A obstetriz e fundadora da Inciclo, Mariana Betioli, aponta tabus que ainda envolvem a menstruação
Redação Papo de Mãe Publicado em 13/09/2021, às 07h55
A menstruação ainda pode ser considerada um tabu para muitas mulheres, e quando se trata de mãe e filha, ou pai e filha, a vergonha sobre o assunto às vezes predomina as relações. Ainda que muitas mães, ou pais, prefiram manter o tema somente nos consultórios ginecológicos, é importante cada vez mais normalizar a menstruação.
Um dos caminhos para isso é não esperar o melhor momento para a conversa. Para Mariana Betioli, obstetriz e fundadora da Inciclo, fundadora da primeira marca de coletores menstruais do Brasil, a primeira menstruação é um acontecimento importante, mas que deixa muitas vezes dúvidas tanto para mães/pais, quanto para filhas.
Em busca de sanar as principais questões, Betioli lista alguns fatos importantes sobre essa fase da vida. Dicas valiosas para famílias de pré-adolescentes e já adolescentes. Segundo ela, o assunto deve ser mais discutido – e com cada vez mais honestidade.
A menarca, ou seja, a primeira menstruação, geralmente ocorre entre os 10 e 14 anos de idade. “A primeira menstruação vem um pouco depois de alguns outros sinais de puberdade percebidos no corpo da menina, como desenvolvimento das mamas, surgimento dos pelos e a presença de secreção vaginal”, explica Mariana Betioli.
Segundo a especialista, secreções são comuns e normais, principalmente no ínicio do ciclo menstrual. “A vagina é um local úmido que produz secreção. É fisiológico e saudável. Ela pode mudar de aspecto em algumas situações, como por exemplo durante as diversas fases do ciclo menstrual. Mas é necessário prestar atenção na cor da secreção e alguns outros sintomas para poder identificar quando algo não vai bem”, aponta ela.
Ser pega de surpresa por uma menstruação atrasada ou antes da hora também é comum nos primeiros ciclos menstruais, de acordo com Betioli. “Na adolescência, os ciclos menstruais costumam ser irregulares. Isso por conta da imaturidade do organismo, que, em geral, pode levar dois anos para se regularizar.”
Atualmente o mercado de produtos para menstruação mudou bastante: agora há mais opções para as mulheres e meninas escolherem a maneira como elas vão lidar com o ciclo.
Mariana Betioli conta que um dos produtos mais famosos para conter o sangue menstrual são os absorventes externos, mas existem opções mais funcionais, ecológicas, econômicas e até mesmo mais indicadas para a saúde íntima das adolescentes, como o coletor menstrual, absorventes reutilizáveis e as calcinhas absorventes.
Se a menina sente que não se adapta bem ao absorvente, que pode mesmo causar certa irritação na pele, as calcinhas menstruais são bastante confortáveis, diz a especialista. “É uma alternativa que vem se destacando por sua praticidade. Ao mesmo tempo que remonta aos tecidos usados pelas mulheres de outros tempos, a modernidade do material com que a peça é fabricada faz com que o sangue não vaze”, comenta.
Segundo a obstetriz, as calcinhas são geralmente fabricadas com tecidos tecnológicos de alta absorção. “Eles se intercalam estrategicamente para garantir que o sangue não passe para o outro lado, o que oferece muito mais segurança. É um material macio, que faz com que a peça fique bem fininha e moldada ao corpo, sem apertar, sem deformar e nem marcar.”
O coletor menstrual é uma espécie de copinho de silicone, que, como o nome indica, coleta o sangue durante o ciclo menstrual, e portanto, é considerado um produto seguro para as mulheres e meninas ainda com hímen (virgens). Ou seja, é possível utilizar o copinho mesmo sem nunca ter tido relação sexual? De acordo com Mariana Betioli, a resposta para essa pergunta é SIM.
“O hímen é uma fina pele que fica na entrada do canal vaginal e tem tudo a ver com essa discussão, mas o conceito de virgindade é relativo e precisa ser analisado com cautela. Homens e mulheres deixam de ser virgens quando acontece a primeira relação sexual", explica Betioli.
Segundo a especialista já existem também algumas opções de coletores menores, para as meninas que se preocupam com o rompimento do hímen.
A Tensão Pré-Menstrual, famosa TPM, é tida muitas vezes como algo terrível. Apesar disso, ela é, na verdade, uma série de sintomas hormonais que costumam aparecer entre alguns dias antes da menstruação.
Mas ela não é motivo para desespero, segundo explica a especialista. A partir do momento que a garota conhece o seu corpo e os sinais que ele dá, começa também a entender o que funciona ou não.
"Os sintomas incluem alterações de humor, seios sensíveis, desejo por comidas específicas, fadiga e irritabilidade”, traz Mariana Betioli.
Sentir dor e cólica pode ser normal nos primeiros ciclos. Quando não muito intensas, elas são consideradas "partes do processo", diz Betioli. “As dores que sentimos vem da contração do útero para expelir o sangue. A tendência é que esse incômodo se alivie com o passar dos anos”, afirma.
No entanto, é importante se atentar na intensidade da dor, já que existe a endometriose. Visitar um médico ginecologista é indispensável!
Toda menina, quando tem sua primeira menstruação, ouve a velha frase: “virou mocinha”. Mais do que o processo físico, a primeira menstruação envolve um entendimento psicológico do próprio corpo e das mudanças que o sangramento traz.
Mariana Betioli faz um alerta: não é preciso mudar o estilo ou os hobbies por conta da menstruação. “Claro que vamos mudar ao longo de toda a adolescência, afinal, ela é um período de passagem da infância para a vida adulta. Mas a menstruação é só um evento dentre todo esse período. Cada coisa no seu tempo”, acrescenta.
Após menstruar pela primeira vez, é interessante visitar a ginecologista para tirar todas as dúvidas sobre o assunto. Nessa consulta, a médica costuma fazer perguntas sobre a menstruação, dar orientações sobre higiene íntima, explicar o ciclo menstrual e sexualidade.
“E se ela quiser entrar sozinha no consultório, mesmo que sua mãe ou algum responsável a tenha acompanhado até o local, saiba que é um direito dela”, ressalta Betioli.
Instagram: @papodemaeoficial l Twitter: @papodemae l Facebook
'Foi uma caminhada no escuro de não saber o que ele tinha', diz mãe sobre filho com Síndrome Alcoólica Fetal
Leite materno e leite de vaca modificado
A descoberta da gravidez
Regime de bens: é possível alterar após o casamento?
Amamentação: 6 motivos para amamentar e que não têm relação com o bebê