Roberta Manreza Publicado em 16/12/2014, às 00h00 - Atualizado às 22h40
Tombos são mais frequentes em residências que não contam com recursos de segurança e quando os pais não ensinam a evitar os perigos
Por Vanessa Lima – Revista Crescer
Acidentes com crianças acontecem diariamente, em todos os lugares, mas, de acordo com uma pesquisa recente, realizada no Reino Unido e publicada na revista científica JAMA Pediatrics, não dá para colocar toda a responsabilidade nas mãos do destino ou no espírito desbravador infantil. Os cientistas envolvidos no estudo analisaram 672 casos de quedas infantis (de 0 a 4 anos) em quatro hospitais britânicos. Eles observaram que as ocorrências são 1,7 vezes mais frequentes em casas que não contam com recursos de segurança, como os pequenos portões que evitam a passagem de bebês para escadas ou outros ambientes perigosos. A probabilidade também é quase duas vezes maior nos casos em que os pais afirmam não ensinar aos filhos a não escalar os móveis. Os resultados indicam ainda que crianças na faixa dos 3 anos que gostam de subir em mobiliários têm 9 vezes mais chances de parar no pronto-socorro do que aquelas que preferem brincar com os pés no chão.No Brasil, o cenário também é preocupante. Os dados mais recentes divulgados pelo Ministério da Saúde registram que, em 2012, quase 60 mil crianças de 0 a 14 anos foram internadas vítimas de quedas. “Não dá para considerar que subir nos móveis é um problema da criança. Na verdade, é natural. É só um sinal de que ela é saudável, faz parte do desenvolvimento”, diz Alessandra Françoia, coordenadora nacional da ONG Criança Segura. “O que os pais e cuidadores devem fazer é garantir que isso aconteça em condições adequadas, em um ambiente seguro”, explica.
(Quase) à prova de quedas
As crianças são mesmo muito ativas e faz parte da natureza delas explorar os ambientes. “Ao mesmo tempo, elas não estão com as funções cognitivas completamente desenvolvidas. Por isso, não têm noção do perigo e das consequências”, explica Melina Blanco Amarins, psicóloga e psicopedagoga do Hospital Israelita Albert Einstein (SP). Protegê-las contra absolutamente tudo é impossível. No entanto, com alguns cuidados básicos, os pais conseguem diminuir os riscos. Agora, nas férias, período em que as crianças passam mais tempo em casa, o olhar deve ser redobrado.
Observe se há móveis leves, que podem virar sobre elas; afaste aqueles que ficam próximos da janela; utilize portões de segurança em escadas e na porta da cozinha, se for o caso; nunca deixe o bebê sozinho ao trocá-lo sobre uma cômoda ou qualquer outra peça de mobiliário alta (nem por um segundo, só para pegar uma fralda nova); coloque travas em gavetas com conteúdo perigoso ou naquelas que ficam no alto da estante, onde as crianças podem se apoiar para escalar. Dúvidas? Clique aqui e faça um teste para saber se a sua casa é realmente segura.
A principal dica é tentar olhar para os ambientes sob a perspectiva da criança, de acordo com a fase em que ela está. Assim, os pais conseguem ter uma ideia do que oferece mais riscos. “Observe também o comportamento do seu filho e o que ele gosta de fazer. Se é mais agitado, se costuma subir nos objetos, em quais atividades ele fica mais entretido”, indica Melina.
Mas, atenção, nada de desmontar a casa inteira. “É importante que a família retire peças mais perigosas do caminho, mas sem exageros, porque a criança precisa aprender a conviver no espaço onde ela mora. É preciso, sim, ensinar sobre os riscos e sobre oslimites“, alerta a psicóloga Teresa Bonumá, psicoterapeuta familiar (SP). Até porque ela estará presente na casa de outras pessoas, que podem não ter todo esse cuidado que você tem.
Educar é prevenir
Uma coisa é certa. Sua casa pode ser cheia de protetores de quinas, travas de gavetas, tapetes que amortecem possíveis quedas e tampas nas tomadas, mas, se você não educar seu filho, os riscos continuarão existindo. A prova disso também está nos resultados da pesquisa britânica, que foi feita por um grupo de especialistas filiados a diversas instituições, como as universidades de Nottingham e Newcastle. Para chegar aos números divulgados pelo estudo, os cientistas cruzaram questionários respondidos pelos pais das 672 crianças acidentadas com dados obtidos em um grupo de controle, formado por 2.600 crianças da mesma faixa etária que não levaram tombos. A maior parte dos pais das crianças que caíram afirmou não ensiná-las sobre os perigos de escalar os móveis.
“Mesmo que eles pareçam não entender, principalmente os menores de 2 anos, é preciso insistir nas repetições”, reforça Teresa. Nessa faixa etária, assimilar é difícil, mas os pais devem insistir, falar um ‘não’ firme, com expressão séria. Eles podem não compreender a verbalização, mas saberão que você não está brincando. Ainda de acordo com a psicoterapeuta, é importante fazer trocas e não encher a criança de negações o dia inteiro. “Caso contrário, ela poderá ficar estressada.” Uma sugestão é dizer ao seu filho que ele não pode subir na cadeira, mas pode brincar com aquele carrinho ou desenhar na lousa, por exemplo. Também vale ter um espaço na casa onde ele tenha mais liberdade e possa fazer tudo – ou quase tudo. “Com os apartamentos cada vez menores, muitos pais alegam que isso é difícil, mas não precisa ser um quarto específico. Pode ser um cantinho na área de serviço, na varanda, no quarto dele…”, sugere.
Outra dica é usar brincadeiras para facilitar a compreensão. “Você pode pegar uma boneca e, por meio de uma história, transmitir a mensagem de que, se ela subir na cadeira, pode cair e se machucar”, exemplifica Melina. “Nessa faixa etária, as crianças adoram fantasias, então, dá para aproveitar isso para ensinar”, indica.
Se, mesmo assim, o seu filho fizer algo perigoso ou sofrer uma queda em um momento de distração, explique o que é errado, mas não repreenda demais. É preciso ter paciência até que eles realmente aprendam.
Manter a calma é um exercício
Quando o assunto é criança, principalmente as menores de 4 anos, todo cuidado é pouco. Por mais atentos que os pais sejam, eles quase sempre encontram alguma maneira de se machucar. “Isso faz parte da infância. É assim que eles aprendem a cair, a não repetir os erros, a levantar”, indica Françoia.
Então, se o seu filho estiver nessa fase, você, inevitavelmente, irá lidar com algum tropeção dele pela frente. Embora seja quase impossível, é preciso se esforçar para manter a calma na hora em que ele se machucar. “O susto da mãe ou do pai pode piorar a situação. Muitas vezes, os responsáveis se apavoram tanto que não conseguem agir com clareza para resolver o problema e amparar a criança”, reforça Melina. Em alguns casos, o susto é maior que o machucado em si, e aí entra o controle dos pais para acalmar e explicar que não foi nada.
“Sempre indico aos pais e cuidadores que aprendam noções básicas de primeiros socorros”, lembra a coordenadora da ONG Criança Segura. Desta maneira, eles saberão exatamente como agir em caso de acidente e fica mais fácil manter a calma diante de uma situação de queda ou qualquer outro problema que envolva a criança. Com conhecimento, é possível identificar mais rápido se é necessário correr para o pronto-socorro (e qual é a maneira certa de transportar a vítima) ou se é algo contornável. Converse com o pediatra do seu filho sobre isso.
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Dica: Assista ao Papo de Mãe sobre Como prevenir acidentes nas férias: