Papo de Mãe

A vida do casal após o nascimento dos filhos

pmadmin Publicado em 24/09/2012, às 00h00 - Atualizado em 06/10/2014, às 10h19

Imagem A vida do casal após o nascimento dos filhos
24 de setembro de 2012


Por Solange Melo*

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Frequentemente, observamos que, para muitos adultos, a chegada de um filho acarreta muitas restrições em relação à vida social e também sexual do casal. Desta forma, nos perguntamos: Afinal de contas, a gravidez significa mesmo dar definitivamente adeus à vida boa?

Na minha prática clínica, observo que as reclamações a este respeito são muito mais frequentes nas mulheres do que nos homens. Em geral, após o nascimento do primeiro filho, é comum que elas se sintam sozinhas, afastadas de seu grupo social e sobrecarregadas com o trabalho doméstico. Ouço, frequentemente, as mesmas reclamarem sobre a necessidade de terem mais tempo para si mesmas, seu lazer, seu trabalho, seus estudos, suas amizades.

Sabemos bem que o nascimento do primeiro filho é, por um lado um momento lindo e emocionante, mas também muito turbulento, pois nenhum ser humano está de fato preparado para ter um filho, e é a experiência que vai lhe dando conhecimento de como as coisas realmente funcionam na prática.

É absolutamente natural que com o nascimento dos filhos os pais passem a ter mais contato com pessoas que estejam vivenciando as mesmas experiências que eles, o que acaba sendo muito enriquecedor para todos os envolvidos. Mas é importante ressaltar que as velhas amizades não precisam nem devem ser descartadas. Amizades feitas pelo casal e amizades feitas individualmente.

O nascimento dos filhos pode também mudar de forma definitiva a vida sexual de um casal. Quando os dois já construíram uma vida sexual gostosa e com afinidades, esta sofrerá menos com a chegada de um novo membro na família. Porém, quando isso não acontece, seguramente haverá uma grande piora naquilo que já não era bom. Convém lembrar também que o excesso de trabalho da mulher nessa época com a criança, contribuirá e muito para a queda dessa qualidade.

Normalmente, os médicos liberam a mulher para o retorno à vida sexual após 30 ou 40 dias após o parto. No entanto, a preparação física, muitas vezes, não corresponde à preparação psicológica para voltar à ativa. E, nestes momentos, a compreensão do homem é de fundamental importância, o que, muitas vezes, não ocorre. Em muitos casos, nesta hora, o marido se sente excluído, e por esta razão se afasta, o que gera ainda mais solidão na mulher. Mas nesses casos, nada que uma boa conversa não resolva.

Vale lembrar que após a chegada de um bebê, rotinas como as cólicas, troca de fraldas, amamentação, acordar diversas vezes no meio da noite são demasiadamente cansativas e vão desgastando a mulher e a incapacitando, ao menos durante um tempo, para uma vida sexual livre e plena.

Vemos na clínica que, após essa fase, muitas pessoas concentram totalmente suas energias no desempenho dos seus papéis de pai e mãe, em detrimento dos seus papéis de marido e mulher, o que acaba distanciando muito o casal. Nesses casos, há a necessidade de uma psicoterapia, ou individual ou de casal, para que a situação seja solucionada.

A chegada dos filhos altera e muito também a vida financeira de um casal. Os gastos são maiores e as preocupações em supri-los podem sim fazer com que ambos se voltem em demasia para o trabalho, colocando em segundo plano a vida conjugal. Acaba não havendo mais espaço para a fantasia, o relaxamento e a entrega plena.

O casal deve se organizar para manter o seu espaço e preservá-lo da melhor maneira possível, apesar da chegada dos pequenos. Reservar tempo para estarem a sós e fazerem coisas juntos é vital para a preservação do relacionamento. Nenhum casamento sobrevive à falta de intimidade, de sexo, de espaço, de diálogo franco. Se o afastamento continua, mais cedo ou mais tarde, a relação acaba, com ou sem filhos.

A palavra de ordem é preservar. Os pais não morrem como pessoas após o nascimento dos filhos. Quando o casal centraliza tudo na criança, ele perde o seu sentido, como se nada existisse além dela. E é possível sim equilibrar os papéis. Ninguém deve ser só pai ou só mãe. Na vida temos vários papéis para viver. Ser o único papel na vida dos pais é muito pesado para as crianças, que precisam de espaço para se expandir e vivenciarem as suas próprias experiências. Para o filho, amor demais sufoca, e para o casal, amor de menos mata!

*Solange Melo – Psicóloga – Psicanalista – Psicoterapeuta de adolescentes, adultos, casais e famílias em São Paulo. Blog: www.solangemelopsicologa.blogspot.com. Facebook: Solange Melo Psicóloga.


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