O ator e escritor Vinicius Campos faz uma reflexão sobre nossos filhos e o uso de drogas: a importância da conversa
Vinicius Campos* Publicado em 27/08/2021, às 10h44
Começaram a aparecer alguns sinais. Um isqueiro no quarto. De quem é esse isqueiro? Um amigo esqueceu aqui. Uma caixinha de papel para armar. Outro amigo. Até que um dia apareceu ali, na cabeceira da cama, um beck armado, meio fumado. Já não havia amigos. Hora de encarar o problema.
Problema? Será um problema?
Minha primeira reação foi a mesma quando minha mãe descobriu que eu estava fumando. Achei que o mundo ia acabar, que a vida dele ia acabar, que ele estava indo por um caminho de destruição. Pânico!
Depois sentei e tentei deixar a emoção do impacto me abandonar e comecei a contextualizar.
Eu também fumei, confesso que fumo. Meus amigos fumaram.
Por que agora me assustava tanto? Por que é meu filho?
Também, mas talvez pela idade. Ele é muito mais jovem do que eu quando experimentei. Mas o mundo mudou também. Aqui, na Argentina, a maconha está em cada esquina, se fala sobre o assunto, se fuma, se discute sua legalização. É natural que a garotada tenha acesso mais cedo do que eu tive. Porém, quando me pus a pensar, grandes amigos meus, com vidas formadas e tranquilas começaram a fumar com a idade do meu filho.
Respirei mais tranquilo.
Precisávamos ter uma conversa. Saindo de um restaurante, caminhando até o carro, o encarei.
Você está fumando maconha?
Depois de um pequeno silêncio a confirmação.
Por que?
Porque me faz bem.
Sim, a maconha faz bem, mas também faz mal. Você sabe as consequências de fumar? Você conhece as consequência para um cérebro em desenvolvimento?
Não. Ele não sabia.
Há uns tempos comprei um livro argentino de uns cientistas que dizem, de forma científica e sem o desespero de minha mãe, todos os benefícios e malefícios de qualquer droga, incluindo o álcool, que está muito mais presente na vida de nossos filhos, que está legalizado, e que realmente traz consequências horríveis para seus consumidores.
Falei sobre o livro, sugeri que ele o leia, que conheça tudo sobre a droga que pretende consumir para ver se realmente quer continuar consumindo.
Também conversei sobre o filtro que as drogas colocam na vida. Fumar maconha muda a percepção das coisas, deixa tudo com outro ritmo, outra cor. E perguntei: não será que antes de colocar o filtro você não deveria viver experiências que ainda não viveu? A primeira vez no sexo, viagens pra lugares diferentes, tocar violão com os amigos numa noite estrelada, o amor, conquistas pessoais, enfim, tantas coisas para viver antes de usar o filtro. A vida é uma experiência incrível e estar careta para vivê-la é muito interessante.
Óbvio que me preocupa que ele não tenha maturidade suficiente para lidar com isso. Claro que se eu pudesse escolher gostaria que o consumo de drogas começasse muito mais tarde, mas isso não é algo que nós pais podemos fazer. Proibir? Seria inútil, quem tem filho sabe que proibições talvez funcionem com crianças pequenas, mas depois de uma idade, eles saem de casa, vão encontrar com os amigos, e fazem o que quiserem, sem nem ao menos a gente imaginar.
O fato dele ter dado pistas sobre seu consumo mostrava que ele queria dividir o que estava acontecendo, porque se ele quisesse esconder, teria mantido o segredo por muito mais tempo. Então, escolho acolher, e que meus filhos entendam que não importa o que estejam fazendo, eu serei o ombro que eles precisam, serei a paz e a proteção para que possam continuar desbravando a vida com a tranquilidade, que estarei ao lado, pronto para atendê-los.
Sei que nossos corações de pais e mães sofrem, mas manter a calma, buscar informação e transbordar de amor e paciência, ainda acredito ser o melhor caminho. E depois enfrento algumas noites de sono mal dormido, me questionando se tomei a melhor decisão. Quem, não? Quem, nunca?Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Papo de Mãe.
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