"Animatrópole" retrata, de forma crítica, uma sociedade que precisa criar uma solução para o inesperado e superar a ambição pelo poder
Sabrina Legramandi* Publicado em 08/09/2021, às 17h27
O cotidiano de Animatrópole seguia normalmente até uma tragédia abater a cidade. Os seus habitantes, animais de todas as espécies, precisam então se unir para encontrar uma solução diante do inesperado e, para isso, têm de superar a ambição pelo poder.
Parece familiar? Inspirado em “A Revolução dos Bichos”, do escritor inglês George Orwell, “Animatrópole” conta uma história que facilmente pode ser confundida com uma incerteza pandêmica. A autora, Liu Oubiña, comenta que havia terminado de reler o livro de Orwell quando o Brasil se viu diante da ameaça do novo coronavírus.
A partir daquele momento, vimos o planeta se unir para lutar pela descoberta da cura da Covid-19 e, nas palavras da escritora, “assistimos a todo instante interesses pessoais se sobrepondo a vidas”. Ser mãe e cidadã inspirou Liu a ensinar seu filho – e, com o livro, outras crianças – a entender o papel de cada um na sociedade.
O livro traz essa reflexão: quem são os tiranos? Qual o papel de cada um em uma sociedade? Todos são iguais? Ou podemos fazer diferente?” (Liu Oubiña)
Assim como em “A Revolução dos Bichos”, “Animatrópole” reflete sobre o impacto das ações individuais no mundo. “O nosso papel, através dos livros, é criar uma sociedade baseada no respeito às individualidades, em que a educação positiva e inclusiva é um alicerce para sustentar essa dinâmica”, diz a autora.
Liu é baiana e filha de imigrantes espanhóis e teve seu primeiro contato com a literatura através das tradições orais. Na infância, começou a esboçar o gosto pela escrita em seu diário e, segundo ela, a escola foi a oportunidade do acesso à leitura. A educação gerou uma menina que “adorava ficar imaginando e sonhando através das histórias”.
Para a escritora, essas histórias dos livros que refletem na imaginação permitem a autoidentificação e aceitação, ajudam a resolver conflitos, a sentir diferentes emoções e conseguem agradar a todos “sem distinção de idade, classe social ou circunstâncias da vida”.
‘Animatrópole’ permite a construção desse olhar por si mesmo, formando cidadãos que são conscientes de seu papel e que respeitam as diversas opiniões. O final foi pensado para que cada um faça sua escolha, mas observe quem agiu com sabedoria.” (Liu Oubiña)
Criar histórias que impactam e desenvolvem as potencialidades de cada um é essencial para a difusão do gosto pela leitura, segundo Liu. “A literatura tem um papel transformador na formação de crianças saudáveis e adultos potentes”, finaliza.
*Sabrina Legramandi é repórter do Papo de Mãe
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