Uma das grandes dificuldades relacionadas à endometriose é o atraso no diagnóstico
Dr. Marcelo Marinho* Publicado em 29/04/2021, às 00h00 - Atualizado às 12h38
Entende-se por endometriose a presença de tecido endometrial fora do útero, o que induz à uma reação inflamatória crônica e de intensidade e sintomatologia variáveis. É uma doença ginecológica de caráter benigno e com ampla apresentações clínicas. Enquanto algumas mulheres podem experimentar quadros dolorosos e infertilidade, outras podem mesmo não ter sintomas. A prevalência da doença pode variar de 2 a 10% de todas as mulheres em idade reprodutiva, mas quando pensamos nas mulheres inférteis, esse número pode representar algo em torno de 30 a 50%.
Uma das grandes dificuldades relacionadas à endometriose é o atraso no diagnóstico. Mesmo em países desenvolvidos, é relatado uma demora que pode chegar a 10 anos, como na Alemanha e Áustria. Ao longo do tempo, diferentes sintomas relacionados à doença tem sido relatados, sendo os principais a dor pélvica crônica, dismenorréia (cólicas na menstruação), dispareunia (dor às relações sexuais), complicações intestinais e urinárias, além da infertilidade.
O diagnóstico passa a ser suspeito com base na história clínica, nos sinais e sintomas, sendo confirmado pelo exame físico, exames de imagem e, finalmente, com a realização de procedimento cirúrgico de laparoscopia, em alguns casos, sendo a combinação da laparoscopia com o estudo histológico do material colhido durante este procedimento, o “padrão ouro” para o diagnóstico.
Dentre os exames mais comuns envolvidos com o diagnóstico da endometriose, estão o CA-125 (biomarcador presente no sangue), ultrassonografia transvaginal e ressonância magnética da pelve. O diagnóstico preciso da extensão e gravidade da doença pode ser mais difícil, em alguns casos, sendo, principalmente nas pacientes de maior dificuldade de controle da dor, indicado procedimentos cirúrgicos de laparoscopia, obviamente com equipes treinadas para tal abordagem.
O exame ginecológico é útil para identificar lesões palpáveis e dolorosas na parede vaginal, nódulos palpáveis na parede vaginal posterior e massas anexiais. Neste momento, são muito úteis os exames de imagem para confirmação do diagnóstico.
Sabe-se da associação da endometriose com infertilidade como: relação de causalidade real em 25 a 40% dos casos. Embora os exatos mecanismos pelos quais isso ocorre sejam ainda não tão claros, considera-se desde alteração na quantidade e qualidade dos óvulos até alterações anatômicas da pelve decorrentes do processo inflamatório crônico, além de alterações de receptividade do endométrio para implantação embrionária. Na literatura, é uma realidade que mulheres com endometriose tenham menores taxas de gravidez e de nascidos vivos, maiores taxas de abortamento e de gravidez ectópica
Diversos estudos de revisão sistemática e meta-análises, têm modificado a forma de abordagem e tratamento das pacientes de modo individualizado, fazendo parte desse arsenal terapêutico as medicações hormonais à base de progestágenos, agonistas de GnRH e inibidores de aromatase, de modo isolado ou associados.
A queixa de dor pélvica e sua intensidade influem diretamente na decisão da abordagem cirúrgica destes pacientes. Para as pacientes com infertilidade causada pela endometriose, igualmente, a conduta deve ser individualizada.
Assim, a estratégia será definida de acordo com cada caso, onde mulheres com endometriose e infertilidade podem se beneficiar tanto de tratamento cirúrgico laparoscópico inicial como de tratamento hormonal medicamentoso, dependendo da gravidade do caso, devendo, para tal, ser criteriosamente avaliada, sempre levando-se em consideração a gravidade do caso, mas também a idade e reserva folicular ovariana, visto que tais pacientes apresentam risco significativo de dano tecidual ovariano.
Por fim, deve-se sempre considerar a possibilidade de preservação de fertilidade por congelamento de óvulos para as pacientes com endometriose sem intenção de engravidar, devendo-se sempre ser presente a preocupação com adequada avaliação da reserva folicular ovariana.
*Dr. Marcelo Marinho de Souza
Graduado em Medicina com Mestrado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro; Diretor Médico da FERTIPRAXIS Centro de Reprodução Humana, especialista em Reprodução Humana com títulos pela Rede Latino Americana de Reprodução Humana (REDLARA) e Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO). É membro da American Society for Reproductive Medicine (ASRM) e da European Society of Human R
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