19 de junho de 2012
Por Carla Poppa*Fonte:
Instituto do Amor Quando um bebê chega ao mundo, existe uma tendência natural dos pais de colocarem seus desejos em segundo plano e priorizarem as necessidades do filho. A fragilidade do bebê nos leva a pensar de modo quase instintivo que ele precisa de cuidados constantes que não lhe deixem esperando por muito tempo. O ponto que gostaria de ressaltar é que tanto o homem quanto a mulher aprendem a ser pais cuidando de um bebê, que é um ser desamparado e absolutamente dependente dos cuidados que recebe e, portanto, exige que os pais desenvolvam um estilo de cuidado especifico que consiste em identificar e satisfazer as suas necessidades no momento em que surgem.
Com o tempo, o bebê vai crescendo, se transforma em uma criança com novas habilidades, consegue andar e se expressar e precisa cada vez mais de tempo e espaço para exercitar suas novas conquistas. Nesse momento, os pais que estavam se acostumando às exigências do bebê começam a perceber que precisam mudar novamente e desenvolvem um novo estilo de cuidado. Caso essa flexibilidade esteja impedida por algum motivo, corre-se o risco de se continuar cuidando de uma criança da mesma maneira que se cuidava do bebê. Ou seja, de dar para a criança aquilo que ela já tem capacidade de conseguir por conta própria.
Os pais que apoiados em sua sensibilidade e flexibilidade conseguem acompanhar as transformações da criança aprendem a esperar para atender às solicitações dos filhos e passam a oferecer oportunidades para que eles se apropriem dos seus novos recursos. Além disso, entendem que precisarão frustrar seus filhos em algumas ocasiões, ajudando-os a perceber que nem sempre o seu desejo poderá ser atendido.
Acredito que é importante ressaltar essa transformação pela qual o cuidado deve passar, pois para muitos pais esse ajuste é difícil de ser alcançado. Os limites e a frustração podem ser apresentados na relação com o filho muito cedo, antes que ele esteja preparado, ou de maneira oposta, alguns pais não “suportam” frustrar seus filhos e desse modo, não percebem que estão lhe privando uma dimensão fundamental do cuidado.
A experiência de frustração (não estou me referindo à privação de afeto, mas à adequação as regras dos lugares e de convivência), quando bem conduzida pelo adulto responsável, ensina a criança sobre as diferenças. Por exemplo, uma criança pode querer levar para a escola um brinquedo e sentir-se frustrada quando ouve um não de um adulto. Ela pode chorar, fazer manha… mas o adulto deve ter em mente que essa é uma
oportunidade de aprendizagem. Ele precisa lhe contar de um jeito próprio que o que ela quer fazer é diferente do que a escola permite, e que, portanto, ele pode levar o brinquedo quando for buscá-la na escola, por exemplo, mas a regra definida precisa ser cumprida. Ao explicitar e contar para a criança sobre a diferença entre o que ela quer e o que pode ser feito, ele a está ensinando sobre a necessidade de se adequar e de respeitar as regras dos lugares que frequentamos e a desenvolver maneiras criativas para lidar com a frustração experienciada.
Desse modo, as necessidades da criança se transformam com o tempo e os cuidados oferecidos a ela precisam se transformar também, as experiências de frustração adquirem um novo significado e passam a representar uma oportunidade de aprendizado, mas para isso precisam de um adulto ao seu lado que a ajude a identificar
o que ela quer fazer,
o que pode ser feito e
como ela pode lidar com essa situação.
*Carla Poppa é Psicóloga formada pela PUC-SP, com especialização em Gestalt Terapia pelo Instituto Sedes Sapientae e mestranda do programa de Psicologia Clinica, no núcleo de Psicossomática e Psicologia Hospitalar da PUC-SP. Psicoterapeuta de crianças, adolescentes e adultos. Blog: http://carlapoppa.blogspot.com.br Fonte:
http://www.institutodoamor.com.br/instituto/?p=1162Leia também:Frustração: oportunidade de aprendizado ou sofrimento sem sentido?Os perigos da superproteção