A pediatra Marcia Dias Zani alerta que as nossas crianças estão mais expostas com uma população adulta majoritariamente vacinada e o surgimento de variantes como a Ômicron
Dra. Marcia Dias Zani* Publicado em 04/01/2022, às 10h43
As piores consequências dessa pandemia já nos trouxeram uma grande lição: população protegida precisa ter a maior parte de seus indivíduos vacinados e isso inclui as crianças.
Os trabalhos e a experiência de quase 5 milhões de vacinados em países como EUA mostram uma imunogenicidade de 90,7%, ou seja, a vacina é capaz de evitar quase 91% dos óbitos e formas graves da covid em crianças.
A porcentagem de casos de Covid-19 considerada grave na população de 0 a 19 anos é menor se comparada a porcentagem casos graves de indivíduos adultos. Porém, em números absolutos contabilizamos quase 2.600 óbitos em 2 anos de pandemia nessa faixa etária no Brasil. Na faixa etária de 5 a 11 anos em 2020 foram 297 casos, a segunda causa de óbito dessa faixa etária somente superada pelos acidentes de trânsito com 426 casos. Nenhuma outra doença apresenta atualmente números parecidos. Fora os casos de Síndrome Inflamatória Multissistêmica e covid longa que não estão incluídos aí. Em termos de saúde pública, é sim um número alto e digno de atenção das autoridades médicas e civis.
Desde o início da pandemia, em meados de março de 2020, foram a óbito 1.148 crianças de 0 a 9 anos por Covid-19 no país. Apesar de representar 0,18% do número total de mortes pela doença, esse dado supera o total de mortes por doenças preveníveis com vacinação ocorridas entre 2006 e 2020, por isso, a pressa dos médicos em iniciar a vacinação infantil. É preciso iniciar imediatamente.
Diante de uma população adulta majoritariamente vacinada e que começa a relaxar protocolos de segurança, expondo-se mais, e diante do surgimento de variantes como a Ômicron com taxa de infecção alta, quem fica mais exposto nesse caso são as nossas crianças.
Sem a proteção da vacina e sem o cuidado dos adultos, quem tem maior possibilidade de ficar doente são as crianças. Vacinar é urgente e necessário para que não aumentem os casos em geral e, por consequência, ocorram mais histórias de desfechos graves e ruins para a saúde da população. Não temos tempo a perder, nesta luta cada vida importa e quanto mais vacinados estivermos, menor será a circulação dos vírus e menor risco de infecção de quem não pode, infelizmente, ser vacinado.
Crianças sofrem com as restrições e limitações da pandemia. É incalculável o prejuízo que a geração de pequenos afastados da escola, convívio social e familiar vem tendo ultimamente, e a única forma de proporcionar vida normal é vaciná-los e protegê-los.
Como todas as vacinas existentes, há um risco baixo de complicações, risco infinitamente menor que a própria doença em si. O risco de miocardite por exemplo, é de 4 a 7 casos leves para cada 100 mil vacinados, e de 40 casos para cada 100 mil não vacinados que tiverem covid, um risco quase dez vezes maior nos não vacinados.
É preciso entender que o consumo de tabaco, ultra processados, agrotóxicos, bebidas alcoólicas somam mais riscos que os da vacina e isso nem de longe é considerado pelos que questionam a segurança da vacina.
No lugar de falsas notícias e afirmações, daremos lugar aos fatos explicitados pela ciência. Vacinas são um pacto social, são a melhor arma de combate à pandemia de covid-19, aliadas ao uso de máscaras e higiene das mãos.
*Dra. Marcia Dias Zani / FMUSP
Pediatra e neonatologista co-fundafota da Casa Anama
Casa Anama - Instagram @nucleopequenostesouros
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