Papo de Mãe

Aspectos psicológicos do parto

pmadmin Publicado em 10/01/2016, às 00h00 - Atualizado em 11/02/2016, às 08h17

Imagem Aspectos psicológicos do parto
10 de janeiro de 2016


Por Solange Melo*, psicóloga

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A gravidez e o parto são eventos muito importantes na vida das mulheres e seus familiares. São fatores que determinam a passagem do papel de mulher para o de mãe. 

A humanização do parto tem sido um crescente na nossa sociedade que não mais vê esse processo como algo puramente biológico e sem implicação emocional. Infelizmente, para muitas mulheres, a expectativa do parto ainda é de dor, sofrimento e medo, e vários são os motivos que levam a isso.

O parto sempre foi cercado de mitos e crenças negativas e para piorar, a religião costuma associar as dores do parto a um castigo que a mulher deve sofrer por ter cometido o “pecado original”. Traduzindo: seu filho é fruto de um pecado e dar a luz é receber um castigo. Esse mito repousa até hoje no inconsciente coletivo das mulheres e faz poderosos estragos.

O estado gravídico, em geral, é permeado por insegurança e medo. Ter conhecimento disto é fundamental e leva ao acolhimento médico e emocional da paciente, em especial, no parto do seu primeiro filho, onde tudo é novidade para ela.

A confiança da mulher em sua equipe médica, as informações que adquiriu durante a gravidez sobre o parto, o conforto físico, a privacidade e o suporte psicológico recebido são fatores determinantes no sucesso de um parto feliz.

Não contar com o acompanhamento de alguém da sua confiança, ser deixada sozinha, receber pouca atenção no pré-parto, não ter informação dos procedimentos aos quais vai ser submetida, receber tratamento ríspido da equipe médica, ser examinada a todo momentos por diversos profissionais, ser duramente criticada quando reclama de dor são algumas das maiores queixas das parturientes.

Quando a mulher é tratada com carinho e respeito, ela colabora com o processo, seja ele natural ou não. Caso contrário, o medo a faz travar e aumentar sua resistência, por pura defesa emocional, dificultando tudo. Vale informar que a intensidade e a suportabilidade da dor, a duração do trabalho de parto e a ocorrência de complicações no mesmo, muitas vezes, dependem diretamente do aspecto emocional da paciente.

Infelizmente, percebemos que com o passar do tempo, a gravidez e o parto deixaram de ser eventos familiares e passaram a ser acontecimentos institucionalizados. Resultado: tudo passou a ser feito de forma mecânica e impessoal. E isso desumaniza o processo de parir uma criança. Nada contra a tecnologia. Aliás, muito ao contrário. Ela, muitas vezes, salva vidas, sabemos bem disso. O que é excelente. Mas em nenhum momento a tecnologia pode ou deve substituir ou excluir a afetividade no trato com a paciente.

Ao contrário da gravidez, que é um processo lento e gradual, o parto é algo mais rápido, e essa separação entre dois seres que durante meses viveram juntos numa relação de total dependência leva a uma reestruturação emocional importante.

O parto é um momento crítico pela sua irreversibilidade, por ser algo desconhecido (cada um é um), por ser incontrolável e imprevisível. Esses fatores mexem muito com o emocional da mulher e também, por esta razão, quanto mais tranquilo for este momento, melhor para todos.

A dor do parto varia de mulher para mulher, e de acordo com vários fatores: limiar individual, grau de relaxamento, intimidade com o ambiente, apoio de familiares e profissionais. É é diretamente influenciada por fatores psicológicos e emocionais. Sabemos bem que quando estamos tensos, isso aumenta a nossa dor, gerando o ciclo que bem conhecemos: medo – tensão – dor.

Quando a mulher se sente confortável e segura no parto natural (ou não), aumenta a sua capacidade de relaxar e assim se concentrar no trabalho de parto, que sabemos, é feito de esforço, concentração e dedicação. Tudo isso também auxiliado de recursos, tais como: apoio de quem se ama, silêncio, privacidade, e no caso específico de parto natural, iluminação adequada, música relaxante, posicionamento confortável, massagem, respiração adequada, água morna. Tudo, obviamente, com acompanhamento médico.

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*Solange Melo é psicóloga clínica, de formação psicanalítica, atende adultos, adolescentes, crianças, casais e famílias em São Paulo/SP .  Contato: [email protected]

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