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A importância de falarmos sobre a Endometriose

No Dia Internacional da Luta Contra a Endometriose (7), entenda um pouco mais sobre essa doença que atinge cerca de 15% do público feminino

Carolina Novaes* Publicado em 07/05/2021, às 00h00 - Atualizado às 13h29

Cólica menstrual intensa na endometriose
Cólica menstrual intensa na endometriose

De acordo com a ginecologista e obstetra Tatiana Provasi Marchesi, a endometriose corresponde a um distúrbio no tecido que normalmente reveste o útero por dentro – chamado endométrio – que passa a se reproduzir também nos ovários, nas tubas uterinas, na cavidade pélvica, em geral, e até no intestino.

Mais frequente entre mulheres de 25 a 35 anos de idade, a endometriose afeta pelo menos 10% da população feminina brasileira, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e pode chegar a 15% entre as mulheres de todo o mundo. Nesta sexta-feira (7), celebra-se o Dia Internacional da Luta Contra a Endometriose, com o objetivo de promover a conscientização sobre a doença e seus tratamentos.

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Em alguns casos, as mulheres que desenvolvem essa condição podem ser assintomáticas, mas o principal sinal da presença da doença é justamente a cólica menstrual intensa e, geralmente, de caráter progressivo ao longo da vida.

“Extremamente comum no público feminino, a endometriose começa lá na adolescência e piora ao longo dos anos, gerando prejuízo na qualidade de vida e incapacitando a mulher de exercer as atividades diárias, já que dificilmente as dores melhoram com medicações”, explica.

Dra. Tatiana Provasi Marchesi
Dra. Tatiana Provasi Marchesi. Foto: arquivo pessoal.

Além da dor intensa no período menstrual, a ginecologista explica que a endometriose também pode gerar incômodo durante a relação sexual, alterações intestinais e urinárias e, em até 50% dos casos, a infertilidade. “Isso pode acontecer porque as células se reproduzem nas tubas e geram uma obstrução, que impede o encontro do espermatozoide com o óvulo”.

Segundo Tatiana, a doença geralmente acomete mulheres que tenham relato em histórico familiar – mães, irmãs e parentes de primeiro grau –, mas também pode se manifestar com a queda da imunidade, estresse crônico, ansiedade, entre outros transtornos emocionais.

Stephanie Guarido. Foto: arquivo pessoal
Stephanie Guarido. Foto: arquivo pessoal

O Papo de Mãe conversou com Stephanie Guarido, 25, curadora de arte, sobre o caso dela com a endometriose: “O processo de descoberta da endometriose foi muito horrível, não foi agradável, foi péssimo, eu sempre tive problema com menstruação minha vida inteira, sempre parei no hospital durante toda a adolescência. Minha menstruação sempre foi sinônimo de doença. Mas quando eu tinha 21 anos eu tive um episódio de dor horrível que ia para além da menstruação, passei um mês com muita dor, fiz vários exames, ninguém descobria nada, e ao consultar um ginecologista, ele me disse que deveria ser uma infecção e me receitou um antibiótico.” 

Guarido diz que tomou a medicação prescrita, mas já vinha há algum tempo pesquisando na internet sobre os sintomas que estava sentindo, e fez uma ressonância magnética com preparo para endometriose.  Ela só obteve o identificação após passar com alguns profissionais que se pautaram também em um diagnóstico clínico. “Eu tenho lidado com isso de maneira muito mais positiva, depois de iniciar o tratamento e ter uma resposta. Tento ter uma alimentação mais saudável e comer bem, porque quem tem endometriose tem que ter uma dieta balanceada. Por ela ser uma doença muito sorrateira, atinge lugares que você não imagina.” complementa. 

Uma pesquisa publicada no International Journal of Nutrology (THIEME), destaca que “[…] dentre as causas para o desenvolvimento e manutenção da endometriose, encontra-se a nutrição que possui evidências mostrando seu impacto na origem e progressão da doença”.

Tratamento e conscientização

 Para dar início ao tratamento, a ginecologista explica que é necessário um mapeamento através de uma anamnese detalhada, história clínica da paciente, análise de suas queixas, exame físico para a procura de nódulos na vagina e/ou reto, exames de imagem com equipe especializada e com experiência na doença, entre outros métodos que podem ser solicitados. 

“A partir disso, o tratamento pode ser clínico ou cirúrgico a depender da extensão e da gravidade. Atualmente, dois terços das pacientes se beneficiam com o tratamento clínico medicamentoso, que é basicamente feito com anticoncepcionais combinados ou apenas de progestógenos, o DIU de progesterona e tudo que suspenda a menstruação para que a paciente tenha melhora na qualidade de vida e nos sintomas de dor”, explica.

Já os casos que não apresentam melhora com tratamento clínico são tratados através de uma cirurgia por vídeo, chamada de videolaparoscopia, que avalia a cavidade pélvica, localiza os implantes de endometriose e faz a ressecção. Contudo, para algumas pacientes, é possível que nenhum dos tratamentos seja 100% eficaz.

Para Tatiana, a importância de estipular uma data especial para a luta contra a endometriose é a possibilidade de conscientização sobre a prevalência da doença entre o público feminino, como uma condição que afeta drasticamente a qualidade de vida, relações sexuais e o desejo reprodutivo dessas mulheres.

“O diagnóstico precoce da doença permite um tratamento mais efetivo, melhorando a qualidade de vida dessa mulher. É importante destacar que isso será feito de forma multidisciplinar e pode envolver ginecologista, radiologista, psicoterapia devido ao transtorno que isso pode causar na vida da paciente, nutricionista para ajudar em uma dieta anti-inflamatória, e até educadores físicos”, diz.

*Carolina Novaes é repórter do Papo de Mãe.  

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