Nada como a passagem do tempo para escancarar - de uma forma que ninguém se atreve a duvidar - os estragos que os novos hábitos vão causando... e nossos filhos não estão livres deles!
Dra. Tanit Ganz Sanchez* Publicado em 12/01/2021, às 00h00 - Atualizado às 12h23
Todo mundo pensa (errado) que zumbido é um problema típico da terceira idade. Isso vem da época em que apenas pessoas idosas reclamavam de ouvir um apito ou chiado no ouvido junto com a dificuldade de ouvir ou entender conversas. De fato, pesquisas sugerem que 1/3 das pessoas acima de 60 anos têm zumbido.
Nada como a passagem do tempo para escancarar – de uma forma que ninguém se atreve a duvidar – os estragos que os novos hábitos vão causando… e nossos filhos não estão livres deles!
As coisas mudam aos poucos e nossa tendência é não perceber as mudanças. Um dia, a ficha cai. Depois dos primeiros 11 anos atendendo pacientes com zumbido dentro do maior hospital público do Brasil, finalmente chegou o dia da ficha cair: na mesma semana, eu havia atendido um menino de 12 anos e outro de 5 anos reclamando de um “barulho no ouvido”.
Mas o que é esse tal zumbido? Também conhecido como “barulho no ouvido”, esse som de chiado ou apito fica mais audível nos momentos de silêncio. Por isso pessoas com zumbido costumam perder o sono à noite e a concentração durante o dia, ficando ansiosos ou deprimidos por não conseguirem fazer o que precisam. Dentro de nós, o zumbido costuma representar uma resposta do ouvido a alguma agressão sofrida na parte interna do ouvido.
Quando foi que eu deixei de atender exclusivamente pessoas com mais de 50 ou 60 anos e passei a atender gente jovem? Realmente não sei, não percebi… mas era necessário fazer algo para esclarecer esse assunto.
Crianças não são pequenos adultos. O sistema auditivo delas ainda está amadurecendo ativamente suas conexões com os neurônios cerebrais, dependendo das experiências auditivas de cada criança. Por isso, ele costuma ser mais influenciável do que o sistema auditivo dos adultos.
E o que não falta nessa vida moderna é barulho entrando pelos ouvidos dos nossos filhos, dentro ou fora do período da pandemia: o ruído das festinhas infantis (ou não), os gritos no recreio, os apitos nas aulas de educação física, os fones de ouvido que estão sendo cada vez mais usados para música, jogos eletrônicos ou aulas online, os shows e baladas sem uso de protetores auriculares, etc.
A questão é que, diferente dos olhos, os ouvidos não têm uma barreira de proteção (como as pálpebras) e nem descansam enquanto a gente dorme. Talvez por isso, ficam vulneráveis ao bombardeio sonoro ao qual são expostos cada vez mais precocemente no nosso estilo de vida atual.
Com a mesma seriedade que sempre imprimimos na nossa vida profissional, publicamos duas pesquisas científicas sobre zumbido em crianças e adolescentes em renomadas revistas internacionais. Ambas já haviam passado pelo crivo rigoroso da aprovação para financiamento pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.
Juntando as duas pesquisas, pudemos estudar 506 crianças entre 5 e 12 anos, moradoras de Lajeado, RS (Coelho, Sanchez e Tyler, 2007) e 170 adolescentes de 11 a 17 anos, moradores de São Paulo, capital (Sanchez e cols, 2016).
Usando questionários típicos das pesquisas científicas dessa natureza, otorrinos e fonoaudiólogos treinados entrevistaram essas crianças e adolescentes, tomando cuidado extra para obterem resultados confiáveis.
Surpreendentemente, muito mais estudantes relataram zumbido do que poderíamos imaginar! Foram 37,7% das 506 crianças e 54,7% dos 170 adolescentes que responderam que tinham zumbido no ouvido naquele momento ou que já o haviam tido.
Alguns destaques comuns entre essas pesquisas foram:
Devido a esses resultados, passamos a dar mais valor ao fato de que o zumbido pode frequentemente estar dentro de casa e da escola, mas passando despercebido por pais e professores!
Estudantes com zumbido podem apresentar insônia, falta de concentração, fadiga crônica, irritabilidade e desmotivação para aprendizagem. Esses sintomas já fazem valer o benefício da investigação precoce, daí a importância dos pais saberem para os conduzirem aos médicos.
Como a investigação e a confirmação do diagnóstico do zumbido começam com o próprio filho contando para um adulto, sugerimos aos pais que perguntem aos filhos se eles ouvem um barulho nos ouvidos em momentos silenciosos, como antes de dormir. Também sugerimos que essa conversa aconteça em ambiente tranquilo para coletar a informação e sem gerar ansiedade desnecessária caso a resposta do filho confirme a presença do sintoma.
Tratamento precoce e sempre um dos lemas da Medicina. Porém, como o tema zumbido ainda é pouco explorado na infância e adolescência – apesar de ser bem comum – poucos pediatras, hebiatras e otorrinolaringologistas perguntam sobre isso nas consultas de rotina. Assim, somado ao fato dos jovens raramente comentarem o assunto espontaneamente, o panorama geral contribui para adiar o diagnóstico dos jovens ouvidos vulneráveis ao excesso de sons da vida moderna.
Faz sentido para nós que o diagnóstico precoce de um sintoma surpreendentemente comum nessa faixa etária, porém pouco avaliado por falta de informação, possa trazer benefícios dentro da família e da escola, além de preservar a audição para os anos futuros.
Por isso, vamos às dicas para nossos filhos:
*Dra. Tanit Ganz Sanchez é médica otorrinolaringologista com especialização em Zumbido, Hiperacusia e Misofonia.
• Médica Otorrinolaringologista formada pela Universidade de São Paulo;
• Profa. Livre Docente e Associada da Otorrinolaringologia da Universidade de São Paulo
• Orientadora de pós-graduação da Fonoaudiologia da Universidade de São Paulo;
• Fundadora e Diretora do Instituto Ganz Sanchez;
• Criadora e coordenadora do: – GANZ: Grupo de Apoio Nacional a Pessoas com Zumbido;
• Idealizadora do Novembro Laranja (Campanha Nacional de Alerta ao Zumbido); –
• Idealizadora da TV Zumbido (www.tvzumbido.com.br);
• Blitz do Ouvido (no Programa Bem Estar Global)
• Membro da ABORL-CCF;
• Membro do Corpo Editorial das revistas científicas: Clinics, International Archives of Otorhinolaryngology e Brazilian Journal of Otorhinolaryngology;
http://www.
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