A otorrinolaringologista Tanit Ganz Sanchez faz um alerta: “de fato, alguns ouvidos sofrem com a ingestão frequente de doces e manifestam esse sofrimento por meio de zumbido, tontura, sensação de ouvido tampado e perda auditiva”
Dra. Tanit Ganz Sanchez* Publicado em 03/04/2021, às 00h00 - Atualizado às 13h10
Ahhh, a Páscoa é um dos feriados que eu mais gosto!
Só entendi o real significado dela depois da adolescência, mas tenho deliciosas lembranças da infância.
Era o dia da caça ao tesouro, ou seja, aqueles ovinhos de chocolate escondidos nos cantinhos mais inusitados: embaixo da almofada do sofá, dentro do armário do lavabo, atrás da geladeira, dentro das panelas tampadas no armário da cozinha.
Enquanto eu crescia, os ovos de chocolate cresciam junto, apesar da caça ao tesouro ter ficado de lado. E continuei comendo sem moderação.
Aí, na adolescência, as primeiras fichas vão caindo: chocolate dá espinhas (e como!), dá um nó na barriga e faz mágica no visor da balança (e cooomo!), jogando abaixo todo o esforço no treino de vôlei e nas aulas de aeróbica.
Depois da adolescência, vieram a Medicina e a Otorrinolaringologia. Conhecimento muda a vida da gente… mas vou contar essa parte daqui a pouco.
Quando me tornei mãe, passei a entender bem melhor o esforço de meus pais para que esse feriado fosse uma diversão em família, usando as estórias do coelhinho e a caça aos ovos de chocolate.
Era uma alegria encontrar e se lambuzar sem preocupação… diversão garantida que eu queria proporcionar para minhas filhas.
E eu caprichei! Era alegria dupla: ver as meninas se divertindo e lembrar da minha infância.
Até que fui percebendo, com o olhar de mãe médica, que os efeitos colaterais do chocolate nelas me davam um certo arrependimento.
Era como uma ressaca que faz você se perguntar se não deveria ter tomado um pouco menos de vinho. Comecei a ficar com o pé atrás.
O olhar de médica me fez perceber que o chocolate também compromete os ouvidos, que são o meu foco principal de pesquisa científica.
“De fato, alguns ouvidos sofrem com a ingestão frequente de doces e manifestam esse sofrimento por meio de zumbido, tontura, sensação de ouvido tampado e perda auditiva.”(TGS)
O chocolate tem substâncias que podem agredir os ouvidos, como o açúcar e a cafeína. Em alguns organismos, quando o açúcar (glicose) aumenta no sangue depois da ingestão de doces, o pâncreas passa a produzir mais insulina do que o necessário para diminuir a glicose presente no sangue e colocá-la dentro das células.
Essa insulina em excesso é a grande vilã do ouvido, pois ela bagunça a bioquímica do ouvido interno e atrapalha o seu funcionamento normal.
A cafeína, também encontrada nos chocolates, acelera o sistema nervoso e como o zumbido já é, por natureza, um “ritmo acelerado” na via auditiva, ele pode aparecer ou piorar ainda mais.
A piora do zumbido pode acontecer cerca de 1 hora após tomar a cafeína, que é encontrada não apenas no chocolate, mas também no chá preto e no mate, nos refrigerantes, nos estimulantes e no chimarrão. Quando a dose é alta, o ouvido reage sentindo zumbido ou tontura.
Mas, como sempre, existe um lado bom no meio da coisa ruim. Nas pessoas que têm problemas de ouvido por excesso de ingestão de chocolates, doces em geral ou cafeína, eles podem ser temporários.
Assim, nós restringimos esse consumo por cerca de 20 a 30 dias para dar chance do ouvido se recuperar. Em algumas pessoas, os sintomas desaparecem; outras precisam de tratamentos específicos e complementares.
A Páscoa é a época do ano com maior consumo de chocolate.
Como mães, nós queremos que nossos filhos fiquem contentes, mas que também fiquem saudáveis, né?
Poucas pessoas se preocupam com a saúde dos ouvidos. A maioria só se lembra deles quando sente dor nas otites ou sensação de tampado nos resfriados ou por acúmulo de cera. Mas quando a gente perde o ouvido, o arrependimento é geral!
Estamos todos precisando de carinho… vamos nos cuidar melhor esse ano?
Boa Páscoa a tod@s, com foco na Ressurreição, na família e… nos ouvidos!
• Médica Otorrinolaringologista formada pela Universidade de São Paulo;
• Profa. Livre Docente e Associada da Otorrinolaringologia da Universidade de São Paulo
• Orientadora de pós-graduação da Fonoaudiologia da Universidade de São Paulo;
• Fundadora e Diretora do Instituto Ganz Sanchez;
• Criadora e coordenadora do: – GANZ: Grupo de Apoio Nacional a Pessoas com Zumbido;
• Idealizadora do Novembro Laranja (Campanha Nacional de Alerta ao Zumbido); –
• Idealizadora da TV Zumbido (www.tvzumbido.com.br);
• Blitz do Ouvido (no Programa Bem Estar Global)
• Membro da ABORL-CCF;
• Membro do Corpo Editorial das revistas científicas: Clinics, International Archives of Otorhinolaryngology e Brazilian Journal of Otorhinolaryngology;
• Pesquisadora incansável sobre o comportamento humano e seus desdobramentos em saúde.
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