Renata Kotscho, noveleira e colunista do Papo de Mãe, comenta sobre a novela Pantanal e os filhos de Zé Leôncio
Renata Kotscho* Publicado em 06/06/2022, às 08h41
José Leôncio tem três filhos, mas até bem pouco tempo na novela ele sentia que não tinha nenhum.
Seu filho "legítimo" , fruto do casamento do peão com a burguesinha carioca Madeleine, havia renegado o pai. O esquerdomacho ficou ofendido com o discurso homofóbico do peão e foi morar na tapera com sua amada Juma Marruá.
Tadeu, o filho com a ex-prostituta que é governanta e também divide a cama com o patrão, Filó, é tão trouxa quanto a mãe. Agora, além de ser tratado como mais um peão xucro da fazenda do pai, ele ainda é feito de gato e sapato pela Gutinha Regatinha.
Por último apareceu Zé Lucas de nada, o mineirinho filho de outra moça de casa de currutela, uma morena que atendia pelo sugestivo nome de Dona Generosa e pegou a barriga de um moleque de 15 anos.
Agora os três filhos querem agradar e impressionar o pai e fazem isso tentando se parecer com ele. Juventino está aprendendo a laçar e quer buscar um boi marruá no pasto, Tadeu enciumado quer aprender a ser um homenzinho de negócios e Zé Lucas gosta de dizer que Cavalo Preto é sua moda de viola favorita. Agora José Leôncio é um pai feliz.
Do lado da maternidade temos a Juma Marruá, a menina filha única da lendária Maria Marruá, que “vira onça quando está com reiva” como fazia sua mãe.
Essas relações da novela me fizeram refletir sobre o quanto a maternidade e a paternidade podem ser narcisistas. Queremos nos enxergar nos nossos filhos. Queremos reconhecer os nossos talentos nos talentos deles. Queremos transmitir o melhor da nossa genética de forma que nossos filhos sejam versões evoluídas de nós mesmos.
E muitas vezes nos frustramos quando isso não ocorre.
Zé Leôncio não se conformava em ter um filho vegetariano com jeito de frozô e que tinha medo de montar a cavalo. Como assim meu filho não é meu espelho?
É claro que não há nada de errado na gente gostar de reconhecer traços nossos nos nossos filhos, mas é importante também que eles sejam livres para traçar o próprio destino e pode ser que as escolhas deles, ou a personalidade, ou o físico não seja muito parecida com as nossas.
Nossos filhos não vieram ao mundo para dar continuidade ao que a gente fez, ou para conquistar o que a gente não conseguiu conquistar, eles vieram criar a história deles, do jeito deles, não dos nossos e quanto mais a gente reconhece e respeita as individualidades, mais elas florecem.
Deixa os meninos, Zé.
Uma nota sobre violência contra a mulher na novela Pantanal. No capítulo que foi ao ar dia 26 de maio, a personagem Muda sofreu uma violência sexual. Corretamente a personagem Irma alertou que ela deveria fazer a denúncia discando 180, que é a Central de Atendimento à mulher em situação de violência. É muito importante que a mulher que sofre violência não seja questionada se provocou ou não (como fizeram com a Muda) e receba todo o apoio para fazer a denúncia o mais rapidamente possível. Na novela, as personagens femininas preferiram não fazer nada e esperar o patriarca Zé Leôncio chegar para “decidir o que fazer”. Um péssimo exemplo.
*Renata Kotscho é noveleira e fofoqueira te convida para assistir e fofocar sobre Pantanal. Tem 3 filhas adolescentes.
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