A recomendação pediátrica (minha com certeza), baseada em evidências, é que aleitamento (que é) materno deve seguir até quando a mãe e o bebê desejarem.
Roberta Manreza Publicado em 30/11/2020, às 00h00 - Atualizado em 03/12/2020, às 08h45
Amamentação prolongada: Isso existe? Ainda sai leite?
Somos mamíferos.
E uma das características que nos coloca nesse grupo é que produzimos leite.
Uau. De onde veio isso?
“Mamíferos são animais vertebrados, pertencentes à classe Mammalia, que se destacam pela presença de pelos e pela produção de leite. Atualmente existem mais de 5.300 espécies de mamíferos conhecidas, sendo o ser humano uma dessas.”
https://escolakids.uol.com.br/ciencias/mamiferos.htm
E daí?
Os mamíferos mamam o leite de suas mães. O ato de amamentar em uma “cria humana” se relaciona, de alguma forma, com a amamentação em cada uma das outras espécies.
O bebê elefante mama exclusivo até os 4 meses e mantêm essa “mania” até os 5 anos. O macaquinho mama na sua mãe até o nascimento dos seus dentes permanentes (2ª dentição). O filhote da baleia mama o dia todo (livre-demanda), quase 100 litros de leite por dia, por um ano. O bebê canguru nasce bem pequeno e vive no marsúpio da mamãe até cerca de 8 meses, como se fosse uma “gravidez fora da barriga” (exterogestação). E depois que ele sai de lá, ele volta, de vez em quando, para dar uma “mamadinha” ainda (Leia com seus filhos – É MAMÍFERO QUE FALA, NÉ?).
As pesquisas levaram os estudiosos e a Organização Mundial de Saúde (OMS) a definirem uma recomendação para todas as crianças, de todos os lugares, de qualquer classe sócio-econômica-cultural:
ALEITAMENTO MATERNO EXCLUSIVO, DESDE A SALA DE PARTO ATÉ 6 MESES DE IDADE, COMPLEMENTADO ENTÃO COM ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL ATÉ DOIS ANOS OU MAIS.
Durante a história, através de culturas e sociedades diferentes, o “habito” da amamentação tem se modificado e tem gerado muitas dúvidas e controvérsias.
– Nossa!!! Ele tem 3 anos e ainda mama?
– Ele já não é grandinho para mamar? Ele já anda.
– Vai ficar viciado por mamar tanto tempo assim e pode criar problemas psicológicos na criança, no futuro.
E duas das mais incríveis:
– Escuta. Ainda sai leite??????????
– Depois de um ano (ou dois) seu leite não alimenta mais. Ele vira água. Pra que continuar?
Oi? Sério?
As informações e os estudos (não vou dizer todos porque não li todos, mas não fui apresentado a nenhum que diga o contrário) apontam para os benefícios do aleitamento materno para o bebê, para a mãe e para o meio ambiente.
Partindo dessas informações, o que significa amamentação prolongada? Como ela é definida?
Pelo tempo? O que e quem define esse tempo? Pela idade da criança? Por ter dentes? Pelo palpite dos vizinhos?
A “decisão informada” sobre amamentação (se, quando, como, até quando, onde) sempre foi, é, deve ser e será da mãe, sem julgamentos.
O leite materno é um alimento “vivo”, que muda do começo ao final da mamada, da manhã para noite e para madrugada, semana a semana, mês a mês e oferece ao bebê tudo o que o leite pode fornecer e o que ele (o bebê) pode necessitar.
Anticorpos estão sempre presentes, independente do tempo de amamentação.
Leite de mães de prematuros são diferentes dos de mães de bebês que nascem no tempo certo, porque suas necessidades são diferentes.
Quanto mais tempo uma mãe amamenta (somados todos os tempos que ela amamentou, um ou vários filhos), mais protegida ela fica contra câncer de mama, de ovários e diabetes tipo 2.
A recomendação pediátrica (minha com certeza), baseada em evidências, é que aleitamento (que é) materno deve seguir até quando a mãe e o bebê desejarem. E os profissionais que atuam na área materno-infantil devem fazer o possível para que cada binômio mãe-bebê siga seu caminho até o desmame natural.
Tudo se encaixa. A natureza é sábia. Basta respeitar.
Não é o tempo que tudo cura?
Então. Que tal dar tempo ao tempo, e à mãe, e ao bebê para desfrutarem, juntos, de cada segundo dessa “viagem”, rumo … rumo… à vida?
*Dr. Moises Chencinski , pediatra e homeopata.
Presidente do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo (2016 / 2019 – 2019 / 2021).
Membro do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria (2016 / 2019 – 2019 / 2021).
Autor dos livros HOMEOPATIA mais simples que parece, GERAR E NASCER um canto de amor e aconchego, É MAMÍFERO QUE FALA, NÉ? e Dicionário Amamentês-Português
Editor do Blog Pediatra Orienta da Sociedade de Pediatria de São Paulo.
Criador do Movimento Eu Apoio leite Materno.