Roberta Manreza Publicado em 20/04/2015, às 00h00 - Atualizado às 10h53
A capacidade de interagir bem com os outros é necessária para a vida. Veja como estimular a sociabilidade em seu filho de maneira saudável
Texto Iana Chan – Educar para Crescer
Você já reparou que os bebês adoram interagir com adultos e abrem um sorriso enooorme às nossas tentativas de aproximação? “Somos uma espécie social por natureza”, explica a professora da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP Edna Maria Marturano. Na psicologia, a sociabilidade é a propensão de buscar semelhantes e a capacidade de interagir com eles.
Uma criança sociável é capaz de fazer e de manter amizades, de expressar e compreender sentimentos e opiniões, impondo-se quando necessário, sem desrespeitar o outro. Essas habilidades são importantes não só na escola, mas durante toda a vida.
Mas se todos somos sociáveis, por que algumas pessoas são mais extrovertidas e outras mais introvertidas? Será que dá para ensinar uma criança a ser sociável ou cada um já nasce mais ou menos sociável? “As pessoas têm predisposições, há crianças que são mais expansivas e outras mais retraídas, no entanto, é a interação com as pessoas que vai estimular ou não a sociabilidade”, responde a professora de Psicologia Clínica e do Desenvolvimento da Unesp (Universidade Estadual de São Paulo) Alessandra Bolsoni.
Alessandra e Edna se uniram à professora Sonia Regina Loureiro na pesquisa “Problemas de comportamento e habilidades sociais infantis: modalidades de relatos” e descobriram que crianças pouco sociáveis têm menos chances de superar dificuldades escolares e, ao longo do tempo, têm mais riscos de desenvolver problemas emocionais (ansiedade, tristeza, medo) e de comportamento (agressividade, impulsividade, rebeldia). Isso porque crianças sociáveis possuem ferramentas necessárias para se desenvolver e se adaptar melhor.
A sociabilidade começa desde cedo. É por isso que pais devem saber como contribuir para o desenvolvimento de seus filhos, na medida certa. “Superproteção ou abandono podem levar a criança a um comportamento egocêntrico, que não aceita a diversidade”, alerta a psicóloga infantil Marta Santos Oliveira.
Veja dicas para ajudar seu filho a ser sociável:
Conviva e converse com seu filho: Pode parecer óbvio, mas muitos pais não têm tempo de conviver verdadeiramente com seus filhos. “A socialização é um processo que se inicia desde o nascimento. Conversar com as crianças é uma necessidade”, diz a psicóloga infantil Marta Santos Oliveira. Se não houver convívio, a criança não terá oportunidades suficientes para interagir com a família e aprender a se relacionar com os outros. Esteja disponível para ouvir seu filho e sempre crie situações para conversas honestas. Mas atenção! Não adianta perguntar e ficar assistindo à novela: escute com atenção e demonstre real interesse pelas respostas de seu filho.
Seja um bom exemplo: O exemplo é um dos princípios mais poderosos na Educação. Crianças e jovens aprendem por meio dos modelos que têm, principalmente em casa. Como você se comporta na frente de seu filho? Se não expressa suas opiniões claramente, não oferece ajuda, não cumprimenta as pessoas ou age de maneira agressiva, seu filho provavelmente seguirá seu exemplo, pois parecerá o comportamento “natural”. “As crianças aprendem a se comportar observando os pais em diferentes situações do cotidiano, como trânsito, supermercado, filas. Demonstre gentileza, civilidade e cortesia”, afirma a psicóloga Edna Maria Marturano, professora da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP.
Dê limites, regras, sem culpa: Viver em sociedade é saber respeitar os outros. Quando mais nova, a criança recebe todo amor e atenção dos pais, tendo seus desejos e necessidades atendidas. Porém, com o passar do tempo, ela precisa aprender a conviver com outras pessoas, com outros desejos e necessidades.
O resultado de uma educação sem limites? “A criança se torna um adulto egoísta, incapaz de perceber a necessidade do outro ou como seus atos afetam as outras pessoas”, explica a psicóloga infantil Marta Santos Oliveira.
Muitos pais têm medo de traumatizar os filhos e evitam reprimi-los, “afinal, são crianças ainda”. Porém, é saudável e necessário aprender a controlar emoções e impulsos desde cedo. Dizer “não” é uma forma de mostrar que não se pode ter tudo o que se quer na hora em que se quer. “A criança aprende a conviver com a negação e frustração, tão presentes no futuro, principalmente profissional”, explica a doutora em Educação pela PUC-Rio Andrea Ramal.
“A correção é necessária, mas o importante é como se fala”, orienta Marta. Especialistas sempre dizem que pais devem explicar as razões do “não”. Se a criança quer comer sobremesa antes do jantar, por exemplo, os pais devem dizer que isso pode estragar o apetite e fazer com que ela deixe de ingerir nutrientes necessários para uma vida saudável, acrescentando que, depois do jantar, ela poderá comer a sobremesa. Com essa orientação, ela desenvolverá autonomia, sendo capaz de tomar decisões segundo as regras não porque os pais mandaram, mas porque ela entende a importância das regras e concorda com elas.
Desenvolva autoestima e autoconfiança: A autoestima é a valorização do que se é e leva a autoconfiança, a capacidade de se sentir confiante e capaz diante das mais diversas situações. Os pais têm um papel fundamental na construção da autoestima do filho. Quando eles se interessam pelos seus estudos, acompanham o dever de casa, perguntam sobre seu dia e sobre o que aprendeu, o filho entende que os pais se importam com ele e pensa “sou importante e amado!”.
Diálogo aberto e afeto também contribuem para o desenvolvimento da autoestima. “Se os pais valorizam o filho, ele também se valoriza”, resume a educadora Andrea Ramal.
Ofereça oportunidades para interação social: Cuidado com a superproteção! Impedir seu filho de conviver com crianças da mesma idade é tirar a oportunidade de desenvolver uma sociabilidade saudável. Brincar é natural e muito bom para as crianças. “É uma oportunidade única para aprenderam a lidar com conflitos, a resolver problemas e adquirirem noção das regras sociais e limites”, diz Edna Maria Marturano, professora da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP.
A tecnologia, presente cada vez mais cedo na vida das crianças, pode ser uma ótima aliada num primeiro momento, pois permite que elas interajam sem se exporem tanto, mas não deve ser a única fonte de interações sociais. “Os adultos devem estimular as interações ao vivo”, recomenda a professora de Psicologia Clínica e do Desenvolvimento da Unesp (Universidade Estadual de São Paulo) Alessandra Bolsoni.
Aceite e respeite a personalidade do seu filho: Os especialistas mostram que somos naturalmente sociáveis, uns mais, outros menos. E, apesar de ser possível desenvolver a sociabilidade, os pais não precisam se desesperar se o filho for um pouco tímido. A timidez só é um problema se prejudicar concretamente a vida pessoal e escolar da criança. “Uma criança pode viver feliz e se desenvolver para uma vida adulta saudável mesmo sendo mais reservada”, explica psicóloga e professora da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP Edna Maria Marturano. Por isso é importante aceitar e acolher a criança como ela é. “Parece um paradoxo, mas sem esse acolhimento, o adulto sempre corre o risco de pressionar em vez de encorajar e isso produz resultado oposto ao desejado. A criança pode se retrair ainda mais”, aconselha Edna. Porém, se a criança estiver realmente sofrendo por conta da sua personalidade, o melhor é procurar a ajuda de um psicólogo.
Não compare com os outros: Muitos pais querem que seus filhos sejam os melhores em tudo, que tenham mais oportunidades, mais conquistas e mais amigos. Essa cobrança excessiva pode gerar ansiedade e estresse nas crianças. Não se preocupe se seu filho não for o aluno mais popular da classe. O importante não é ter muitos amigos, mas bons amigos. “Popularidade não é sinônimo de sociabilidade. O número não importa, mas a qualidade dos relacionamentos”, explica psicóloga e professora da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP Edna Maria Marturano. Ter poucos bons amigos é uma conquista que requer sociabilidade e não deve ser apontado como falta de habilidade da criança.
Não force a barra: A sociabilidade pode e deve ser encorajada, mas os pais não devem pressionar uma criança tímida ou reservada a ter iniciativas que são muito difíceis para ela, como introduzir-se em um grupo de desconhecidos. “O encorajamento precisa respeitar o limite da criança”, orienta psicóloga e professora da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP Edna Maria Marturano. O ideal é tirar aos poucos da zona de conforto, começando pelos desafios mais fáceis e, antes de propor o próximo passo, se assegurar de que a criança está preparada.
Ajude seu filho a se conhecer melhor: Todo ser humano possui defeitos e qualidades. O autoconhecimento nos ajuda a percebê-los de maneira honesta, sem exagerar nas qualidades ou amenizar os defeitos. Conhecer a si mesmo é o primeiro passo para transformar o que for necessário. “Quando sabemos o caminho e a direção, tudo fica mais fácil”, diz a psicóloga infantil Marta Santos Oliveira. O pai pode ajudar seu filho a se conhecer aproveitando situações para conversar. Assistam a um filme e troquem ideias sobre ele. Faça perguntas como “com quem você mais se identificou? Por quê? Você faria a mesma coisa que o personagem? O que teria feito de diferente?” “Perguntas como essas são importantes para a criança desenvolver sua capacidade de reflexão e principalmente para aprender a pensar sobre si mesma”, diz a educadora Andrea Ramal.