O que você cultiva na sua família reflete em todas as pessoas, inclusive em quem você nem conhece. Atenção aos hábitos individuais
Mariana Wechsler* Publicado em 29/04/2022, às 11h59
Esse últimos dias eu tenho me lembrado tanto de um discurso do Obama, ex Presidente dos Estados Unidos, que ele fez numa convenção há quase dois anos atrás. E muito do que ele falou tem relação com o que quero compartilhar hoje.
O mundo está passando por um momento de inflexão, de ruptura de um movimento de democratização político e social que começou há alguns anos, buscando retornar aos credos e comportamentos de um passado sombrio que não podemos permitir que retorne.
Tudo o que nossos antepassados plantaram, cultivaram, nós estamos colhendo hoje. Como toda colheita, se pararmos de plantar, se pararmos de cultivar o que foi conquistado, as gerações futuras colherão outros frutos ou não colherão mais nada.
Obama compartilhou um dos últimos momentos que teve com John Lewis, um de seus maiores ídolos e mentor. John era dos dos poucos políticos vivos que participaram dos movimentos civis nos Estados Unidos, tendo lutado ao lado de Martin Luther King.
John disse que a primeira vez que encontrou com Obama dentro da Salão Oval, a sala da Presidência, ele chorou de emoção. Obama ficou surpreso ao ver o seu maior ídolo chorando ao vê-lo. John disse que nunca havia imaginado a possibilidade de ver ainda vivo um Presidente dos Estados Unidos preto.
John também lembrou que naquele mesmo dia, anos antes, ele estava sendo levado para a prisão por lutar pelos direitos civis e contra a segregação racial. E Obama conclui esse memória dizendo: o que nós fazemos hoje ecoa para todas as gerações seguintes.
Comportamentos dentro do ambiente familiar repercutem em todos os aspectos da sociedade. E tenha certeza que, o levantar convicto de uma pessoa é capaz de contagiar milhares, milhões de pessoas.
Imagina o que você pode fazer pela sua família, imagine qual família você quer ter, imagine quem você quer ser para o seu filho e filha. E seja!
Enxergar o efeito de um comportamento seu no seu filho e filha é muito difícil de se alcançar, porque pode ser muito difícil para você assumir uma responsabilidade.
Comportamentos mais evidentes são extremamente fáceis de ver, pois são escancarados. O preconceito racial, de gênero, de opção sexual é evidente, muito fácil de perceber. Está lá, basta querer ver e enfrentar.
Já comportamentos mais sutis são difíceis de se enxergar. Por exemplo, como você se relaciona com o dinheiro, com o sucesso, com relacionamentos conjugais, amizades, filhos etc.
Seja mais visível ou menos visível, um comportamento enraizado, um comportamento que foi e é alimentado constantemente, é realmente difícil de mudar.
Por isso a importância de você encontrar o seu momento emocional que criou um ponto de inflexão na sua vida e acabou determinando a base de um hábito seu – hábito nada mais é do que um comportamento repetido e alimentado por muito tempo que até acaba parecendo como se fosse parte de você, mas não é.
Preste atenção agora, isso é capaz de transformar a sua vida.
Ao longo do seu dia, tente reparar no seu comportamento e no comportamento do seu filho.
Gente, o que vou te ensinar agora, você pode aplicar em todos os aspectos da sua vida, com seu cônjuge, seu chefe, seu cliente, qualquer pessoa que você se relaciona.
E lembre-se, todo comportamento que se repete é um HÁBITO. E hábitos nocivos a sua felicidade precisam ser transformados em hábitos construtivos.
Antes de começar, acredite no seu potencial. Eu acredito plenamente na sua capacidade, mesmo sem te conhecer pessoalmente. Todas as pessoas possuem um poder incrível de transformação, basta se dedicar, basta colocar toda a sua energia nessa transformação positiva.
Comece a anotar todos os eventos desafiadores para você. Por exemplo, sua filha não come direito, ou seu filho grita e faz manha. Mas não anote o evento em si, anote os sentimentos que ocorreram antes e durante, e as memórias que vieram a tona.
O que você falou antes para o seu filho? Como era o seu comportamento? Estava dando atenção? Estava prestando atenção ao que seu filho queria falar? Qual era sua postura corporal na hora do seu filho comer. Anote tudo isso.
No próximo evento, faça a mesma coisa. Perceba como você está, o que está sentindo, qual memória que vem a tona na sua mente quando esse evento de conflito aparece, quais emoções aflorecem.
Vai chegar um ponto em que num conflito você vai conseguir parar para se observar, e isso será transformador para você. Se for preciso ficar em silêncio nesse momento fique. Preste muita atenção em você mesma. Crie um compromisso que você mostrará o melhor de você na sua resposta.
Sempre, sempre, sempre, preste atenção nos seus pensamentos, nas suas palavras e sua postura. Pensamentos, palavras e ações criam hábitos. Pensamentos, palavras e ações moldam o seu futuro.
Não jogue a responsabilidade do evento de conflito no outro. Não ache que a culpa do choro é da criança, ela só está manifestando uma emoção. Não se vitimize! Não queira ser uma vítima do seu destino e da sua condição como pai ou mãe.
Evite enfrentar um conflito com conceitos pre concebidos. Einstein já dizia que não há como solucionar um problema com os mesmos fundamentos que resultaram nesse problema.
Se você está com uma postura autoritária com seu filho, não espere que ele não seja autoritário com você! Quero água! Quero agora!
O budismo ensina que perante todo fato nós temos 3000 opções a escolher. 3000 formas como agir. Escolha a opção em que você seja feliz. Escolha a opção que você quer ser.
Isso requer coragem.
Você tem coragem?
Mude você primeiro. O seu ambiente mudará junto. Vamos juntas nessa jornada da sua mudança!
Vamos mudar a nós mesmas, vamos mudar o Brasil e o mundo. Conte comigo!
Seja sua melhor amiga em primeiro lugar, seja a pessoa Fantástica que você é.
*Mariana Wechsler, Educadora Parental, especialista em educação respeitosa, budista há mais de 34 anos e formada em Comunicação. Mãe de Lara, Anne e Gael. Escreve sobre parentalidade consciente, sobre os desafios da vida com pitadas de ensinamentos budistas e suas experiências morando fora do Brasil, longe de sua rede de apoio. Acredita que as mães precisam aprender a se cuidar e se abraçar, além de receberem apoio e carinho. Sempre diz: “Seja Fantástica! Seja sempre a sua melhor amiga”.