Primeiro, você era filha. Aí, teve de aprender a ser nora. E então, veio a gravidez. Pronto: você aprendeu a ser mãe, descobriu na sua mãe uma avó e na sua sogra outra. E tem de administrar todas essas relações entre tantas mulheres para que a família fique numa boa. Fácil? Nem sempre é.
Tudo começa ao entender e admitir que sua relação com elas vai mudar assim que você ficar grávida. Antes você era “só” a mulher do marido para a sua sogra, agora é mãe de um neto. E, com certeza, daqui para a frente vai reavaliar coisas que sua mãe fazia. Sim, mesmo que você pretenda pôr em prática tudo diferente do que ela fez, vai ter momentos em que vai se pegar repetindo alguns comportamentos. Afinal, foi o que você viu e tem como referência.
Os avós têm um papel importante na educação dos netos, mas não podem extrapolar os limites. E quem os define é você e o pai da criança. Participação em ultrassom, enxoval e consultas pediátricas podem estar dentro do aceitável, ou fora de questão. Não há certo e errado, e sim aquilo que funciona para o casal e que deve ficar claro para familiares. Um acordo que pode ser renovado conforme novas situações apareçam. “É importante que os pais assumam seu papel e que avós não queiram tirar o lugar deles. Isso só é possível com diálogo e regras pré-estabelecidas, mesmo quando não morarem juntos”, diz a psicóloga Cristina Brito, da Universidade Católica de Pernambuco, que estuda o tema “avós” há mais de 15 anos.
Enquanto as avós precisam aprender os limites da intromissão, cabe às mães respeitar que o papel das mais velhas é outro. “Se a mãe não deixa a avó ter o seu próprio jeito, desautoriza-a como educadora e a coloca num lugar indefinido: é babá dos netos? Extensão da filha?”, explica a terapeuta familiar Vivien Ponzoni. Claro que é você, mãe, que determina a rotina da criança e precisa ser a maior responsável pelos cuidados com os filhos, mas não custa reconhecer a experiência das avós.
Também vale dizer que a responsabilidade de tornar toda essa relação o mais harmônica possível não é só sua. O seu companheiro pode e deve ajudar nisso tudo, em especial com a própria mãe, sendo flexível e tomando o seu partido se o limite for ultrapassado. “Por a mulher estar mais fragilizada, muitas vezes é quem vai apontar a necessidade de ajuda ou a invasão. É importante que ela se dê o direito de se colocar sem culpa”, afirma a psicoterapeuta Natércia Tiba, coordenadora de grupos de “casais grávidos”.
Mantendo a distância
Quando já há um problema de relacionamento dentro família, muitas pessoas tendem a achar que a chegada de um bebê solucionará tudo. Segundo os especialistas ouvidos pela CRESCER, é comum haver atritos e rompimentos por mágoas, e uma maneira de revertê-los é a terapia familiar ou individual. “Quando a mulher teve boa relação com sua mãe no passado, a chegada do filho facilita uma reaproximação, pois é um momento em que precisa de apoio. Se a relação era de competição, rejeição e ciúmes, por exemplo, fica mais difícil confiar que mãe ou sogra possam ser parceiras”, diz a terapeuta Vivien Ponzoni.
Um amor doce
O pediatra Fábio Ancona, autor de Avós e Netos, Uma Forma Especial de Amar – Manual de Sobrevivência (Ed. Manole), conta que queixas sobre avós geralmente envolvem alimentação. “Aconselho às mães a repetir o que falo. Às vezes, peço para a avó ir ao consultório”, diz. A visita é válida, já que elas tendem a pensar que, se o que fizeram deu certo, não há por que não repetir. Na consulta, conhecem razões comprovadas cientificamente.
Outra alternativa é o curso de reciclagem. “O objetivo é atualizá-las com relação aos cuidados básicos com o bebê e mostrar qual o espaço das avós dentro da família hoje”, diz Marli Kondo, coordenadora do Espaço Nascer e Criando Arte Bebê, de São Paulo.
Se uma avó, distante ou próxima, quiser extrapolar demais no direito de quebrar regras ou interferir, você vai precisar fazer uma escolha. Ficar quieta e relevar é uma alternativa, mas que costuma funcionar só no curto prazo. O melhor mesmo é falar desde que de maneira gentil. Como toda relação, a que envolve mães e avós deve ter certa “etiqueta”, mesmo que seja difícil mantê-la. “Quando há intimidade, você corre o risco de achar que pode passar do limite”, diz Ana Vaz, consultora de etiqueta e mãe de três filhos. Ana explica que a chamada “mentira social” pode ser válida para as mães também: não diga que não quer ajuda, mas a direcione para onde não incomoda, delegando tarefas.
E você deve já ter se pegado pensando que sua mãe tinha razão ao dizer que, “quando você tiver filhos, vai me entender”. Mas não precisa esperar se tornar avó para compreender como elas se sentem em relação a você e a seus filhos. Que tal tentar agora?
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