A enfermeira materna Daniela Souza dá detalhes sobre a profissão e a importância do enfermeiro antes e depois do parto
Maria Cunha* Publicado em 20/03/2022, às 10h00
Daniela Souza, 40, é enfermeira, especialista em bebês e crianças. Atuando na área desde 2007, a profissional começou como técnica de enfermagem em hospitais, especificamente na parte de materno-infantil. Hoje, a profissional tem o seu próprio consultório e atua em um setor específico, e ainda pouco explorado, da profissão: é enfermeira materna e dá consultorias.
”Sempre trabalhei na UTI neonatal, no centro obstétrico, no berçário e na maternidade, e eu geralmente falo que eu fiz o inverso: comecei a trabalhar com as crianças mais enfermas. Então, eu desenvolvi aquele lado que é mais ciência, mais racional, mais cumprimento de protocolo, para a gente conseguir com que a criança tenha uma reabilitação mais harmoniosa e continuarmos os cuidados na maternidade“.
Apaixonada pela profissão, Daniela decidiu fazer a graduação em enfermagem, onde tinha o ensino focado e dentro do próprio hospital.
“A experiência vem realmente do hospital. Não dá para a gente fugir, não dá para pular etapas. E, com isso, a enfermagem vem no movimento de uma transição do intra-hospitalar para fora, o empreender na enfermagem”, conta a Enfermeira.
Segundo ela, é muito comum falarmos do empreendedor achando que é aquela pessoa que tem um comércio, uma loja ou uma empresa, mas não. Em sua opinião, o empreendedorismo deve ser desenvolvido já na escola, para quando começarmos a trabalhar, independente da área, seja possível empreender dentro dela, inovando, levando projetos e fazendo melhorias.
“Para se diferenciar realmente do todo, precisa empreender dentro da nossa área, mostrar o que de fato a nossa profissão agrega para a gente ter um diferencial. E comigo não foi diferente, porque desde que eu trabalhei na área hospitalar, eu sempre gostei muito de inovar, de fazer projetos, e ter uma visão de melhoria dentro a qualquer tipo de situação”, explica Daniela Souza.
Com essa bagagem, sempre na maternidade infantil, a Enfermeira foi para um cargo de coordenação e foi atrás de uma pós-graduação.
“Fiz gestão de qualidade em saúde, onde me deu uma base muito boa em relação a processos, com o olhar de indicadores, gerenciamento, aonde a gente pudesse realmente trazer a visão do enfermeiro, com o seu conhecimento, mas com a sua ciência, de uma forma que ele pudesse realmente gerenciar, implementar e corrigir as não conformidades, e melhorar toda sua área dentro da sua atuação”.
Passados alguns anos, Daniela virou mãe e a maternidade trouxe mudanças internas em sua vida. Ela se reconheceu em um novo papel, essencial para que parte sua, a racionalidade em cima do trabalho, cedesse lugar para outros sentimentos, como a sensibilidade.
"Em 2019, eu saí do meu emprego e aí eu falei: Agora, eu vou ficar com meus filhos, e as coisas foram aparecendo, insights. Eu falei: Bom, eu sempre trabalhei na área hospitalar, o que eu posso estar empreendendo como enfermeira, especialista em bebês, com um campo que está crescendo mais que é o atendimento realmente fora, no ambiente de home care, aquele ambiente da casa? Então, eu agreguei o que eu tinha de habilidade, o que eu gostava de fazer, que eu fazia com prazer, dentro do meu conhecimento", relata.
Para ela, cuidar das mães dos bebês é algo que traz um prazer muito grande e muito gratificante como profissional e como pessoa. A Enfermeira também é enfática ao dizer que falaria 24 horas sobre temas como esse, sobre os desafios da profissão, e sobre onde a enfermagem, de fato, consegue atuar.
"O enfermeiro é de uma magnitude muito grande. A gente está desde o nascimento até o último suspiro. E aí, quando a gente fala do cuidado materno-infantil, a importância dessa enfermeira, a gente fala desde a gravidez. Então, a gente tem as enfermeiras obstetrizes e as enfermeiras neonatologistas, que fazem toda essa continuidade com neonatologista após o nascimento". (Daniela Souza)
A profissional ainda comenta que a enfermeira irá cuidar das mães como um todo, o que começa na gravidez. É durante a gestação que o profissional tem um papel primordial com a comunicação, com a prevenção e com quebra de tabus e crenças, frente a qualquer tipo de situação que envolva o novo, que é o gerar uma vida, o parto, a amamentação e seus desafios.
"Tudo isso a gente já vai fazendo um trabalho na gravidez, para que ela consiga informações gradativas para absorver, interpretar, digerir, consolidar e colocar em prática, porque senão fica muita informação. Elas se preparam muito para o parto e acabam esquecendo de se preparar para o depois".
A presença de um novo um bebê em casa e o seu comportamento é outro fator que precisa ser entendido, visto que é um bebê individual e que tem os seus comportamentos. Assim, a Enfermeira explica que por mais que haja tabelas sobre crescimento, desenvolvimento e sono, ninguém segue tabela, nós somos indivíduos únicos, e é aí que entra o papel do enfermeiro, fundamental na gravidez e durante o parto.
"Tem um acompanhamento do parto, a parte psicológica, emocional, de cuidado, da primeira hora de vida, do aleitamento materno. O enfermeiro está ali para apoiar aquela mãe, ajudar a posicionar aquele bebê, porque ele tem esse conhecimento técnico e científico de interpretar e entender se a mãe tem condições de saúde naquele momento, porque não adianta a mãe não ter e posicionar o bebê de uma forma inadequada, vai ocasionar fissuras, machucar ali naquele primeiro contato. A mamãe tem uma experiência não tão boa e isso acaba impactando nos demais dias de cuidado e vida para o bebê", conta a enfermeira materna.
A partir disso, as mães, após o nascimento do bebê, vão continuar nos cuidados, na enfermaria, no hospital geralmente por dois dias, no máximo três, dependendo muito de cada hospital. Durante todo o período, a enfermeira estará ali para dar toda orientação junto ao bebê: fazer o cuidado do banho, higiene umbilical, higiene da genitália. Muitas mães, inclusive, têm dúvidas de como devem proceder quando é uma menina.
Dessa forma, toda a parte de higienização e orientações de vacina é o enfermeiro da unidade, junto com a sua equipe, quem faz. Entretanto, Daniela reafirma que é no pós-parto onde os maiores desafios acontecem, onde ela mais atua.
"Aquele momento que a mãe chega em casa e fala: E agora o que eu faço? No hospital ainda tinha pessoas comigo, eu me sentia mais segura, e aqui em casa ele não para de chorar, eu estou com dor. Há realmente uma questão psicológica – eu estou sozinha ali com meu novo bebê – e a história começa a partir deste momento".
Assim, ter um enfermeiro nessa fase é fundamental para mãe, porque ele vai garantir que os diversos desafios iniciais sejam com um acompanhamento profissional, com alguém que vai realmente direcionar o cuidado para o caso, situação e para a estrutura de mama da saúde dela, sendo um aconselhamento mais assertivo.
"É dito muito: precisa amamentar, e isso gera na mulher uma pressão muito grande, porque é preciso primeiramente entender a saúde dessa mulher, se ela tem alguma comorbidade, como foi o parto. A gente atua no nosso exercício profissional com o nosso processo de enfermagem, a nossa consulta, e a anamnese faz parte disso. Então, com a anamnese do paciente, com todo o histórico, a gente consegue já perceber situações as quais vamos conseguir diagnosticar, prescrever um cuidado mais direcionado para essa mãe". (Daniela Souza)
É importante dizer que a profissional reforça que o bebê está envolvido desde o começo do processo. Ao falar da consulta pós-parto das mães, com foco no aleitamento, o bebê precisa também ser avaliado.
"O enfermeiro vai olhar o corpo do neném, se o bebê tem algum sinal de desidratação, ele observa a região orofacial do bebê, a boca, tudo. Ele avalia como um todo as questões fisiológicas, se está fazendo xixi, se não está. Qual é o ideal? O ideal não precisa ser o ideal, mas cada bebê vai se apresentar de alguma forma".
É importante saber diferenciar a consulta da consultoria. A consulta é um cuidado oferecido para mulher dentro do consultório. Já a consultoria é equivalente a uma rede inicial de apoio daquela mãe, pois envolve cuidados como reajuste de processo de amamentação, além de outros cuidados que favorecem a mãe já nas primeiras horas de nascimento do bebê, proporcionando uma melhor experiência materna.
“Quando essa mãe, na gravidez, procura uma consultoria, informação, ela ganha. Eu trabalho muito com a orientação, orientar já na gestação, e a gente garante um pós-parto bem mais tranquilo, com informação direcionada para aquela mãe, com a sua fisiologia, a sua anatomia e com o seu cenário familiar, porque você vai conseguir ter maior assertividade nessa experiência”, explica.
Na opinião de Daniela, é fato que mães que têm um enfermeiro nessa fase, ficam mais tranquilas e calmas, porque compreendem que o bebê não precisa, muitas vezes, seguir o padrão de todos. O enfermeiro consegue direcioná-la e ela consegue dar tempo para o seu bebê. Então, quando tem um profissional do lado, um especialista que é acostumado, que tem um conhecimento em cima disso, a família, a população só ganha.
“A gente vê isso na saúde pública. Na saúde primária dos hospitais, as unidades básicas têm algumas equipes que realizam alguns trabalhos de acompanhamento para prematuros e para alguns outros tipos de recém-nascidos, e tem ótimos resultados. A gente também traz para aquela população que é de plano de saúde, que não é do SUS, mas de convênio ou particular, e ela também precisa dessas orientações”, aponta a Enfermeira.
Em relação a valores, a enfermeira que desempenha esse tipo de consultoria tem uma média de preço que depende da região. Em uma cidade do interior, o valor é mais baixo, na capital, mais alto. Em média, o valor está entre R$400,00 e R$700,00.
“Também depende muito porque ser prematuro é uma questão, vai precisar de um acompanhamento mais complexo, mais visitas. O mesmo ocorre se são bebês gemelares”.
A Enfermeira também lembra que o serviço das consultorias só é possível se a população for educada para entender que o enfermeiro não é só aquele que está dentro do hospital, mas um profissional autônomo com toda a capacidade de abrir uma clínica, um consultório.
“As pessoas me conheciam como a enfermeira Daniela do hospital, da maternidade X, e quando eu comecei a trabalhar de forma autônoma começou muito a indicação. ‘Olha vai com a enfermeira Daniela porque ela tem uma experiência muito grande e tal’. Então começou assim, os médicos, pediatras e obstetras me indicando, porque já me conheciam no âmbito intra-hospitalar”.
Ela conta que, a partir disso, foi em busca de clientes por não indicação e se surpreendeu, porque as mães começaram a indicá-la. Foi isso que a fez perceber que há campo de trabalho, basta se posicionar como profissional, mostrar para a população a necessidade do serviço dentro daquela nova família.
“Na pandemia, o meu atendimento aumentou muito, muitas famílias começaram a me procurar, porque eu não estava no intra-hospitalar, no meio do caos do hospital, do vírus que ninguém sabia. As famílias queriam segurança. Então, por eu trabalhar com protocolos, eu ando paramentada, com touca, máscara, face shield, as famílias se sentiram bem mais seguras”, relata a enfermeira Daniela Souza.
Daniela conclui ao pontuar que ser mãe é algo maravilhoso e que se queremos uma sociedade saudável, daqui a 10, 20, 30 anos, precisamos olhar de uma forma de apoio para essas mães.
“Toda mãe é um ser iluminado pleno, então a gente já precisa fazer todo o acompanhamento com ela para ela ter uma experiência positiva e quem ganha é a população, a sociedade”.
*Maria Cunha é repórter do Papo de Mãe
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