Em grande parte das afirmações sobre a lactogestação, não há embasamento científico
Dr. Moises Chencinski* Publicado em 11/01/2021, às 00h00 - Atualizado às 09h55
Você está amamentando seu filho de quase 2 aninhos, de repente, não mais que de repente, a menstruação, que estava normal, falha… E agora? Dúvidas, cálculos, aplicativos e testes depois…
Planejado, surpresa ou surpreendentemente planejado… Você está grávida.
Entre parabéns, palpites, preocupações, mais palpites da família e de amigas e das redes sociais e as muitas dúvidas, começa o pré-natal, que vai seguir e garantir uma “gestação saudável” e um “parto possível”.
Primeira consulta, seu obstetra feliz pela notícia recebe você, o pai, seu filho (não teve com quem deixar) que fica agitado. Para acalmá-lo, você o pega no colo e o amamenta. Ele fica tranquilo e seu médico desconfortável.
E, assim como você já tinha ouvido de familiares, lido na internet e até no grupo de mães que você participa, vem o veredito médico:
– Além de não precisar mais, afinal seu filho já tem quase dois anos, agora que você engravidou, “não pode mais amamentar”.
– Mas qual a razão para isso? Preciso mesmo suspender assim?
– Como eu disse, primeiramente, ele já é grandinho demais para mamar e não tem mais nenhum benefício no leite materno. Além disso, amamentar libera a ociticina que aumenta o risco de abortamento. E, ainda por cima, amamentar nessa fase pode atrapalhar o crescimento do feto e agravar uma anemia em você.
Cena muito comum, apesar de termos muitos médicos que já sabem que essa não é a recomendação mais adequada. Essa informação pode ser melhor analisada através das redes sociais, mas, principalmente, através de fontes seguras como a OMS, o Ministério da Saúde, a Sociedade Brasileira de Pediatria e a FEBRASGO.
Esse é o nome dado ao processo de manter a amamentação do lactente durante o período de gestação. Essa questão é motivo de muitos estudos e muita pesquisa.
Muitos mitos aparecem nesse período de vida da mulher. Com certeza, a maioria tenta ajudar, mas, em grande parte dessas situações, elas não têm embasamento científico.
OCITOCINA– É conhecido como o hormônio do prazer. Ele aparece na gestação e parto (provocando contrações uterinas), durante a amamentação (favorecendo a saída do leite produzido nas glândulas mamárias) e no orgasmo (com a sensação de prazer).
Prolactina (produção de leite) e ocitocina são hormônios fundamentais no processo de aleitamento materno e agem sempre que um bebê mama.
A ocitocina promove pequenas contrações uterinas durante a gestação e só agem na condução do parto de um útero pronto para parir, ou seja, no final da gestação.
A ocitocina liberada em um orgasmo é muito, muito, muito maior do que a liberada na mamada, que sozinha não consegue desencadear um trabalho de parto. Mas, alguém já recebeu a orientação de não ter orgasmos durante a gravidez? Não, né?
Em algumas mulheres que já apresentaram abortamentos anteriores, partos prematuros ou quando é uma gestação de risco, é necessário avaliar cada uma dessas situações.
RISCOS PARA A MÃE OU PARA O FETO – Tudo o que a mãe come será dividido entre ela, o bebê que está mamando e o feto. E cada um tem suas necessidades próprias. Assim, durante o pré-natal, o obstetra indicará a necessidade de suplementação vitamínica (ferro, ácido fólico, por exemplo) para prevenção de problemas na saúde da mulher e para ajudar o feto em seu desenvolvimento.
Para uma boa produção de leite, a mãe lactante tem necessidade de 500 calorias a mais, bem distribuídas e equilibradas, na sua alimentação. E isso já acontece antes da nova gravidez.
O leite materno é o alimento exclusivo até o 6º mês, o principal entre 6 meses e 1 ano e passa a ser alimento complementar, mas muito importante ainda, a partir daí até o desmame natural. Assim, durante a gestação, o organismo da mãe já reserva parte maior e mais significativa de seus nutrientes e vitaminas que toma para ela e para o feto, sem trazer riscos a nenhum dos três envolvidos.
DESMAME DO MAIS VELHO – Não, ele não é obrigatório. Não existem estudos robustos que indiquem, como rotina, suspender a amamentação do bebê mais velho, por qualquer justificativa. Mas, sim. Ele pode acontecer. O sabor do leite materno pode se modificar durante a gestação. Além disso, pouco antes do parto, o organismo da mãe se prepara para o novo bebê e o leite volta a ser produzido como colostro (sabor, cor, cheiro e quantidade diferentes) o que pode fazer com que algumas (a minoria) das crianças parem de mamar.
ESTUDOS – Para quem gosta de pesquisar, podemos citar várias pesquisas que mostraram que não há diferenças em riscos de abortamento e parto prematuro significativo entre gestantes que amamentam ou não durante a gestação e não afeta o peso do bebê que vai nascer.
Nossa missão, como profissionais de saúde, é nos atualizarmos para oferecer às mães informações éticas e corretas para que elas decidam qual o caminho que pretendem seguir. Ou seja, a decisão continua sendo da mãe e dos bebês.
Massssssssssss… na imensa maioria, a LACTOGESTAÇÂO só acaba com o parto.
E, a partir daí… Isso é história para um próximo post. Até lá.
*Dr. Moises Chencinski é pediatra e homeopata.
Presidente do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo (2016 / 2019 – 2019 / 2021).
Membro do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria (2016 / 2019 – 2019 / 2021).
Autor dos livros HOMEOPATIA mais simples que parece, GERAR E NASCER um canto de amor e aconchego, É MAMÍFERO QUE FALA, NÉ? e Dicionário Amamentês-Português
Editor do Blog Pediatra Orienta da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
Criador do Movimento Eu Apoio leite Materno.
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