Quando diagnosticado em estágio inicial e tratado em centros especializados, as chances de cura do retinoblastoma superam 90%
Mariana Kotscho* Publicado em 01/02/2022, às 06h00
O retinoblastoma é considerado um tipo raro de câncer ocular infantil, que registra cerca de 250 novos casos diagnosticados por ano, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca).
O diagnóstico precoce é imprescindível em qualquer tipo de câncer, pois quanto mais cedo for descoberto maiores são as chances de cura. No caso do retinoblastoma, em mais de 60% dos casos, o tumor pode causar leucocoria, que é um reflexo anormal da pupila quando exposta à luz conhecido como ‘reflexo do olho de gato’. É perceptível em fotos com flash por meio de um brilho branco diferente no olho da criança, explicam os especialistas. A doença pode aparecer já no primeiro ano de vida, por isso uma primeira consulta ao oftalmologista antes de o bebê fazer um ano é sempre indicada.
O Hospital do GRAACC em São Paulo, por exemplo, tem um dos mais modernos centros de tratamento do retinoblastoma, comparado aos principais serviços existentes em países da Europa e nos Estados Unidos. São 10 anos de experiência na aplicação da quimioterapia intra-arterial, procedimento minimamente invasivo que injeta a medicação diretamente na artéria oftálmica agindo direto no foco da doença. Já foram realizadas neste período mais de 1500 quimio-cirurgias.
Esse procedimento, junto com a quimioterapia sistêmica, quimioterapia intraocular e as demais técnicas de tratamento local, reduz, em média, para 20% as necessidades de enucleação, que é a remoção do globo ocular da criança.
Recentemente o hospital do GRAACC lançou a cartilha digital “RETINOBLASTOMA, Saiba como reconhecer os sinais e sintomas do tumor ocular mais comum na primeira infância” .
Segundo a Dra. Carla Macedo, oncologista pediátrica do GRAACC, o tratamento é multidisciplinar e individualizado para cada criança: "Com o acompanhamento rigoroso pela equipe, as crianças ficam clinicamente muito bem! Já o tempo de internação depende da modalidade de cada tratamento”, ela explica.
Os cuidados com os olhos, desde os primeiros dias de vida da criança, são fundamentais. O exame de fundo de olho é o mais indicado na rotina de consultas com o pediatra para diagnosticar em estágio inicial qualquer alteração ocular nos bebês. Independente do surgimento ou não de sintomas aparentes é muito importante também que pais e responsáveis levem a criança para avaliação de um oftalmologista no primeiro ano de vida.
Alguns sintomas podem revelar alterações oculares que devem ser investigadas. Os mais comuns são:
Reflexo branco na pupila: (reflexo do olho de gato). Pode ser percebido quando o olho da criança aparece com um brilho branco diferente em fotos tiradas com flash e, também, por meio de um exame oftalmológico. É considerado um dos principais sinais de retinoblastoma.
Estrabismo: desvio ocular que pode acontecer por conta da fraqueza do músculo que controla o movimento do olho, sendo o retinoblastoma uma das raras causas.
Proptose: deslocamento anterior do olho na cavidade da órbita.
Outros sinais também merecem atenção como, por exemplo: problemas de visão; aumento do tamanho do olho, dor nos olhos; vermelhidão da parte branca do olho e sangramento na parte anterior do olho.
Um dos grandes avanços no combate ao retinoblastoma é a quimioterapia intra-arterial. Um microcateter é introduzido, normalmente em um acesso na virilha, e por meio de micronavegação é posicionado na artéria oftálmica do olho onde será injetada a medicação quimioterápica que tem concentração 80 vezes maior que a quimioterapia sistêmica. Geralmente são suficientes de 3 a 5 sessões para a remissão do câncer.
O tratamento varia de acordo com cada caso e pode contemplar também: quimioterapia sistêmica que combina medicamentos administrados por via oral ou intravenosa; radioterapia; braquioterapia com dispositivos contendo material radioativo; terapia a laser; crioterapia e, como último recurso, a enucleação para a extração cirúrgica do globo ocular.
Como centro de referência no tratamento do câncer infantojuvenil, o Hospital do GRAACC possui equipe multidisciplinar especializada e todas as modalidades terapêuticas necessárias: quimioterapia intravenosa, quimioterapia intra-arterial, intravítrea, braquiterapia, laser e crioterapia.
Apesar de raro, é o tipo mais comum de câncer no olho em crianças, independentemente de sexo ou etnia. É formado na retina e 95% dos casos ocorre em crianças de até 5 anos. A maioria dos casos o retinoblastoma é unilateral, ou seja, se manifesta em apenas um dos olhos. 30 a 40 % restantes afetam os dois olhos (bilaterais). Também pode ser hereditário, o que ocorre em aproximadamente 40% dos casos.
Dr. Luiz Fernando Teixeira, oftalmologista do GRAACC, explica que o tratamento do retinoblastoma é personalizado, individual para cada criança. Tudo é planejado de acordo com a criança (idade, peso, lateralidade da doença um ou dois olhos com doença ) e do grau de avanço da doença (doença intra ocular é diferente da doença que já saiu do olho). E também grau de comprometimento do olho.
Normalmente o tratamento é realizado sem internação. A criança recebe o tratamento durante o dia e vai p casa. O tempo de tratamento também varia de acordo com cada caso. Quanto menos avançado o caso, geralmente menor tempo de tratamento. Devemos lembrar que faz parte do tratamento o seguimento por longo prazo para acompanhar possíveis complicações e recidivas (volta) do tumor. Fazemos acompanhamento por anos. (Dr.Luiz Fernando Teixeira)
O Hospital do GRAACC é referência no tratamento do câncer infantojuvenil, principalmente em casos de maior complexidade. Possui uma parceria técnica-científica com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) que possibilita, além de diagnosticar e tratar o câncer infantil, o desenvolvimento de ensino e pesquisa.
O GRAACC é a primeira instituição do País, especializada em câncer infantojuvenil, a receber a acreditação da Joint Commission International (JCI), uma das organizações mais conceituadas do mundo na área de certificações em serviços de saúde. Em 2020, o atendeu cerca de 4 mil pacientes de todo o País e realizou mais de 32 mil consultas, além de cerca de 1,5 mil procedimentos cirúrgicos, 20,5 mil sessões de quimioterapias e 66 transplantes de medula óssea.
Em 30 anos de atividades o Hospital do GRAACC elevou o patamar do tratamento de alta complexidade do câncer infantojuvenil no Brasil para mais de 70% de chances de cura.
A TUCCA, Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer, é uma associação sem fins lucrativos 100% dedicada a oferecer assistência multidisciplinar para crianças e adolescentes com câncer por meio do cuidado integral, humanizado e sem custo para o paciente, certos de que o diagnóstico precoce e o acesso a um tratamento individualizado e de qualidade são a maneira mais efetiva de vencer o câncer.
Fundada em 1998 por médicos, pais de pacientes e representantes da sociedade civil, a TUCCA tem como proposta elevar as taxas de cura e melhorar a qualidade de vida de crianças e jovens com câncer, que não têm condições de pagar por um tratamento adequado. Desde 2001, mantém parceria com o Hospital Santa Marcelina, uma referência na Zona Leste de São Paulo, união que já beneficiou mais de 4.000 crianças e adolescentes carentes com câncer. Esta jornada pela cura conta com o apoio de empresas, da sociedade civil e de voluntários.
Dr. Sidnei Epelman, oncologista pediatra e presidente da TUCCA, reforça alerta para os sinais do retinoblastoma, câncer infantil diagnosticado na filha de Daiana Garbin e Tiago Leifert.
“O retinoblastoma pode estar presente já no nascimento ou aparecer até os cinco anos de idade”, explica Dr. Epelman, que também é diretor do Serviço de Oncologia Pediátrica do Hospital Santa Marcelina, referência no tratamento de crianças e adolescentes carentes com câncer e parceiro da TUCCA. “Quando diagnosticado precocemente, é uma doença curável, inclusive com a preservação da visão e da vida da criança”, complementa.
O histórico de ações da TUCCA com foco no atendimento integral aos pacientes com retinoblastoma teve início em 2001, quando a associação idealizou e lançou a Campanha de Diagnóstico Precoce do Retinoblastoma, com repercussão em todo o país e que já foi traduzida para diversos idiomas e veiculada nos cinco continentes.
Em 2012, por sugestão e iniciativa da Associação, o dia 18 de setembro foi instituído como o Dia Nacional de Conscientização e Incentivo ao Diagnóstico Precoce do Retinoblastoma. O objetivo da campanha é salvar a visão e a vida de centenas de pequenos Brasil afora. Isso porque o retinoblastoma pode causar cegueira e até levar a criança à morte. Nesse sentido, ano a ano, a TUCCA vem recebendo apoio de instituições que ajudam a marcar o dia, apagando as luzes de seus monumentos, como já foi feito com o Cristo Redentor e com a Sala São Paulo.
O incentivo à adoção do teste do olhinho pelos pediatras é uma das bandeiras da campanha. O exame deve ser realizado periodicamente, uma vez que a doença é mais comum em crianças de 0 a 5 anos. O teste do olhinho é simples e pode levantar a suspeita da existência do tumor, algo a ser confirmado por um oftalmologista por meio do exame do fundo de olho. Em estágio avançado, o retinoblastoma muitas vezes é revelado em uma simples foto com flash, pois o olho afetado aparece com uma mancha branca, que é o reflexo do tumor. Nesse estágio, o diagnóstico já não é tão precoce.
De acordo com dados da TUCCA, o número de crianças identificadas tardiamente com o retinoblastoma, quando a doença já está em um estágio avançado, ainda é muito alto no país - cerca de 50% -, o que reduz as chances de tratamento e cura do tumor. Assim, o incentivo ao diagnóstico e à adoção do teste do olhinho pelos pediatras é outra bandeira da campanha. O exame deve ser realizado periodicamente, uma vez que a doença é mais comum em crianças de 0 a 5 anos.
A TUCCA mantém um site com informações sobre a doença e a campanha.
*Mariana Kotscho é repórter do Papo de Mãe, comentarista do Bem Estar da TV Globo e mentora de curso para jornalistas da Universidade de Columbia (NYC).
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