Uma mãe não deixa ninguém fazer mal a um filho. Será? Será que toda mãe ama incondicionalmente a seus filhos?
Vinicius Campos* Publicado em 09/04/2021, às 00h00 - Atualizado às 11h14
Ser mãe ou pai não nos torna pessoas melhores. O caso de Henry dói, machuca e revolta, porém ele não é único e exclusivo. Milhões de crianças nesse momento estão sofrendo no Brasil. Que a indignação por este final cruel e triste nos faça pensar de que maneira podemos salvar nossas crianças.
Mais um caso de violência contra uma criança. Desta vez com um final ainda mais trágico.
Um médico (médico!!!), político, que se autointitulava “defensor da família”. Apoiador do inescrupuloso presidente Jair Bolsonaro, envolvido com a milícia, esse tipo de homem que leva a bíblia embaixo do braço e dentro dela uma arma.
E como cúmplice a mãe do menino.
Talvez a presença da mãe é o que torna tudo ainda mais inacreditável, pelo menos para parte da sociedade.
Li diversas ofensas contra ela. Nas redes as pessoas estavam indignadas, acho que havia mais agressões contra ela que contra Jairinho. E pensei: será machismo? Será que as mulheres sempre são o alvo mais fácil?
Por outro lado pensava: é a mãe. Uma mãe não deixa ninguém fazer mal a um filho.
Será? Será que toda mãe ama incondicionalmente a seus filhos ou é a imagem criada por nós homens para que elas sejam as únicas responsáveis pela educação de nossos pequenos?
Será que toda essa “santidade” imposta às mães não é um jeito de que os pais não assumam sua parte na educação dos filhos?
Ser mãe ou pai não nos torna pessoas melhores. Obviamente que educar uma criança nos faz mudar o olhar, colocar o foco em coisas mais importantes, ver a vida de um jeito novo, mas ninguém se torna efetivamente melhor porque pariu ou porque engravidou uma mulher. O processo de transformação vem da convivência, do exercício da parentalidade, da superação dos desafios.
Não é preciso ser pai ou mãe para não ferir uma criança, pra não bater, não agredir. E talvez quando a sociedade coloque menos importância nas relações biológicas, as adoções se tornem mais frequentes e a bondade mais presente.
Quando se entende de verdade que para amar não é necessário vínculo de sangue, talvez nos responsabilizemos por todas as crianças abandonadas, talvez entendamos a importância de se pensar políticas públicas que protejam não somente a nossos filhos, mas a todas as crianças do nosso país, talvez os governantes entendam a importância de alimentar e educar nossos pequenos, talvez lutemos para que nenhuma criança sofra violência e todas encontrem o ambiente ideal para se tornarem adultos felizes e realizados.
O caso de Henry dói, machuca e revolta, porém ele não é único e exclusivo. Milhões de crianças nesse momento estão morrendo de fome no Brasil, estão sendo maltratadas, abusadas, violentadas, não estão recebendo a educação necessária, estão vivendo embaixo de pontes, em lugares sem saneamento básico, estão em ambientes inseguros, em casas precárias, estão cuidando de seus irmãos menores enquanto os pais tentam ganhar o pão de cada dia.
Que a nossa indignação pelo final cruel e triste que teve Henry nos faça acessar nosso lado mais humano, e pensar de que maneira vamos salvar as crianças que mais sofrem. Pensar quais projetos políticos vamos apoiar para transformar essa situação, quais ONG’s vamos financiar para fazer aquilo que os governos não fazem.
O mundo só será melhor quando nos responsabilizarmos por todas as crianças que nele vivem, enquanto isso teremos que dormir com o coração apertado sabendo que enquanto nossos filhos estão em casa, protegidos em suas camas quentinhas, tantos outros estão à beira do abismo.
Henry. Saudades. Paulo Gustavo. Juliette. E que comece o espetáculo!
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