criança estiver bem, a menos que a tosse já dure quatro semanas”, diz Chencinski, que é membro do Departamento de Pediatria Ambulatorial e Cuidados Primários da Sociedade de Pediatria de São Paulo.

Já Chang enfatiza que a característica é importante; uma tosse seca geralmente é menos preocupante para a infecção do que uma tosse úmida, e qualquer criança com (ou sem) qualquer tipo de tosse que parece mal e especialmente quem está tendo problemas para respirar definitivamente deve ver um médico; problemas de respiração podem aparecer como respiração rápida ou com os músculos do tórax ao redor das costelas repuxando a cada respiração. Aqueles que estudam tosse em crianças também distinguem a tosse de foca (ou de cachorro) do crupe e a tosse paroxística da tosse convulsa (coqueluche).

Chang descobriu que algumas crianças com tosse úmida prolongada tinham bactérias em seus pulmões e sofriam de uma síndrome chamada de bronquite bacteriana prolongada, que melhorava com um antibiótico de duas semanas.

“O tratamento habitual para a tosse crônica geralmente começa com uma radiografia de tórax e um teste chamado espirometria, que mede o volume do ar inalado e expirado. Existem várias especialidades diferentes com especialização em tosse, incluindo pediatras, pneumologistas pediátricos, alergistas-imunologistas e otorrinolaringologistas, o que reflete as muitas razões pelas quais uma criança pode estar tossindo, além de uma infecção”, explica Chencinski.

Alan Goldsobel, imunologista, que é professor clínico adjunto em Stanford e autor de um artigo de revisão sobre tosse em crianças, defende: “sempre ensino, se é uma tosse úmida, pense em antibióticos, se for uma tosse seca, pense mais sobre a asma. Uma criança pequena que passa a noite tossindo, deveria ser investigada para a questão da asma. No entanto, se a tosse não responde prontamente aos medicamentos para a asma, a criança deve ser reavaliada para outras possíveis causas”.

Xaropes para tosse

Estudos sobre medicamentos para a tosse, sem receita médica, demonstraram que esses não são mais eficazes do que os placebos, e houve muitos problemas com efeitos colaterais e sobredosagens, especialmente em crianças mais novas, de modo que a Academia Americana de Pediatria posiciona-se contra o uso de tais medicamentos em crianças menores de 4 anos, muitos especialistas defendem 6 anos.

“Isso às vezes é uma mensagem difícil para os pais, talvez porque eles lembrem que lhes eram administrados xarope contra a tosse quando eram jovens, e talvez apenas porque é natural querer dar algo a uma criança doente que possivelmente possa trazer alívio. Mesmo umidificadores, uma vez padrão no tratamento da tosse, foram classificados como possíveis fontes de mofo”, afirma o pediatra.

“Esses medicamentos que compramos  no balcão, sem receita médica, realmente são de um benefício duvidoso, na melhor das hipóteses, e podem ser muito perigosos para crianças pequenas”, alerta Chencinski.

Estudos têm mostrado que os pais ficam profundamente angustiados quando seus filhos sofrem com tosse persistente. Os pais dessas crianças relatam que sua qualidade de vida é tão ruim quanto a de pais de crianças com doenças cardíacas ou problemas graves. Mesmo que a tosse não pareça ser perigosa, “quando os médicos levam os pais a sério, muitas vezes, eles sentem uma sensação de alívio”.

Moises Chencinski destaca : “quando o assunto é tosse, métodos antiquados ainda merecem uma chance: os pais podem tentar acalmar o filho que tosse com a leitura do livro favorito, um cobertor aconchegante e uma tigela de canja de galinha”.

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