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Gestação e os ouvidos da grávida e do bebê

A otorrinolaringologista Tanit Ganz Sanchez explica que zumbido, perda auditiva e tontura também podem nascer em qualquer momento da gravidez

Dra. Tanit Ganz Sanchez* Publicado em 19/06/2021, às 00h00

Os ouvidos dos bebês se formam entre a 5a e a 7a semana de gestação
Os ouvidos dos bebês se formam entre a 5a e a 7a semana de gestação

Ser mãe é um dos maiores aprendizados das mulheres.

Emoções múltiplas teimam em se aglomerar... e não tem pandemia que as isole em casa!

Maternidade é muito mais do que dar à luz, mas começa por aí. E eu tinha um belo medo de engravidar.

Nem era só por ser marinheira de primeira viagem.

Era pela referência que eu tinha da minha mãe: uma mulher bela, talentosa e muito amorosa que trocou o trabalho pelo casamento com dedicação à família, como mandava o figurino.

E também pelos vários quilos a mais que ela encontrou para nunca mais perder.

E também (de novo) porque eu já carregava, na minha mente de otorrino, histórias de pacientes que reclamavam de problemas de ouvido durante a gestação.

Nenhum órgão escapa do potencial efeito das mudanças hormonais e com os ouvidos não é diferente! Alterações dos hormônios femininos podem mudar a bioquímica do ouvido ou das vias auditivas (caminho que o som faz do ouvido até o cérebro).

Aliás, muitas coisas podem acontecer enquanto se gera um filho. Zumbido, perda auditiva e tontura também podem nascer em qualquer momento da gestação.

Esse trio desarmonioso pode aparecer por causa da anemia, típica do 2º trimestre, pela hipertensão na (pré-)eclampsia no terceiro trimestre ou pela ingestão frequente de doces para saciar aqueles desejos intermináveis.

Mas o trio também pode aparecer pela ativação de doenças hereditárias (como a otosclerose, doença que enrijece o osso estribo e bloqueia a passagem dos sons) ou pela surdez súbita (um apagão da circulação de sangue dentro do ouvido).

Sem falar na ansiedade e depressão que rondam as mulheres nessa fase ou após o parto.

Motivos realmente não faltam... e eu tinha medo, como mulher e como médica!

Enrolei tudo que podia, mas chegou a hora. E assim foi.

Eu me apeguei às coisas bonitas, também como mulher e como médica.

Veja também:

Por exemplo: sabia que os ouvidinhos dos nenês se formam entre a 5a e a 7a semana de gestação? Muita gente nem sabe que está grávida nessa época e o nenê já consegue ouvir!

Ele pode ser emocionalmente influenciado só porque já tem ouvidos funcionando. Não é legal?

Ele pode ouvir sua voz de mãe feliz porque está gravida. Ouvindo, ele sente.

Ele pode ouvir as músicas calmas que você coloca especialmente para ele enquanto passa a mão na própria barriga e fala com ele. Ouvindo, ele sente.

Ele pode ouvir as conversas que você tem com o pai sobre como vocês estão esperançosos com a chegada dele e a vida nova. Ouvindo, ele sente.

Mas ele também pode ouvir quando você fala coisas que não são as melhores que poderiam sair de sua boca. Ouvindo, ele também sente.

Percebeu a importância da gestação sobre os ouvidos das mães e dos filhos?

Sou suspeita para falar, pois sou mãe e otorrino "viciada" em saber cada vez mais sobre essa parte do corpo, por isso sempre recomendo: cuide e valorize os seus ouvidos!

Ah, não sei se foi sorte ou outra coisa, mas o meu medo de engravidar não me trouxe zumbido, perda auditiva, tontura, anemia, pré-eclampsia, otosclerose, surdez súbita, ansiedade nem depressão. Quanto ao ganho de peso, foram 8 Kg encontrados e rapidamente perdidos com a amamentação.

As duas gestações superaram a minha expectativa... e essa é apenas mais uma história onde o excesso de medo não compensa.

*Dra. Tanit Ganz Sanchez:
• Médica Otorrinolaringologista formada pela Universidade de São Paulo;
• Profa. Livre Docente e Associada da Otorrinolaringologia da Universidade de São Paulo
• Orientadora de pós-graduação da Fonoaudiologia da Universidade de São Paulo;
• Pesquisadora dos incômodos dos ouvidos há mais de 25 anos, reconhecida internacionalmente como referência para assuntos relacionados sobre a “Quadrilha do Ouvido;
• Fundadora e Diretora do Instituto Ganz Sanchez que há mais de 10 anos que é direcionado exclusivamente ao estudo e atendimento de pessoas com Zumbido, Misofonia e Hiperacusia;
• Criadora e coordenadora do: - GANZ: Grupo de Apoio Nacional a Pessoas com Zumbido;
• Idealizadora do Novembro Laranja (Campanha Nacional de Alerta ao Zumbido); -
• Idealizadora da TV Zumbido (www.tvzumbido.com.br);
• Blitz do Ouvido (no Programa Bem Estar Global)
• Membro da ABORL-CCF;
• Membro do Corpo Editorial das revistas científicas: Clinics, International Archives of Otorhi

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