A prevenção do suicídio começa na conversa e no acolhimento. Identificar a depressão e outros transtornos mentais é muito importante, avalia Andrea Ladislau, doutora em psicanálise
Ana Beatriz Gonçalves* Publicado em 01/09/2021, às 14h11
Entramos no mês de Setembro Amarelo, período em que se discute amplamente a importância do cuidado com a saúde mental, afim de prevenir e evitar o suicídio, ato de desespero cometido por pessoas que sofrem de depressão, ansiedade ou outros transtornos mentais e psicológicos.
Ainda que o assunto não deva se restringir exclusivamente a este mês – afinal, é preciso que a conscientização aconteça o ano inteiro, todos os meses – a campanha tem se fortalecido nos últimos anos. Mas com a chegada da pandemia, o cenário envolvendo saúde mental apresentou uma piora, o que faz então que o debate se torne ainda mais necessário.
Pesquisas recentes revelam um aumento no número de casos de ansiedade e depressão no Brasil, pelo menos é isso mostrou dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que apontam um crescimento no diagnóstico de depressão de 34,2% em seis anos.
Outra pesquisa realizada pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), a COVIDPsiq, com mais de seis mil pessoas, concluiu que 65% delas tiveram uma piora da saúde mental, após adotarem as medidas de afastamento social. Os dados tornam-se ainda mais alarmantes, pois apenas 32,4% dos participantes relataram algum diagnóstico prévio de doenças mentais.
Em conversa com o Papo de Mãe, a doutora em psicanálise Andrea Ladislau diz que o público adolescente ainda é o que mais sofre com depressão e transtornos, sendo então uma população de risco da prática de suicídio.
"Sabemos que, no Brasil, a taxa de crescimento de casos de suicídio na faixa etária de 10 a 14 anos aumentou 40% em dez anos e 33,5% entre adolescentes de 15 a 19 anos. Em média, dois adolescentes tiram a própria vida por dia, segundo pesquisas. Números alarmantes que preocupam cada vez mais", alerta a especialista.
Apesar de a depressão ou qualquer outra doença psíquica não escolher gênero, cor e nem faixa etária – crianças, adultos e idosos também sofrem ao ponto de tirarem a própria vida – a adolescência é uma fase da vida de muitos altos e baixos em função das insatisfações e angústias próprias da idade, aponta a psicanalista.
"O indivíduo tem nesse momento, seus hormônios fervilhando, suas emoções gritando, um mundo cheio de surpresas e novidades se despontam e ele ainda não sabe como lidar com isso, afinal também está se descobrindo. Desta forma, pode vir a se entregar de forma mais contundente a alguns transtornos por pura falta de autoconhecimento e, infelizmente, se torna presa fácil a desenvolver transtornos e distúrbios mentais".
O primeiro passo para a prevenção é a ajuda, por isso é imprescindível que a doença seja logo identificada. De acordo com Andrea Ladislau, embora a depressão seja silenciosa e cada pessoa tenha sua maneira de reagir a doença, ela sempre dá um grito de socorro, seja com palavras ou atitudes.
Se alguém usa frases como: 'não vejo razão para continuar vivendo', 'quero morrer' e 'minha vida não tem sentido', não ignore, porque são sinais evidentes", alerta.
Existem alguns sinais importantes, segundo a doutora, sendo eles:
A especialista afirma que quanto antes for diagnosticado, melhor é para tratar. "O controle da intensidade da depressão fará com que outras doenças psíquicas/mentais não sejam associadas e com isso o caso não se torne irreversível, levando até a uma necessidade de interrupção da vida, dado que a dor emocional é muito forte".
A tristeza profunda e a falta de sentido podem levar o indivíduo a querer livrar-se da dor. O primeiro passo para fornecer ajuda, de acordo com a especialista, é a escuta de maneira respeitosa e sem julgamentos.
"A maneira de acolher é que precisa ser observada para não causar um dano maior. Por exemplo, evite frases do tipo: 'você não tem motivo para estar assim' e 'você tem tudo', 'que bobagem, vai viver', entre outras. Devemos respeitar e permitir que a pessoa consiga se expor, se abrir. Sem fazer julgamentos. Orientar para que busque ajuda profissional", afirma.
Julgar, desrespeitar quem está nessa condição, só serve para aumentar o sofrimento. Se você ouvir, acolher e amar, já será uma grande ajuda". (Andrea Ladislau)
O afeto e o diálogo são grandes aliados para prevenir o suicídio.
Na opinião da psicanalista, todas as pessoas deveriam ter a oportunidade de se autoconhecer através de um processo psicoterápico. Ainda existe um tabu muito grande, segundo ela, em torno da terapia. "Não é coisa de maluco. É um ato de autocuidado e autoconhecimento. Afinal, quem cuida da mente, cuida da vida", defende.
Como a fase da adolescência é um período recheado de descobertas, inseguranças e desafios emocionais, o acompanhamento médico é importante para aliviar o estresse, as tensões cotidianas e também ajudar a resolução de conflitos, segundo a doutora.
"É preciso se familiarizar, promover e buscar um melhor entendimento sobre o relacionamento consigo mesmo", reforça.
*Ana Beatriz Gonçalves é jornalista e repórter do Papo de Mãe
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