pmadmin Publicado em 21/09/2011, às 00h00 - Atualizado em 03/10/2014, às 19h51
Assim como o Papo de Mãe procura sempre ouvir a opinião dos pais, nós também fomos atrás da opinião dos tios! Na “vez do tio”, Davi de Almeida foi conversar com o psicólogo e antropólogo Mauro Godoy, um tio pra lá de coruja. Confiram a entrevista na íntegra!
Davi de Almeida – Mauro, como é a relação com seus sobrinhos?
Mauro Godoy |
Mauro Godoy – Ah, é muito legal, principalmente quando eles eram crianças. Nesta época, por acaso, eu morava nos Estados Unidos, na Flórida, do lado da Disney. Então, me visitar significava ir para Disney. E como era tempo das vacas gordas, muitas vezes, eu mandava passagem. Então, visitar o tio não era tão ruim assim. E quando eu ia visitá-los no Brasil, então eu levava encomendas, presentes, enfim…
DA – Mas você viveu bastante tempo aqui no Brasil com eles?
MG – É, não tanto assim, porque quando eles eram crianças, bem crianças, eu estava na faculdade. Então eu acabei aprendendo, quer dizer, usando o que eu aprendia na psicologia um pouco com eles. Eles até me serviram como objeto de estudo e tal. Eles tiveram um certo suporte. Foi uma boa coincidência.
DA – Mas que idade tem teus sobrinhos?
MG – Eu tenho sobrinhos de 2 até 32 anos.
DA – Nossa, é uma diferença grande de idade. Agora vem cá… Você tem filhos também?
MG – Não, ainda não.
DA – Mas isso também facilita para a gente se dedicar mais aos sobrinhos, quando a gente não tem filho?
MG – Acaba sendo um filho postiço, que a gente tem quando quer.
DA – Esse xodó com os sobrinhos, os irmãos não acabam ficando com um pouco de ciúmes? Tem uma certa competição com os irmãos?
MG – Perfeitamente, porque todos os irmãos competem naturalmente, e aí, essa competição, eu acredito que acabe sendo saudável para os sobrinhos.
DA – Agora, Mauro, essa relação legal do tio com os sobrinhos acaba também influenciando na educação de certa forma? Porque assim, se os sobrinhos gostam bastante de ficar com os tios, ficam também com os pais, evidentemente, mas acho que acaba tendo uma comparação, assim ‘ah, meu tio é chato. Meu tio é mais legal do que meu pai’. Rola isso?
MG – Eu acredito que sim, porque é sempre uma opção para a criança, aquilo que está em casa que é todo dia e que é quase um marasmo versus aquilo que está fora de casa, mas que é nossa casa também, que é a casa dos tios e dos primos. Então, a gente aprende a olhar para fora e entender as opções que a gente tem na vida de valor, sabe, de estimo, até de torcida, sei lá, time, modelo de carro, estilo de casa, a gente aprende a variar no começo com os tios.
DA – Bom, eu falei agora há pouco na abertura que na adolescência a gente combina de sair com os amigos, com a namorada, daí vem o tio… Tem isso mesmo, o sobrinho que fala ‘pô, ia sair hoje, e agora vem o meu tio e não vou sair’ ou será que tem sobrinho que fala ‘pô, que legal, não vou sair com os amigos, mas meu tiozão tá vindo aí’?
MG – Eu acho que cada caso é um caso. Se meu tio é rico, traz presente e minha prima é a maior gata, eu prefiro ficar em casa. Agora, se meu tio é chato, pão duro, sei lá, e não é uma boa presença, é lógico que eu prefiro não ficar.
DA – Agora, você é psicólogo, e você acha que tem mesmo alguma diferença na formação da criança se ela convive ou não com os tios? Uma criança que não convive com os tios é diferente de uma que convive? Tem alguma coisa nesse sentido, agora você falando mais como psicólogo do que como tio?
MG – Olha, tem sim. A gente encontra em laboratório de universidade a diferença entre uma criança que foi criada com tios, convivendo com o tio e a outra sem. A que não teve tio se torna uma pessoa mais apática, contida, enquanto a que quem teve tio é uma pessoa cujos valores são muito mais definidos.
DA – Por quê?
MG – Porque os irmãos sempre competem e um filho que cresce assistindo o pai competindo com os tios, ele acaba entendendo que existem outras coisas na vida e acaba elegendo um tio como o mais bacana. Esse tio como mais bacana acaba sendo a referência de valores dessa pessoa, valores materiais, sentimentais, ou até existenciais, como glória, aplauso, coisas assim. Então é através dos tios que a gente escolhe os valores.
DA – Então, quer dizer que isso influencia até na formação do sobrinho? De repente o pai é advogado, o tio é jornalista e aí o sobrinho fica olhando ‘nossa, será que eu vou seguir a carreira do meu pai ou do meu tio, porque parece que meu tio é mais legal’. Tem isso?
MG – É exatamente uma inspiração que serve como opção e a partir do momento em que você não só sabe a profissão, mas o jeito de ser, a forma de se comportar, tudo isso acaba influenciando a criança desde pequena.
DA – Bacana. Bom, então está aí a dica. Vamos valorizar os tios, conviver com os tios, aproveitar o domingão para ficar com os tios, porque você viu que o resultado é bom, hein!?
*Mauro Godoy é psicólogo clínico especializado em antropologia. Contatos: http://www.maurogodoy.com.br/ e Fone 11 3023-4850.