Roberta Manreza Publicado em 20/08/2020, às 00h00 - Atualizado às 11h08
“A rotina conturbada imposta pelo confinamento, e outros fatores como hábitos irregulares, home-office, o medo da contaminação e a perda de amigos e parentes têm abalado o lado emocional das pessoas e vem causando quadros importantes de insônia”
Dormir é, uma das práticas humanas mais importantes para uma vida saudável. O sono é essencial para o descanso do corpo e da mente, sobretudo neste novo normal. Pessoas que dormem mal são mais propensas a contrair infecções virais, dentre outras doenças. Desfrutar de boas noites de sono durante a pandemia de covid-19 é muito importante para aumentar as defesas do organismo e manter a saúde da mente e do corpo em dia, mas dormir bem neste cenário tem sido uma grande dificuldade.
Estamos vivenciando situações de muito sofrimento e a psicologia possui um papel importante neste momento, enquanto ciência, para preservar a saúde mental das pessoas neste cenário desafiador, em que uma das queixas mais comuns para a busca dos atendimentos de psicoterapia tem sido a insônia. Muitas demandas estão surgindo para vencer este distúrbio do sono e o mais importante compreender os sinais do corpo e reconhecer a hora certa de procurar ajuda.
A insônia é um distúrbio do sono caracterizado pela dificuldade em adormecer e permanecer dormindo tempo suficiente para sentir descansado, prejudicando o início ou a constância do sono reparador, comprometendo consequentemente o desempenho das atividades diurnas. A privação do sono pode causar sérios problemas a saúde mental e física, aumentando os riscos de desenvolver transtornos psiquiátricos e outras complicações. Após uma noite mal dormida, a pessoa tem grande chances de apresentar baixa de humor, irritabilidade, sonolência excessiva, cansaço físico e mental, perda da criatividade, falta de energia, dificuldades nos relacionamentos, perda da produtividade no estudo e trabalho, agitação mental, entre outros problemas que impactam diretamente na qualidade de vida.
A insônia pode ser classificada como primária, quando é a principal doença, ou secundária, quando for sintoma de outra doença ou efeito colateral de alguma droga, ou sintoma de outro transtorno psiquiátrico. Essa dificuldade pode manifestar de formas distintas quanto também quanto à duração, pode ser classificada como ocasional, transitória, aguda ou até mesmo crônica e estar relacionada com a depressão, Alzheimer, abuso de substâncias; e o tratamento pode variar.
Segundo a Associação Brasileira do Sono 73 milhões de brasileiros sofrem de insônia, as mulheres são as mais afetadas, entre crianças e adolescentes é incomum. Os adultos jovens, entre 20 e 30 anos, e idosos, maiores de 65 anos, são os mais suscetíveis. Cerca de 1/3 das pessoas no mundo têm dificuldade para dormir.
O Ritmo circadiano ou ciclo circadiano (do latim circa de + diem dia) é nosso relógio biológico, que regula o metabolismo, os processos fisiológicos, o estado mental; com influência sobre a digestão, o controle da temperatura do organismo e o estado de vigília ou sono. O corpo se baseia no ciclo circadiano para secretar hormônios como o cortisol, hormônio do estresse, que regula nosso sono, e quando nos deitamos em horários diferentes, ou ficamos expostos a luz azul de aparelhos eletrônicos como celulares e computadores essa liberação pode ocorrer fora da hora e gerar distúrbios do sono, ansiedade, depressão, entre outros problemas. Pessoas que viajam lidam com fusos horários diferentes com frequência, que moram em locais com menor exposição de luz solar,
ou trabalham com turnos alternados têm maior risco de desenvolver distúrbios do ritmo circadiano.
A longo prazo, o desequilíbrio hormonal pode aumentar o risco de doenças cardíacas, obesidade e diabetes tipo 2, entre outras doenças. Outro hormônio importante na regulação do sono é a melatonina que também tem a função antioxidante e na reabilitação de neurônios atingidos pelo Mal de Alzheimer. Esse hormônio alcança seu pico máximo de produção quando estamos dormindo e a interrupção contínua da produção de melatonina pode levar à insônia crônica. Evitar substâncias que afetam o sono, manter um horário regular, se expor à luz natural do sol; tirar sonecas de dez a 15 minutos após o almoço; evitar luzes artificiais ao entardecer e durante a noite podem auxiliar o tratamento. Vale lembrar que algumas pessoas funcionam melhor de noite, outras durante o dia. É o chamado cronotipo, e cada um tem o seu, é importante descobrir o cronotipo para identificar o melhor horário de produtividade e organizar uma rotina mais saudável.
*Sobre Kênia Gondo
Kênia Gondo (CRP 87810) é psicóloga pós graduada em psicologia cognitivo comportamental. É empresária e fundadora e diretora da Vivapleno, Espaço de Saúde Mental e Desenvolvimento Humano Integrado – Psicologia Clínica e Organizacional.