Roberta Manreza Publicado em 02/12/2014, às 00h00 - Atualizado às 01h13
Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro
O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro lançou, nesta última sexta-feira (28/11), a cartilha “Bullying 2014 – práticas positivas de prevenção na escola”, disponibilizada online, que será distribuída junto a profissionais de educação do Estado e dos Municípios. O lançamento ocorreu durante o “II Encontro Estadual: Ministério Público pela Paz nas Escolas”, que, este ano, discutiu práticas positivas a serem adotadas nas escolas como forma de prevenção ao bullying.
Promovido pelo Centro de Apoio Operacional (CAO) das Promotorias de Justiça de Tutela Coletiva de Proteção à Educação, o encontro contou com a presença de cerca de 300 profissionais de educação e representantes da sociedade civil. Segundo a última pesquisa nacional de Saúde Escola, divulgada no ano passado pelo IBGE, uma a cada cinco crianças se envolve em situações debullying. De acordo com a coordenadora do CAO, promotora de Justiça Bianca Mota de Moraes, o objetivo da cartilha é auxiliar educadores a treinar habilidades necessárias junto às crianças e às famílias para prevenir casos. Ela agradeceu a participação e a vontade de todos os presentes em trabalhar em conjunto.
“O MP é a primeira instituição a promover um evento focado nas práticas de prevenção e investir em uma cartilha que vai além do esclarecimento teórico sobre o tema. Isso coloca o Rio de Janeiro em destaque à frente de outros estados”, afirmou Juliana Schweidzon Machado, psicóloga e diretora do Kidpower Internacional no Brasil, organização presente em 13 países.
Juliana foi a primeira a palestrar e definiu a prática do bullying como um comportamento agressivo intencional que pode causar danos a si e ao próximo, alem de infringir normas ou leis. Ela detalhou a aplicação da cartilha como forma de desenvolver habilidades sociais e empatia entre os alunos, além de exercitar a ideia de se colocarem “no lugar do outro”.
Integrantes do Centro de Criação de Imagem Popular (CECIP), Maria Mostafa e Soraia Melo iniciaram o evento na parte da tarde com a palestra Educação para a paz: criando espaços de escuta. As educadoras informaram que trabalham a educação para a paz em 25 escolas municipais. Elas ressaltaram a justiça restaurativa – que reúne todos os envolvidos no conflito na busca de meios para reparar o dano causado – e o processo circular – que prevê um espaço de diálogo democrático em que todos expressam seus sentimentos com a situação conflituosa – como formas eficazes de mediar conflitos no ambiente escolar. “A justiça restaurativa inclui pessoas que fizeram parte do ato. Tende a rever a tomada de decisão e o que a pessoa envolvida pode oferecer para restaurar o dano que ela causou”, explicou Maria.
Já o processo circular, abordado por Soraia, é baseado na cultura indígena e envolve educador, gestão e alunos, que, reunidos em círculo, desenvolvem a “oportunidade da escuta”. Todos terão um momento para expressar a opinião, mas, em determinado momento, apenas quem está com o “bastão da fala”, que pode ser qualquer objeto, tem o direito de falar, enquanto todos os outros devem ouvir.
Em sua exposição durante a palestra “Da teoria à prática: apresentação da experiência de grupo de estudo”, a diretora da Escola Municipal Marcílio Dias, Marisa Braumbach, relatou a experiência positiva com uma turma da escola de Duque de Caxias. De acordo com Marisa, os alunos apresentavam vários problemas e a turma estava “desacreditada”. A diretora ressaltou que o trabalho incessante da professora, apesar de todo o desgaste emocional, foi fundamental para os avanços, alcançados por meio de um processo longo e de persistência. “A segurança emocional da criança está acima da nossa”, disse Marisa.
Em seguida, a palestrante Juliana Schweidzon falou sobre “Como criar um modelo de práticas positivas de prevenção ao bullying”. Entre as sugestões apresentadas, ela destacou que as vítimas dessa prática costumam ter dificuldade para comunicar a violência: ou usam de uma comunicação passiva, voz tímida e olhar baixo, ou agressiva, gestos exagerados e recusa a escutar o outro. Para a diretora do Kidpower no Brasil, é importante incentivar os alunos a desenvolverem uma comunicação assertiva e uma habilidade de autoproteção.
Antes do encerramento, a promotora Bianca Mota e a pedagoga Samilly Diniz, do CAO Educação do MPRJ, contaram aos presentes sobre a experiência de desenvolver a cartilha. A promotora mostrou o caminho no site para acessar a cartilha, que, a partir desta sexta-feira, ficará disponível no site do MPRJ. “É uma grande felicidade lançar essa cartilha, principalmente pela possibilidade de entrar em contato e ajudar profissionais que lidam com situações conflituosas no dia a dia”, disse Samilly.
Bianca Mota destacou que é fundamental fortalecer o conselho escolar, que aproxima escola e comunidade, e evitar a judicialização de conflitos ocorridos na escola. “Não somos favoráveis a que a Justiça substitua a educação”, declarou Bianca. Em seguida ela agradeceu aos presentes e abriu para os debates.
Além da coordenadora do CAO Educação, a abertura contou com a presença do subprocurador-geral de Direitos Humanos, Ertulei Laureano de Matos, representando o procurador-geral de Justiça em exercício, Alexandre Araripe Marinho; a coordenadora de Educação Ambiental e Saúde, Elaine Costa, representando o secretário estadual de Educação; a secretária de Educação de Rio das Ostras, Andrea Machado Pereira representando a UNDIME-RJ; a coordenadora estadual da União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação, Eliana Cavalieri Duarte; a coordenadora estadual do Grupo de Apoio e Fortalecimento dos Conselhos Escolares, Silma Cleris; o vice-presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado, Luis Henrique Mansur Barbosa; e o presidente da comissão “OAB vai a escola”, Rogério Borba da Silva.
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