Como os mais velhos, os recém-nascidos também podem apresentar problemas visuais. Conheça alguns distúrbios que impactam na saúde ocular do bebê
Dra. Marina Roizenblatt* Publicado em 24/11/2021, às 07h00
Como se não bastassem todas as preocupações que surgem com o nascimento de um bebê, também é importante manter a saúde ocular dele no radar. Neste contexto, vale a ressalva de que, assim como os adultos, os recém-nascidos também podem apresentar problemas visuais, alguns dos quais são inclusive particulares dessa faixa-etária. Estar cientes destas condições e ser capaz de reconhecer precocemente a presença de uma potencial patologia ocular em um bebê costuma permitir um tratamento precoce antes que a condição se agrave. A seguir, vamos discutir alguns sinais oculares que merecem atenção dentre os recém-nascidos.
Caso você percebaque um ou ambos os olhos do seu bebê estão esporadicamente desviado para dentro ou para fora, isso pode ser normal e apresentar uma resolução espontânea se ocorrer até os 2 meses de idade gestacional corrigida, período no qual a movimentação ocular ainda se da de modo descoordenado. Porém, se este estrabismo ocorrer de forma constante desde o nascimento ou se você continuar a notar um desvio ocular manifesto após a faixa etária dos 2 meses de idade, isso é um sinal que demanda o agendamento de uma consulta oftalmológica.
Uma situação que merece especial ressalva é o pseudoestrabismo, nome dado a falsa aparência de estrabismo que costuma decorrer de uma base nasal alargada, muito comum, por exemplo, em crianças de origem asiática. No pseudoestrabismo, ao se direcionar um feixe de luz na direção ocular, o reflexo luminoso deve cair no centro da pupila de ambos os olhosde modo simultâneo. Tal diferenciação entre o estrabismo e o pseudoestrabismo deve ser feita por um oftalmologista.
Outra queixa frequente nos consultórios oftalmológicos é a de uma lacrimejamento constante do recém-nascido, dissociado do momento em que está chorando.A principal causa para tal sintoma é a “obstrução da via lacrimal”. As lágrimas que hidratam a superfície ocular drenam por uma pequena abertura no canto do olho, de modo que o líquido entra em nosso nariz, onde é absorvido. Dá-se o nome de obstrução da via lacrimal quando esta via está totalmente ou parcialmente ocluída. Uma vez que a lágrima não tem mais por onde ser drenada, ela então causa um lacrimejamento constante.
Aproximadamente 5% dos bebês apresentam alguns sintomas de obstrução da via lacrimal e a causa principal é a persistência de uma membrana embrionária em uma das válvulas que compõe este caminho de drenagem das lágrimas. A obstrução da via lacrimal geralmente melhora sozinha em 96% dos casos durante o primeiro ano de vida. O oftalmologista pode, às vezes, recomendar a realização de uma massagem local a fim de acelerar a resolução do processo. Em raros casos, é indicado o tratamento cirúrgico.
E se eu perceber um reflexo branco no centro da pupila do meu bebê ao tirar uma fotografia dele? Bom, esse sinal possui o nome técnico de leucocoria e é algo que requer atenção! As causas de leucocoria são diversas, incluindo catarata congênita, descolamento de retina, anormalidades vasculares da retina e o retinoblastoma, tumor ocular maligno mais comum da infância. Frente a isso, se faz necessário uma busca imediata ao oftalmologista, que vai se encarregar de proceder com um bom exame oftalmológico,com uma história clínica detalhada, muitas vezes associado a exames auxiliares,a fim de se estabelecer a etiologia do reflexo ocular esbranquiçado.
Vale também uma ressalva aos bebês prematuros. Segundo a Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica, crianças que nascem com menos de 1500 gramas ou antes das 32 semanas de gestação apresentam um risco aumentado de apresentarem uma condição conhecida como “retinopatia da prematuridade (ROP)”. Este grupo de bebês deve ter suas pupilas dilatadas ainda na UTI neonatal, a fim de serem submetidos a um exame de fundo de olho a ser realizado por um oftalmologista experiente. Umatriagem eficaz e tratamento precoce, quando indicado, são os fatores mais importantes para se evitar perda de visão associada à ROP.
Por fim, algumas palavras sobre o “teste do reflexo vermelho” ou “teste do olhinho”. Trata-se é uma ferramenta de alta sensibilidade para o rastreamento de algumas alterações oculares com risco de cegueira e baixa visão. No entanto, é imprescindível que os pais e responsáveis saibam que o teste não substitui o exame oftalmológico completo que todo o bebê deve fazer logo nos primeiros seis meses de vida ou no máximo no primeiro ano de vida.
Em suma, é necessário atentar-se paraalguns sinais que podem sugerir que o seu bebê está apresentando um problema ocular, da mesma forma como é importante a conscientização quanto a achados inerentes do desenvolvimento visual e que não demandam maior preocupação. A fim de garantir tais esclarecimentos, é imprescindível a realização do exame oftalmológico completo nos primeiros meses de vida de seu bebê.
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A oftalmologista Marina Roizenblatt
*Dra. Marina Roizenblatt é médica oftalmologista especialista em retina cirúrgica. Doutora pela Universidade Federal de São Paulo. Postdoctoral research fellow pela Johns Hopkins University, EUA.