Roberta Manreza Publicado em 26/07/2017, às 00h00 - Atualizado às 09h46
Por Luciana Rocha, psicóloga especialista nos universos materno e infantil
De todas as transformações sofridas nos papéis parentais, talvez, os papéis dos avós tenham sido os que mais mudaram.
Os avós de hoje, já não têm mais cabelos brancos, não são aposentados, nem ficam em casa fazendo gostosuras para os netos.
Os avós de hoje são ativos. Ainda exercem com frequência seus demais papéis sociais: trabalham, têm uma vida social agitada, realizam sonhos, seus sonhos, principalmente.
Os avós atuais vivem uma nova realidade e quase não têm referência de seu novo papel. Isso acaba assustando muitas vezes os próprios avós, bem como os pais, que não sabem muito bem o que podem ou não esperar desses novos avós.
Independente de qualquer coisa, a figura do avô e da avó continua sendo extremamente importante, tanto para o filho (a) que virou mãe/pai quanto para o neto.
Para os novos pais, os avós são referência e apoio. Dentro da realidade de cada um, os novos pais tendem a desejar repetir os acertos de seus pais e reparar os erros, almejando fazer diferente do que seus antepassados fizeram.
Na prática, nem sempre as coisas funcionam assim, tão direitinho como gostaríamos.
Tendemos a reproduzir os modelos que aprendemos, inclusive nos aspectos não tão bons. Isso tende a gerar angústia, frustração e estranhamento entre os indivíduos que desempenham novos papéis.
Junto a isso, os agora avós também desejam reproduzir o que julgam terem acertado e reparar seus erros, especialmente, no que tange ao rigor, regras e tempo.
Em virtude disso, os avós tentam compensar com os netos o que não puderam viver com seus filhos.
Se não houver cuidados e atenção, o caldo pode entornar nessa nova relação e muita frustração pode acontecer.
Para evitar isso e tentar garantir uma convivência mais harmoniosa, vale a pena se atentar para:
1.O O respeito acima de tudo. É importante que os avós lembrem que, certo ou errado, a vez de maternar e paternar agora é de seus filhos.
Isso quer dizer que quem dita as regras são eles e devem ser respeitadas, por mais que haja discordâncias. A intervenção às regras e formas de criar as crianças somente devem acontecer em caso de risco à criança.
As reparações, emocionais principalmente, devem ser feitas entre as pessoas envolvidas, se for o caso, e consigo, preferencialmente. Para isso, vale interiorização, meditações, psicoterapia. A transferência de responsabilidades não vai ajudar em muita coisa.
Além disso, vale a pena lembrar que sempre estamos aprendendo e reaprendendo o nosso papel, principalmente, no que tange à maternidade, paternidade ou ‘avosidade’. Precisamos ser flexíveis e empáticos uns com os outros.
Nessa relação, todos podem ganhar: os novos pais que têm com quem contar, respeitando suas possibilidades e limitações; os avós que são responsáveis pela manutenção da família e de sua história e ajudam no sentimento de pertencimento da criança, além de auxiliarem no processo de transformação e adaptação dos novos pais e os netos, que só têm a ganhar com essa relação harmoniosa.
Não é fácil se adaptar ao novo papel de avós, assim como não é fácil viver a transformação para a ma/paternidade.
Até bem pouco tempo, virar avô ou avó significava a chegada ao fim da vida, é como se não tivesse muito mais depois disso. Hoje, isso está muito longe de ser verdade. Os pais tornam-se avós no auge da vida, quando adentram a “melhor idade” e muito ainda há por viver e por fazer.
É preciso viver intensamente todas as etapas, sem abrir mão de si.
Avós e pais precisam entender isso. E precisam aceitar.
Avós modernos, avós atuais, têm muita vida e muito o que fazer além de se dedicar exclusivamente ou integralmente aos filhos, aos netos e à casa.
Com respeito, aceitação e empatia, a relação que surge é totalmente harmoniosa. E todos só têm a ganhar.