Papo de Mãe

Entrevista com o psicólogo e antropólogo Mauro Godoy

pmadmin Publicado em 09/11/2009, às 00h00 - Atualizado às 17h31

9 de novembro de 2009


Olá!!! Dando continuidade ao tema da semana, estamos trazendo para vocês mais uma entrevista. Desta vez, quem conversou com a nossa repórter, Rosângela Santos, foi o psicólogo e antropólogo Mauro Godoy. Confiram!RS: Como entender o filho único? MG: A melhor forma de entender o filho único é se sentir como tal. Ver o mundo como ele desde pequeno. Em casa, muitas vezes, como ele é a única criança, ele é visto por todos como o bebê, o pequeno, a criancinha… Ele pode assumir esta postura de infantilidade para sempre, o que pode significar para o menino o “complexo de Peter Pan” e para a menina o “complexo de Cinderela”. Que quer dizer “eu não quero ser homem, nem mulher, quero continuar criança”. E assim fica por muito tempo, pois ele não sabe se comportar de outra forma. RS: E o que acontece?MG: Até os dois anos, a criança não sabe distinguir o que é pessoa e o que é objeto. Quando ela percebe que é diferente, entra no mundo das pessoas. Só que uma grande parte de filhos únicos não entra neste mundo. Então, crescem achando que gente e objeto são a mesma coisa. RS: Existe diferença na criação no Brasil e no mundo?MG: A realidade do Brasil é diferente de outros países. Na China, por exemplo, quem cria o filho são os avós porque eles já trabalharam, já se aposentaram, enquanto os pais têm que trabalhar. Então, é instituído que os avós criam. Os filhos acabam tratando os pais como irmãos e avós como pais. E os avós não são libertadores (aqueles que deixam fazer o que os pais não deixam). Como conseqüência, as crianças crescem sem liberdade. Mas o filho único tem que aprender a diferença entre a família onde ele é “rei” e o mundo na rua, onde ele é apenas mais um.RS: Como os pais devem agir?MG: Percebendo… Na pré-adolescência – isso acontece hoje aos 10, 11 anos – a criança já começa a se rebelar e a denegrir a própria postura e própria imagem. Esta é a maneira dela dizer para os familiares que ela é normal, apenas mais um… Ela pode agir de forma a piorar a aparência, o vocabulário… É uma forma de mostrar aos pais que ele/ela não é tudo aquilo que eles esperam.RS: Mas por que isto acontece? É comum os pais esperarem muito de um filho único?MG: Naturalmente. Vendo sob a ótica dos pais, você tem toda uma esperança. Além de ser seu herdeiro, você tem esperança de alguém que vai continuar sua genética, seu nome. Isto cria uma expectativa. E todo o amor, dedicação e tempo que você dedicou para essa criança vai se transformando numa idealização que não corresponde à realidade.—Por enquanto é isto, amanhã tem mais! E por falar em amanhã, não percam a última reprise do Papo de Mãe sobre Filhos Únicos nesta terça-feira, às 18h30, na TV Brasil.