Mariana Kotscho Publicado em 25/11/2020, às 00h00 - Atualizado às 21h05
Morreu Diego Armando Maradona, ídolo do futebol. As redes sociais explodiram de declarações de amor, inclusive de homens barbados, que não costumam expor seus sentimentos desta forma. Alguns ressaltavam que é uma grande perda para o mundo do futebol, que ele fez maravilhas, trouxe alegrias para a Argentina, para os amantes do esporte, e que como ele jamais existiu. Parece que hoje o mundo chora.
Diego foi ídolo nos anos 80, um mundo completamente diferente daquele em que hoje vivemos. E por isso me causa espanto, apesar de morar na Argentina há tanto tempo e reconhecer o amor que ele desperta no povo, ver tanta gente comovida por sua morte em pleno 2020. É possível amar Diego somente pelo seu futebol e ignorar as diversas vezes que ele não reconheceu um filho? É possível fazer vistas grossas para a maneira como ele tratou suas mulheres, e seu jeito violento nas entrevistas e aparições públicas? Pode mesmo ser considerado um herói um jovem que fez gols mas que falhou como ser humano?
Me causa estranheza ver feministas, educadores, sociólogos, jornalistas, e outras pessoas que trabalham na construção de um mundo melhor fazendo declarações de amor ao jogador ignorando o homem. Sinto que como sociedade estamos longe de atingir um equilíbrio, onde o futebol receba a atenção que um esporte deveria receber, nem mais nem menos. Onde um clube antes de contratar um jogador leve em consideração se esse fazedor de gols foi denunciado por abuso sexual, ou se até mesmo cumpre pena por ter matado sua ex mulher.
Me preocupa que nossos filhos, vendo Diego ser idolatrado, acreditem que fazer gols supera qualquer outro comportamento. Me preocupa que a sociedade siga criando grandes jogadores e homens violentos. Diego não será o primeiro nem o único. Conhecemos bem como esses meninos que saem de lugares pobres, são levados a clubes, e ali fechados, sem a contenção necessária, devem cumprir metas altíssimas de rendimento para quem sabe proporcionar um futuro mais decente a seus familiares.
Hoje na hora do jantar direi a meus filhos: morreu Diego, acabou a vida de um homem que fez muitos gols, mas que não merece ser lembrado como um herói, pois falhou brutalmente em questões essenciais. Futebol é entretenimento e não deveria merecer tanto espaço como aquele que a sociedade lhe dá. Lutemos para viver num mundo onde professores sejam valorizados e jogadores de futebol tenham a chance de aprender com esses professores. Porque o que faltou a Diego, e o que falta a muitos dos jogadores, é uma sociedade que os proteja, que os eduque, e que não esteja somente preocupada em quantos milhões eles vão gerar. Diego mais que herói foi uma vítima.