Roberta Manreza Publicado em 08/11/2016, às 00h00 - Atualizado às 08h56
Por Vanda Minini*, bióloga e pedagoga
Muito se fala hoje sobre sustentabilidade, que inclui questões ambientais, econômicas e sociais. Vocês já pararam para pensar no desperdício de materiais, comidas e de outros itens que nós fazemos no dia a dia sem perceber? Vocês já pararam para pensar como os brasileiros consomem demais e desperdiçam muito? Estou falando de comida e de objetos em geral. Vivemos a era do instantâneo, da rapidez e nem percebemos que quanto mais consumimos, mais resíduos produzimos e, pior, nem sempre precisamos do que compramos e/ou adquirimos.
Em casa, quanto desperdício há de roupa, sapatos, comida, materiais escolares etc., caso não soubermos reaproveitar, reutilizar e reciclar. Renovar um sapato mudando de cor, tingir uma roupa que está manchada, reaproveitar material de um ano para o outro que sobrou, pequenas atitudes que podem fazer a diferença tanto na questão ambiental quanto na economia que a família poderá usufruir com estes comportamentos.
Mas por que desperdiçamos ou consumismo em excesso? Baixa autoestima, hábitos que aprendemos em casa, ou os dois juntos?
Quem precisa comprar para mostrar aos outros tem baixa autoestima, pois precisa viver de aparências devido ao fato de não gostar de si mesmo. Esta insatisfação pode gerar consumismo seja de qualquer coisa, comida, bebida, roupa etc. Para satisfazer uma carência e suprir que não sou tão maravilhoso assim como pessoa compro coisas e objetos para mostrar aos outros quem sou ou o que posso ter.
Pior: ensinam com estes atos às crianças a serem iguais, ensinam a serem fracas e consumistas em vez de mostrar a serem pessoas fortes, que não precisam se abalar com o que os outros pensam ou acham de você. O que importa é o que somos de fato e não o que temos. Mas para ser é necessário aprender sempre, ter conhecimento e não viver de aparências. Quem vive de aparências não tem conteúdo, por isto precisa consumir cada vez mais e mais.
Pequenos exemplos e gestos que parecem às vezes insignificantes são importantes para a manutenção da vida em nosso planeta. Em casa ensine os pequenos a ter atitudes sustentáveis, tais como: fechar bem as torneiras e não usar a água além do tempo necessário para a higiene pessoal. Isto parece tão pequeno, mas faz toda a diferença por que as crianças gostam de mexer e brincar com e na água, e elas esquecem torneiras ligadas, pois não se preocupam com isto. Elas nem estão pensando em economizar água por que ainda não possuem consciência ecológica, elas são imediatistas e concretas. Falar em mundo, planeta, quando elas só conhecem a sua casa e seu bairro é algo muito abstrato para elas.
Mas com pequenos gestos, como o de economizar água, elas aprendem se ensinadas, e pode fazer parte do seu dia a dia. Explique a importância da água, como ela vem até nossas casas, se possível mostre um rio, como é feito o tratamento de água até nossas casas, mostre uma conta de água, e por que precisamos economizar para evitar que a conta venha alta demais.
Fale também que economizando poderá sobrar mais dinheiro para comprar comida, brinquedos, vestimentas etc. A criança precisa entender de fato por que economizar, quando ela entender o que é planeta e mundo aí sim ir ensinando os conceitos de preservação. Mas sempre respeitando as fases de desenvolvimento das crianças.
Isto é educado desde pequeno, para quando a criança se tornar um adulto tenha em seu comportamento estes hábitos já incorporados, pois é mais fácil educar uma criança do que um adulto.
Exemplos de práticas sustentáveis em casa: Festa de aniversário única
Este texto refere-se a uma menina de sete anos, minha sobrinha. Nós estamos preparando o seu aniversário e pintando caixas que servirão de apoio para a decoração da mesa. É claro que a alegria dela em fazer e mexer com tinta é imensa, ela não para de falar que este será o seu melhor aniversário, que será único por que ninguém fez o tema igual ao dela. Eu e ela decidimos tudo o que será feito em termos de decoração, com seus próprios brinquedos, ou melhor, com suas Barbies.
Estamos confeccionando, pintando e costurando tudo. Já fizemos fuxicos de flores com tecido; enfim, estamos colocando a mão na massa e fazendo a diferença. Todos os anos alugávamos enfeites, mas neste resolvemos inovar. A alegria dela é tão contagiante que ela falou assim: “Tia, nenhuma de minhas amigas pode copiar a nossa ideia”. Expliquei a ela que poderiam sim, que depois que nós fizermos, outras pessoas podem fazer também com suas filhas. Mas o fato de ser inédito para ela está sendo emocionante. Ela verbaliza o tempo todo: “Estou emocionada com esta festa. Posso gritar de felicidade?” E eu respondo que sim, é claro.
Eu não esperava que ela fosse ficar tão contente com esta festa; o único problema é que falta um mês e até lá faremos muitas travessuras, pinturas, costuras etc. Este aniversário tem os conceitos de reciclar, reutilizar e reaproveitar. Pensando em economia, criatividade e inovação. E educando desde cedo o conceito para a sustentabilidade.
*Vanda Minini é bióloga, pedagoga, mestre em psicologia escolar (PUCCAMP) e doutora em educação (Psicologia da Educação- PUCSP). Professora de educação infantil, ensino fundamental e superior. Coordenadora do Curso de Pedagogia.
Leia também:
Assista ao Papo de Mãe sobre ecologia e ao Papo sobre Pedagogia em casa: