De professor para professor

"Profissão de professor é algo muito nobre e sempre terá algo para comemorar por ser uma profissão de resistência no Brasil"

Thaissa Alvarenga* Publicado em 07/10/2021, às 07h24 - Atualizado às 08h00

Davi, 3 anos, aluno autista em uma escola regular em São Paulo -

Esta frase acima, logo depois do título,  é do professor Emílio Figueira, cientista, escritor, psicólogo e conferencista em educação inclusiva. Como empreendedora social e mãe de 3 crianças em idade de educação infantil, sinto uma esperança nas palavras dele. Desde o começo da pandemia, pude ver de perto os desafios enfrentados por famílias com filhos que deixaram o convívio social para se protegerem. É claro que isso trouxe lacunas na educação, principalmente para crianças e adolescentes com alguma deficiência, que além da escola, faziam terapias que foram diminuídas ou até canceladas por algum tempo durante este período. E qual o impacto disso para alunos com deficiência?

Emílio ficou com paralisia cerebral por falta de oxigenação no cérebro durante o parto. Há décadas, tem contribuído para que exista uma educação inclusiva em nossa sociedade. Neste Dia do Professor de 2021, gostaria de trazer algumas de suas palavras, pois o objetivo da ONG Nosso Olhar é promover a pluralidade e um novo olhar onde estivermos; e como podemos trazer esperança na educação inclusiva para professores, diante de tantos desafios enfrentados desde a chegada da covid-19?

Para Emílio, toda mudança precisa vir de dentro para fora. “A Educação Inclusiva é um desafio! E professores que a temem não conhecem ou não acreditam em seus potenciais e capacidade de dar resposta às questões e desafios da profissão. Eles podem ter uma estrutura emocional pouco sólida que origina o pessimismo e a negatividade, o que também se reflete em sua profissão. Nossa realidade atual, infelizmente, tem gerado pessoas desmotivadas, sem energia, esperando que alguma coisa as motive. Mas ao contrário, as motivações só podem vir de dentro para fora.”

Assista reportagem do  Papo de Mãe com o professor Emílio Figueira

Emílio ainda ressalta que “para se trabalhar com inclusão escolar, o professor precisa pensar positivo, sobre o que ele é capaz de conquistar, e não sobre suas dificuldades ou medos. Ter bastante clareza sobre o que deseja para sua profissão. O primeiro passo para avançarmos na inclusão será fortalecer a autoconfiança de nossos professores.”

Eu sei como é ser mãe do primeiro aluno com síndrome de Down em uma escola, vivi isso com o Chico. Era tudo novo pra mim. Primeiro filho, primeira vez na escola. Esta experiência me trouxe uma certeza, a inclusão só acontece quando escola, colegas e pais, veem o aluno com deficiência como alguém capaz de aprender e contribuir. O medo se transforma em motivação.

Tive um sentimento de gratidão ao ler as palavras do professor Emílio sobre o desenvolvimento de alunos com deficiência “Para a maioria dos professores e para a grande parte da população, ainda há aqueles velhos conceitos culturais referentes às pessoas com deficiência, pois imaginam que a deficiência está associada ao estado de doença e/ou que não as pessoas com deficiência não se desenvolvem ou aprendem como as demais. Ora, a aprendizagem e o desenvolvimento humano são individuais e ninguém tem um modelo a seguir.”

Veja também

Sim, cada um em seu tempo e todos dependemos uns dos outros. Minhas filhas mais novas aprendem com o irmão mais velho e ele aprende com elas. Diariamente vejo os 3 brincando e descobrindo o mundo juntos. Vejo o Chico voltando da escola onde viveu aventuras com seus colegas de classe. Essas aventuras trazem resultados de aprendizagem diferentes para cada criança, pois afinal temos percepções diferentes quando aprendemos algo.

Como seria a vida do Chico se ele não estudasse em uma escola regular? Bom, talvez em alguns casos, realmente o ideal seja desta forma, e isto é muito particular e uma decisão que cabe a cada família. Vendo a história do professor Emílio, que durante os anos 70, estudou em uma instituição para pessoas com deficiência e ao entrar na adolescência foi transferido para uma escola regular e então passou a ter um real desenvolvimento, sinto que estamos no caminho certo.

“Fui aceito no grupo escolar, do qual tenho o privilégio de, há quase trinta anos, ainda ter a amizade e contatos com alguns professores e amigos daquela época. Acredito que o processo de Inclusão Escolar e Social tem muito mais chances de sucesso em cidades pequenas. Nesses lugares, ainda encontramos algo fundamental no coração das pessoas: amor e capacidade de auxiliar e incluir a todos nos mesmos círculos de relações. Tudo é natural”, conta Emílio.

Se é assim que eu vejo a história do Chico em 30 anos? Com certeza! Não apenas o meu filho. Cada criança e adolescente neste mundo tem o direito de ser recebido de maneira natural, ser tratado com respeito e carinho, ser reconhecido como alguém que aprende no seu tempo e que tem muito a oferecer ao mundo.

Neste mês em que comemoramos o Dia do Professor, família e escola precisam andar lado a lado, para que a educação seja para todos, porque juntos podemos construir isto.

*Thaissa Alvarenga é criadora da ONG Nosso Olhar, do portal de conteúdo Chico e suas Marias e do canal do youtube Inclua Mundo.

InclusãoONG Nosso OlharInclua Mundoquebrar preconceitosprofessor

Leia também

Minha amiga Isis: a inclusão é possível


Inclusão não pode ser a própria exclusão


'A fala do ministro da Educação não representa uma sociedade que luta pela inclusão'


Pais em ação por um mundo mais inclusivo


Menino Maluquinho, de Ziraldo, agora tem amiguinho com síndrome de Down