Luana Tolentino é autora do livro “Outra educação é possível: feminismo, antirracismo e inclusão em sala de aula”
Roberta Manreza Publicado em 16/03/2021, às 00h00 - Atualizado às 15h24
Filha de Enelita, que trabalhou como empregada doméstica e hoje é cozinheira, e de seu Nicolau, que tem um bar, Luana também começou trabalhando como empregada doméstica. Mas os livros, os pais, a força de vontade e políticas públicas fizeram com que a vida dela mudasse completamente e agora a professora se prepara para virar também doutora em educação (ela entrou na UFMG).
“É importante falar do impacto da educação na minha vida. Eu venho de uma família pobre, filha de mãe semi-alfabetizada e pai que concluiu o ensino fundamental. Mesmo nos momentos de precariedade, cresci numa casa cheia de livros. Meus pais tinham essa percepção do valor da educação” (LT)
Um dos focos do trabalho dela é a formação inicial e continuada de professores. Luana também chama a atenção para a triste realidade da mulher negra, como ela, no nosso país: “As mulheres negras nesse país estão na parte mais baixa da pirâmide. Entre a população que não aprendeu a ler nem escrever, as mulheres negras são maioria. Estão em funções de menor prestígio social, que as colocam em condição de subalternidade. A maior parte das empregadas domésticas são mulheres negras. Eu reconheço meu lugar de exceção”, lamenta Luana. E completa: “Daí a minha luta para que outras consigam acessar os lugares que hoje posso acessar”.
“O fato de eu estar aqui hoje, de eu escrever, de eu chegar ao doutorado, sair da condição de empregada doméstica à de doutoranda, se deve à educação. O mais importante é levar aos estudantes o valor da educação”. (LT)
Luana também ressalta a importância das políticas públicas de combate ao racismo na educação. “Eu sou filha das políticas públicas de expansão do ensino superior, das políticas públicas de cotas, das ações afirmativas e infelizmente essas políticas estão seriamente ameaçadas no momento atual.”
Sobre a importância da inclusão da cultura africana a afro-brasileira no currículo escolar, determinada por lei, Luana diz que isso é fundamental. “No nosso país não se espera que nós, mulheres negras, estejamos neste lugar de pensadoras, de produtoras de conhecimento. A expectativa que nosso país tem é que estamos neste mundo apenas para servir e limpar a sujeira dos outros.”
Como os pretos aguentam?
Campanha do Geledés, Instituto da Mulher Negra, propõe o debate sobre Racismo e Bullying
Podcast: Como criar crianças antirracistas
Ancestralidade e maternidade
Deh Bastos: “O antirracismo não é para ser confortável”