Roberta Manreza Publicado em 24/07/2015, às 00h00 - Atualizado às 08h59
Realidade brasileira pode ganhar novos adeptos com adequação do estímulo da prática em educação infantil
Estudando o caminho percorrido pelos grandes mestres do xadrez no Brasil, pesquisadora da USP de Ribeirão Preto observou que eles começaram muito cedo, ainda na primeira infância, o contato com o tabuleiro, sob a influência direta da família.
Segunda modalidade esportiva mais praticada no mundo, o xadrez brasileiro possui “apenas um número seleto de enxadristas que detêm a titulação máxima correspondente ao alto rendimento neste esporte, o título de Grande Mestre (GM)”, informa Jéssica dos Anjos Januário (foto) em sua monografia de bacharelado em Educação Física e Esporte apresentada à Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto (EEFERP) da USP.
Orientada pelo professor Renato Francisco Rodrigues Marques, da EEFERP, Jéssica analisou entrevistas de onze enxadristas com o título de GM no país. Queria conhecer a trajetória que percorreram até alcançar o título, além do contexto sociocultural e pedagógico que permearam suas formações de sucesso.
Ao final dos estudos, observou que todos apresentavam forte influência familiar através da herança cultural pelo esporte; iniciação precoce, entre os dois e os onze anos de idade, “iniciação essa adequada através do sentido lúdico das atividades de aprendizagem em ambiente familiar capazes de proporcionar o gosto e a aquisição pelo prazer da prática ainda na infância”; diversidade de conteúdos e métodos de treinamentos. Observou também que todos apresentaram dificuldades semelhantes devido ao contexto brasileiro.
Incentivadora do xadrez como esporte nacional – Jéssica é jogadora de xadrez da equipe de Ribeirão Preto, atual campeã dos Jogos Regionais e Jogos Abertos do Interior de São Paulo, professora de xadrez de uma Escola de Educação Infantil e Ensino Fundamental de Ribeirão Preto e árbitra da Confederação Brasileira de Xadrez – a pesquisadora da USP acredita na escola como uma das principais responsáveis pelo crescimento “dos meios de acesso e manutenção da prática do xadrez” na realidade do Brasil.
O número de praticantes cresceu durante as últimas décadas, segundo ela, principalmente pelos incentivos públicos e privados direcionados ao xadrez escolar. Ela acredita que, além dos benefícios educacionais diretos que a prática é capaz de proporcionar (veja adiante), “a inserção do xadrez no ambiente escolar, em longo prazo, será capaz de formar gerações que terão a oportunidade e compartilhar a cultura específica desta modalidade”.
O contato inicial nos primeiros anos escolares, segundo Jéssica, pode oferecer chances de desenvolvimento do xadrez na idade adulta, conforme o sucesso observado nos casos dos Grandes Mestres brasileiros que estudou.
Mas avisa que apenas inserir o esporte na grade curricular não basta. É preciso, diz ela, saber quem, onde e com quais objetivos “estamos ensinando”. Como qualquer modalidade esportiva, a prática do xadrez, segundo Jéssica, deve estar contextualizada ao ambiente sociocultural que a insere, além, é lógico, de saber quais “os objetivos, as potencialidades, as limitações e significados apresentados pelos praticantes”.
Explica a pesquisadora que os métodos de ensino utilizados para a prática do xadrez nas escolas devem ser diferentes daqueles empregados em momentos de lazer e também dos métodos empregados em treinos de alto rendimento. E, também, devem ser adaptados a cada região do Brasil, para ficar de acordo com os valores próprios de seus habitantes, já que vivemos num país de dimensões continentais.
Benefícios do xadrez
A prática do esporte “estimula o pensamento, a execução e a fluidez do raciocínio lógico, desperta o espírito reflexivo e crítico, amplia a capacidade de tomada de decisões autônomas, instiga a imaginação e a versatilidade de elaboração de planos, potencializa habilidades como a paciência e a autoconfiança, demanda a elaboração de estratégias para a resolução de problemas, ativa a concentração e a memória, favorece o aprendizado de outras disciplinas, sobretudo a matemática, desenvolve capacidades sociais, afetivas e morais dos alunos, proporciona o respeito ao adversário através do espírito esportivo, dentre muitas outras.
Com tantos benefícios, antecipa Jéssica, “o desafio, por aqui, é despertar gerações que se aventurem pelo vasto universo das sessenta e quatro casas”!
O estudo de Jéssica recebeu menção honrosa durante o Sexto Congresso de Iniciação Científica USP-UNICAMP-UNESP e, em junho deste ano, a autora foi convidada para apresentar seus resultados, na conferênciaTrajetória Esportiva de Grandes Mestres Brasileiros: Aspectos Socioculturais e Pedagógicos no Campo Social do Xadrez e representando o estado de São Paulo no I Congresso Internacional de Xadrez ocorrido em Campo Novo do Parecis, Mato Grosso.
Para dar continuidade a suas pesquisas, Jéssica acabou de entrar para o curso de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP.
Mais informações: e-mail: [email protected]