Roberta Manreza Publicado em 04/09/2017, às 00h00 - Atualizado às 09h48
Por Dr. Carlo Crivellaro*, pediatra
Adotar uma criança é uma decisão que deve ser bem pensada e planejada. É preciso ter em mente que esta escolha é permanente, e que não deve haver nenhuma dúvida sobre a aceitação da criança, independentemente se o casal não pode ter filhos ou se já tem outros filhos.
É sempre possível que haja preconceito e/ou julgamento por parte da família e de amigos, ainda mais se o casal tiver condições fisiológicas de gerar seus próprios filhos. Mas a opção de adotar é única e exclusivamente do casal, e ninguém tem o direito de interferir nesta decisão. Até porque a adoção é um grande gesto de amor, se pensarmos quantas crianças foram abandonadas e merecem um lar!
A adoção foi efetivada! E agora?
A criança deve ser avaliada rotineiramente pelo pediatra. Nos casos em que não haja informações concretas sobre o pré-natal, alguns exames especiais deverão ser realizados. Dependendo da faixa de idade, o vínculo entre a criança e os pais pode demorar um pouco. Tente não comparar seu filho a outras crianças da mesma idade. É possível que ele tenha recebido menos estímulos e esteja se desenvolvendo mais devagar, mas nada que não possa ser recuperado. Converse com o pediatra para ver se há real motivo de preocupação.
Também não espere sentir um amor imediato, ou se sentir mãe/pai desde o primeiro instante. E a recíproca é verdadeira: não pense que a criança vai chegar dando beijos e sorrisos. Tanto para o casal como para a criança, é um cenário cheio de sentimentos contraditórios: felicidade, receio, ansiedade. Afinal, vocês são pessoas diferentes, e precisam de tempo para se conhecerem, mesmo em se tratando de um recém-nascido.
Fique o máximo de tempo que puder com seu filho. Pelo menos nas primeiras semanas, os pais devem ser os principais responsáveis pelos cuidados com a criança. Por mais que todo mundo queira receber o novo integrante da família, limite o número de visitas nos primeiros dias. É importante que a criança se ambiente primeiro com seus pais (e seu novo lar) para depois conhecer, aos poucos, o restante da família.
Já comece a criar rotinas para seu filho. Isso é fundamental para qualquer criança, mas para quem já passou por tantas mudanças inesperadas, o planejamento de uma rotina trará mais conforto e segurança.
Momentos ruins também poderão acontecer…
É compreensível que uma mãe adotiva duvide de seu instinto materno, principalmente se a criança já for maior. Isso pode ocorrer pelo fato de a mãe não ter vivenciado as etapas do recém-nascido. Ou o casal pode ter receio de que, quando crescer, o filho sinta vontade de procurar os pais biológicos, o que é natural, mesmo que ele seja amado e feliz com sua família adotiva. Sem contar com as incertezas em relação aos aspectos legais do processo de adoção.
Todas essas dúvidas são normais. Com o tempo, tanto a criança como os pais sentirão mais proximidade, intimidade e segurança. Uma boa dica é conversar com outros pais adotivos. Isso trará mais calma, pois vocês perceberão que determinadas situações são comuns em famílias cujos filhos são adotados.
Quando e como devo contar ao meu filho que ele é adotado?
Verdade e transparência são regras fundamentais quando se adota uma criança. A faixa de idade em que começam as perguntas ou dúvidas é no período pré-escolar (2 a 7 anos). O ideal é não demorar muito para contar e, quando for a hora, a conversa precisa ser em um momento tranquilo e da maneira mais simples possível, para que a criança não sinta tristeza ou qualquer outro tipo de sentimento ruim.
Explique que o fato de ser adotada não muda os sentimentos que os pais têm por ela. Mostre outros casos de adoção, incluindo aqueles que vocês conheceram. Apresente seu filho à família que também fez a adoção. Seria importante que ele conversasse com outras crianças adotadas e percebesse que a adoção foi um enorme ato de amor dos seus pais.
Obviamente que ela também terá curiosidade para saber qual a razão de seus pais biológicos terem a “abandonado”. Para que não seja algo traumático, o ideal é dizer que eles não tinham recursos para criar um filho, e justamente por o amarem tanto, preferiram doá-lo a uma família que pudesse dar as boas condições de vida que os pais biológicos jamais poderiam.
A verdade é que a adoção acaba assombrando os pais adotivos, que vivem com medo de serem rejeitados e até abandonados quando a verdade vem à tona. Normalmente, depois que a adoção é revelada, a família toda passa por um período necessário de acomodação das emoções.
A boa notícia é que, passada essa fase, os laços familiares se fortalecem, e a relação ganha mais amizade, amor e confiança. E a opinião de terapeutas, psicólogos e especialistas no assunto é praticamente unânime: a criança tem o direito de conhecer a história de sua vida, o mais cedo possível, de forma verdadeira e natural!
*Dr. Carlo Crivellaro*, Pediatra com Título de Especialista em Pediatria pela Sociedade Brasileira de Pediatria; Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria; e Membro da Highway to Health International Healthcare Community