O pediatra Moises Chencinski explica a livre oferta dentro do útero e a livre demanda quando o bebê nasce
DR. MOISES CHENCINSKI* Publicado em 26/01/2022, às 08h31
Muita calma nessa hora. Não se revolte. Vou explicar melhor a origem dessa questão.
Segundo Reinaldo Pimenta (professor de língua portuguesa) e segundo também Câmara Cascudo (antropólogo, historiador, jornalista e advogado), Casa da mãe Joana é uma expressão que significa lugar que não tem leis nem regras, onde tudo é válido, a confusão predomina, com desorganização de horários e cada um faz o que quer e o que bem entender.
Mas a história conta que a mulher que deu nome a tal casa, Joana, viveu no século 14, era condessa de Provença e rainha de Nápoles (Itália) e fugiu para Avignon pelas suspeitas de que tivesse participado da morte de seu marido (Andrew). Lá, entre outras ações, ela regulamentou os bordéis da cidade. Uma das normas dizia: "o lugar terá uma porta, por onde todos possam entrar".
Mas vamos focar na versão da bagunça, sem regras, sem horários, tá? E aí convido vocês para uma volta ao útero. Assim, outra origem ficará mais clara.
São meses de convivência (nem sempre) pacífica entre mãe e seu bebê, durante a gestação. Muitas alterações. Mas você já se perguntou como o feto cresce, se desenvolve e vira seu bebê?
Quase algo como:
“Fetos. Quem são? Como vivem? Como respiram? Do que se alimentam?”
Primeiro um conceito.
Respiração: troca de oxigênio por gás carbônico nos tecidos. Tá pensando como isso pode acontecer dentro do útero, cheio de líquido amniótico que encharca os pulmões, né? Não estava? Humm. Tá. Mas vou explicar mesmo assim.
Dentro do útero, o bebê respira por meio do cordão umbilical. Quando? O tempo todo. Em “livre oferta”. Aí, no parto, alguém corta o cordão umbilical e diz:
- “Agora você tem que respirar de 10 em 10 minutos”.
Não, né? Ele vai respirar quando precisar.
Ainda dentro do útero, o bebê recebe o seu alimento através do cordão umbilical. Quando? O tempo todo, em “livre oferta”. Aí ele nasce, alguém corta o cordão umbilical e vai dizer pra ele:
- “Agora você vai mamar de 3 em 3 horas, 15 a 20 minutos de cada lado?”
Nãooooooo. Lógico que não.
Ele vai mamar sempre que quiser. Em livre demanda (olha ela aí, gente). Ou ele pode mamar, sempre que a mãe quiser amamentar, sem a necessidade de ter um intervalo ou uma duração definidos.
Bebê nasceu. Sabe quanto cabe de leite materno por mamada no estômago de um recém-nascido? 5 a 7 ml (uma colher de chá). Esse leite de mãe é perfeito e vai ser absorvido e digerido com facilidade e, daqui a pouco, a fome vai voltar. Quanto é esse pouco? Cada bebê tem seu ritmo, sua necessidade. E cada mãe tem sua produção de leite. Aliás, essa é uma das razões para o bebê regurgitar mais. Qualquer quantidade acima é excesso e não cabe.
O crescimento geral do bebê é rápido. Ele triplica de peso em um ano (em média de 3 para 9 kg). Ele ganha 50% de comprimento durante um ano (50 para 75 cm). Para isso, todos os seus sistemas e órgãos crescem e se desenvolvem muito rapidamente. Pode procurar as fotos no Google que comparam o tamanho do estômago do bebê com uma cereja, noz, pêssego, ameixa, ovo que ele, aliás, não vai nem chegar perto até o 6º mês (só o leite de mãe é necessário e suficiente até lá).
Mas pra seguir no ritmo do crescimento, o bebê mama de 5 a 7 ml no 1º dia de vida, vai chegar a 250 ml por mamada, com um ano de vida. Mas eu não vejo quanto ele mama no seio. Como é que eu vou saber quanto ele mama e se está suficiente?
Só no 3º dia já chega em 25 ml por mamada (darem 30 ml de fórmula para o recém-nascido na maternidade, além de ser um desestímulo... não cabeeeee). Com 1 semana – 45 ml, 2 semanas – 70 ml e ao final de um mês, entre 80 e 150 ml (nossa que diferença, né?). Vai uma continha a partir daí? A quantidade vai para 20 ml por kilo, por mamada. Aos 6 meses, ele pesa cerca de 7,5 kg? Pode mamar 150 ml. É sempre uma média, uma estimativa.
Então, se ele mamar 5 a 7 ml, a digestão é rápida e o bebê vai mamar de 10 a 12 vezes em 24 horas. Conforme couber mais, ele mama mais, leva mais tempo para digerir e espaça as mamadas.
Na livre demanda, o bebê determina quando e quanto ele precisa mamar. Mas, o bebê não pede só por fome. Sede, cólicas, necessidade de contato, exterogestação podem trazer o bebê ao seio materno.
Mas, em termos de alimentação, podemos complementar como livre demanda eficaz. E a avaliação pode ser medida pelo número de fraldas molhadas (5 a 6), com urina clara e sem cheiro. O ganho de peso é importante, mas sem estabelecer metas. E, o principal: Olhe pra ele. Ele está bem? Ativo? Esperto? Curioso? Feliz? Depois que mama, larga o seio e dorme? Então...
Se ainda não tiver certeza, ofereça novamente. E se ainda tiver dúvidas, conte sempre com seu “pediatra de estimação”, de confiança.
*Dr. Moises Chencinski , pediatra e homeopata.
Membro do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria (2016 / 2019 – 2019 / 2021).
Autor dos livros HOMEOPATIA mais simples que parece, GERAR E NASCER um canto de amor e aconchego, É MAMÍFERO QUE FALA, NÉ? e Dicionário Amamentês-Português
Editor do Blog Pediatra Orienta da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
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