Com a pandemia do novo coronavírus, e a suspensão dos procedimentos, os tratamentos tiveram que ser revistos pela Sociedade Médica de Reprodução Assistida (SBRA) e, tanto pacientes quanto especialistas, tiveram que se adaptar a essa nova realidade.
Roberta Manreza Publicado em 07/07/2020, às 00h00 - Atualizado às 14h07
Especialista explica sobre os protocolos adotados para realização dos tratamentos de reprodução assistida
Estima-se que só no Brasil 8 milhões de pessoas tem problemas para engravidar naturalmente. Apesar desse número elevado, existem tratamentos que podem ajudar os casais inférteis. A infertilidade acomete cerca de 80 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). Entretanto, com a pandemia do novo coronavírus, e a suspensão dos procedimentos, os tratamentos tiveram que ser revistos pela Sociedade Médica de Reprodução Assistida (SBRA) e, tanto pacientes quanto especialistas, tiveram que se adaptar a essa nova realidade.
De acordo com o Dr. Alfonso Massaguer, ginecologista e especialista em reprodução assistida da Clínica MAE, o que a Sociedade Médica e a Anvisa recomendam é que haja uma avaliação criteriosa de cada paciente antes de dar início ao tratamento. Alguns casos são considerados de urgência, como os oncológicos e outros em que o adiamento possa causar um dano maior ou, até mesmo, infertilidade irreversível, seja pela idade avançada ou comprometimento da reserva ovariana. “Em todos os outros casos, como pacientes com endometriose grave e outros distúrbios devem sem avaliados pelo médico junto à paciente para conferir a necessidade, ou não, de início imediato do tratamento”, pondera.
Para o Dr. Alfonso Massaguer é importante entender também que o período em si traz muita ansiedade, angústia e frustração para aquelas mulheres que precisam postergar os planos de gravidez. Ele aponta que a infertilidade não se resume apenas na incapacidade da gestação, mas em toda a carga emocional que isso implica. “É preciso que os médicos tenham a sensibilidade de ajudar e orientar os pacientes da melhor forma, já que estamos passando por um momento de muitas incertezas”. afirma. Ainda na opinião do especialista, o isolamento social comprovadamente é a melhor maneira de diminuir o contágio do novo coronavírus. “Embora tenhamos retomado alguns atendimentos presenciais, obedecendo todas as normas de higiene e cuidados exigidos, continuamos com acompanhamento por telemedicina, ferramenta que auxilia o médico desde o primeiro contato com os pacientes e, certamente, veio para ficar”, completa.
Infertilidade e Tratamentos
De modo geral, as causas dessa patologia começam a ser investigadas após um período de tentativa de engravidar sem a utilização de qualquer método contraceptivo. Se a mulher tem mais de 35 anos, esse prazo é ainda menor, já que a partir dessa idade sua capacidade reprodutiva diminui consideravelmente. No entanto, é importante esclarecer que nem sempre a infertilidade é um problema exclusivamente feminino, em 20% dos casos, os fatores dizem respeito ao casal, 40% está relacionado ao homem e os outros 40% à mulher. Vários fatores podem ocasionar esse distúrbio. Nas mulheres, os mais comuns são a baixa reserva ovariana, endometriose, obstrução nas trompas, ovários policísticos, são alguns exemplos. Já nos homens a infertilidade está relacionada à distúrbios hormonais, infecções que podem comprometer os espermatozoides, varicocele, que é a dilatação das veias que drenam o sangue nos testículos, e a própria vasectomia. Pessoas com histórico de infertilidade na família ou que precisam fazer radioterapia ou quimioterapia também podem ter a perda da fertilidade.
As técnicas de reprodução assistida evoluíram consideravelmente desde o nascimento do 1o bebê de proveta, em 1978. Atualmente existem diversos tratamentos disponíveis, como indução da ovulação, inseminação artificial, fertilização in vitro (FIV), ovodação, congelamento de óvulos ou embriões (criopreservação) e outras técnicas. Ao longo dessas duas décadas, as taxas de sucesso da FIV, por exemplo, era estimada em cerca de 20%, atualmente as taxas de êxito do tratamento giram em torno de 50% a 60%.
*Sobre Dr. Alfonso Massaguer
É Médico pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) Ginecologista e Obstetra pelo Hospital das Clínicas e atua em Reprodução Humana há 18 anos. Dr Alfonso é diretor clínico da MAE (Medicina de Atendimento Especializado) especializada em reprodução assistida. Foi professor responsável pelo curso de reprodução humana da FMU por 6 anos. Membro da Federação Brasileira da Associação de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), das Sociedades Catalãs de Ginecologia e Obstetrícia e Americana de Reprodução Assistida (ASRM). Também é diretor técnico da Clínica Engravida, autor de vários capítulos de ginecologia, obstetrícia e reprodução humana em livros de medicina, com passagens em centros na Espanha e Canadá.